Jeremias Tavares é um professor aposentado da disciplina de EVT (Educação Visual e Tecnológica) e tem como hobby o artesanato.
O artesão sempre esteve ligado aos trabalhos manuais, pois a sua antiga profissão assim o exigia. No entanto, o artesão confessa que sempre teve “o gosto de fazer coisas” e que nas escolas por onde passou, montou diversos ateliers de cerâmica.
Apesar do seu “primeiro amor” ter sido a cerâmica, Jeremias Tavares foca-se, actualmente, na técnica Fusing (vidro fusão), a que o artesão lhe chama de “a arte de trabalhar o vidro”. Esta técnica consiste na junção de pedaços de vidro, através de um procedimento delicado que envolve altas temperaturas.
O artesão explicou que o vidro passa por um processo de “contracção e dilatação”, passando do estado sólido ao líquido e que, ao atingir o seu pico de cozedura, passa novamente de forma lenta para o estado sólido.
“Hoje já domino alguma técnica bastante completa. A cozedura é um processo muito delicado, porque as temperaturas têm de ser todas compatíveis com o vidro que nós estamos a trabalhar. Quando nós abrimos o forno, que tecnicamente se chama mufla, é que vamos ver o resultado final e a sua qualidade”, disse Jeremias.
Quanto à origem da inspiração para a criação das suas peças, o artesão revelou que a parte evolutiva do seu trabalho vem muitas vezes através das solicitações que as pessoas lhe fazem.
“Muitas vezes são desafios. Na arte de trabalhar o vidro, tal como em todas as outras, as coisas vão acontecendo. Até porque o vidro é uma caixinha de surpresas. É impossível fazer duas peças iguais. Nunca podemos dizer “isto vai sair como eu quero”. Quando sai bom, é óptimo, mas muitas vezes também temos decepções”.
Jeremias Tavares cria bijuteria, peças decorativas e utilitárias. Também realçou que tem parcerias com outros artesãos. Na época natalícia, as suas peças mais procuradas são os presépios, embora a bijuteria seja igualmente desejada como oferta de Natal.
“Eu tenho uma colecção variada que vai desde bijuteria, daquela mais prática, a joalharia, pois tenho uma parceria com um ourives. Ainda, tenho alguma mais sofisticada com fio de prata, portanto, nesta altura prendinhas de Natal não faltam. Tenho uma variante que são as peças decorativas e utilitárias que as pessoas por vezes também adquirem como oferta de Natal. Também tenho candeeiros, motivos regionais como os peixes e as caudas de baleia. Tenho uma panóplia de trabalhos que permite as pessoas escolherem opções para os mais variados destinos”, frisou.
O artesão declarou que prefere vender as suas peças em casa, pois sente que vender em espaços comerciais é demasiado impessoal.
“Faço um trabalho todo manual, são peças únicas. O espaço comercial é para um tipo de trabalho, que no meu entender, não é o meu. Gosto muito daquilo que faço. Não é um trabalho a sério, é um trabalho que eu tento fazer com a minha alma”, expressou.
Jeremias Tavares finalizou com a seguinte mensagem deixada aos nossos leitores: “Acho que de momento as pessoas estão um bocadinho desligadas do fazer e do saber fazer. As pessoas estão muito direccionadas para as novas tecnologias. Acho que era interessante e importante não se perder algumas tradições e costumes, e dar continuidade aos mesmos”.
por Nicole Bulhões