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Opiniões a terem conta

“O exemplo de CUBA deveria fazer refletir os decisores açorianos sobre o baixo nível de desenvolvimento humano e de bem-estar que se atinge, quando o turismo é o sector económico preponderante de uma região pequena como a nossa.”

“…erro clamoroso [foi] a construção do porto de S.Roque do Pico. Nos Açores, só se não houver outras alternativas é que se constroem portos comerciais na costa norte das ilhas.” 1

1.Retomei, há dias, a leitura de “Uma Aventura Corvina”, de onde extraí a citação.
Trata-se de uma narrativa muito interessante sobre o processo de construção dos aeródromos do Pico, São Jorge, Graciosa e Corvo; do envolvimento de vários organismos militares e governamentais na sua execução e do ambiente social e político insular vivido pelo autor naquelas ilhas – o Engenheiro Militar do Exército, reformado, Coronel José Carlos M.Cymbron, responsável pelas obras de vários aeródromos, nomeadamente, do Corvo.
Para surpresa minha, o Eng. José Cymbron publicou no último número do Semanário O DEVER 2 das Lajes do Pico, um artigo muito interessante sobre as potencialidades, vantagens e responsabilidades de o arquipélago manter e melhorar “pontos de contacto e ligação entre terra e o mar e vice-versa, o mais possível vivos e actuantes”.
O seu conhecimento técnico e prático adquirido através das intervenções realizadas em portos e portinhos na ilha do Pico confere-lhe credibilidade. Cymbron é um técnico reconhecido, conhecedor da realidade picoense e quando se pronuncia sobre a necessidade de “apropriar e manter operáveis alguns dos pequenos portos de pesca costeira”, bem como os que se dedicam à atividade marítimo-turística, deve ser tido em conta.
Dada a pertinência das suas sugestões julguei ser útil referi-las nesta crónica semanal. Mais não seja para dá-las a conhecer à opinião pública e às entidades governativas, autarquias locais e deputados para que as integrem ou não nas suas preocupações e compromissos eleitorais.
A primeira sugestão feita por Cymbron respeita à ampliação, em 60 metros, do Porto do Calhau da Piedade, na Ponta leste da Ilha.
“É um dos raros sítios dos Açores onde é possível obter facilmente um grau e protecção muito grande. A sua profundidade é relativamente pequena, o que torna a obra de custo não muito elevado, em relação aos benefícios que a curto prazo pode gerar”.
A partir dali, afirma Cymbron, poder-se-ia efectuar uma ligação ao porto do Topo em São Jorge e à marina de Angra, visando o desenvolvimento de atividades marítimo-turísticas.
Sobre a reparação do porto das Ribeiras, considera que “as obras têm sido infelizmente proteladas”, pelo que “convém atalhar a situação logo que possível para evitar males maiores”.
Nas suas “Deambulações Insulares V”, caminhando pelo sul da Ilha, J.Cymbron deixa algumas sugestões sobre “a magnificente baía das Lajes”, onde foram efectuadas obras de reparação do molhe de protecção costeira. O investimento, estimado em 37 milhões de euros, deve, em seu entender, ser rentabilizado, o que “implica a exploração de toda a potencialidade da bacia das Lajes”, construindo um contra-molhe a partir do Forte de Santa Catarina, para permitir “o aproveitamento do vasto pano de água” e a instalação de um centro náutico, “intensificando-se assim, a genuína maritimidade daquele lugar e daquelas gentes” num baixo investimento “de rendimento muito significativo”.
2.E já que falo de desenvolvimento económico, relevo a clarividência da mensagem de ano novo da Câmara do Comercio e Indústria de Angra do Heroísmo, apelando a que se evite que a alavancagem de o turismo não gere “um novo monociclo económico, que acabará por ser gerador de novos desequilíbrios sociais”.
Segundo o organismo representativo do empresariado terceirense, a melhor solução para o arquipélago passa por “outras três áreas estratégicas: a economia digital, cujo potencial permanece por explorar, a agro-pecuária e agro-indústria e a economia do mar”.
A lucidez e a frontalidade da análise da CCIAH vai ao ponto de afirmar: “Não podemos esquecer que o turismo se associa a territórios onde os índices de pobreza são elevados”.
O exemplo de CUBA deveria fazer refletir os decisores açorianos sobre o baixo nível de desenvolvimento humano e de bem-estar que se atinge, quando o turismo é o sector económico preponderante de uma região pequena como a nossa.
A inusitada e corajosa mensagem da CCIAH, tomando a dianteira de uma necessária e urgente reflexão sobre os riscos que corre o arquipélago, apelando ao Governo Regional para diversificar o sector económico, parte do pressuposto que o executivo carece de um abanão.
Essa é também a sensação que tem a opinião pública e publicada.
Os agentes políticos têm de focar-se mais na análise séria dos caminhos do desenvolvimento e deixar-se de alaridos sobre questões paroquiais e de lana-caprina.
Só desse modo os açorianos acreditam neles.
1 CYMBRON, José Carlos, “UMA AVENTURA CORVINA”. Ponta Delgada, 2016
2 Jornal O DEVER, 02-01-2025, pg 10

José Gabriel Ávila*

*Jornalista c.p.239 A
http://escritemdia.blogspot.com

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