Independentemente do materialismo que lhe está associado, o Natal tem a bonita função de apelar à importância da união e do amor. Nesta época, as empresas promovem jantares de equipa e as famílias esforçam-se por se juntar, já que a realidade de muitas é terem os seus membros espalhados pelo mundo. Mas esta é também uma época desafiadora para muitos. Quem não conhece pessoas que não gostam do Natal? As expectativas sociais e a necessidade de nos aproximarmos da imagem idealizada do que deve ser uma família no Natal, podem intensificar sentimentos de solidão, ansiedade e depressão, especialmente para aqueles que convivem com doenças mentais.
A saúde mental é um direito humano fundamental, assim como o direito à igualdade e à não discriminação. No entanto, pessoas com doença mental ainda enfrentam estigmas e preconceitos, que dificultam o seu ajuste a determinados contextos familiares e profissionais, assim como o acesso a tratamentos adequados.
Durante as festividades, este estigma pode intensificar-se com comentários insensatos e expectativas irreais sobre como as pessoas se “deveriam comportar”. É fundamental lembrar que a saúde mental não é uma escolha, e que todos estamos suscetíveis de experimentar momentos de fragilidade. Se ninguém pede a uma pessoa com cancro que se “comporte” neste natal, então porque será que isto acontece com algumas pessoas que têm doenças do foro mental?
A empatia é a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e compreendermos os seus comportamentos, emoções e necessidades. Penso que este é um dos melhores presentes que podemos oferecer neste Natal. Ao praticarmos a empatia, estaremos com certeza a colaborar no combate ao estigma da doença mental. Ao oferecer apoio, uma escuta ativa, uma palavra de conforto ou um convite para passar tempo juntos/as podemos estar a fazer toda a diferença na vida de alguém que não está bem.
Fazer o mundo melhor está ao alcance de todos/as. Ao incluirmos pessoas com doenças mentais nas nossas celebrações, mostramos que elas fazem parte das nossas vidas, que há espaço para a diferença e que as valorizamos.
Neste Natal, vamos tentar ser mais solidários/as, vamos tentar ir além da contribuição para a Cruz Vermelha e estar mais presentes, telefonar para aquele/a amigo/a ou familiar que está a passar por um momento difícil, evitar as críticas e os julgamentos, que impedem tantos/as de serem eles/as próprios/as. Vamos dar espaço e valorizar quem quer expressar sentimentos e diferenças. E vamo-nos informar sobre as doenças mentais dos que nos são próximos, de forma a compreende-los melhor. Se percebemos que alguém precisa de ajuda profissional, vamos incentive-lo/la a procurar um/a profissional. E por fim, mas não menos importante, vamos cuidar de nós, pois essa é a nossa primeira responsabilidade! Lembre-se, só podemos dar o que temos, e se não tivermos saúde mental, não podemos cuidar e apoiar os outros como gostaríamos.
Neste Natal vamos celebrar a diversidade humana e acolher a todos/as independentemente da sua ascendência, género, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
Que este Natal seja uma oportunidade para celebrar a vida, a diversidade e a importância de cuidarmos uns dos outros.
Ao oferecer empatia e solidariedade, podemos construir um Natal mais justo e compassivo, onde todos se sintam acolhidos e valorizados.
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Joana Amen*
- Psicóloga Clínica e Vogal da Direção da Delegação Regional Açores da OPP