Um relatório técnico do HDES, elaborado algumas semanas depois do incêndio no hospital, apontava a reabertura do Serviço de Urgência nas condições existentes a 3 de Maio (antes do incêndio) no prazo de duas a três semanas após reparações que durariam 60 dias, sabe o “Diário dos Açores”, com base em documentos a que tivemos acesso.
Trata-se de um relatório elaborado pelos Serviços de Instalações e Equipamentos, que os partidos da oposição já solicitaram, por requerimento parlamentar, ao Governo Regional, mas que que ainda não foi respondido.
Os técnicos afirmam que, à data do incêndio, o Serviço de Urgência apresentava “várias fragilidades” que seriam negativas para os doentes e seus acompanhantes, adiantando que teria de ser instalada ou relocalizada instalações eléctricas e de gases medicinais, num trabalho que poderia ser concluído em 60 dias.
Limpeza de filtros
no Bloco Operatório
Quanto ao Bloco Operatório e Serviço de Medicina Intensiva era necessária uma limpeza geral das condutas e substituição de filtros nos sistemas AVAC, como aliás foi referido na altura pelos responsáveis do HDES, seguindo-se a recolha de amostras para análise da qualidade do ar interior, cujo resultado os técnicos estimavam em 18 de Agosto.
Todas as reparações, desde a instalações eléctricas, mecânicas e reparações do edifício estavam calculadas em mais de 11 milhões de euros.
São estes relatórios que o Bloco de Esquerda diz já ter solicitado ao governo, nomeadamente o do Serviço de Instalações e Equipamentos do HDES – adiantando que, “segundo o ex-administrador António Vasco Viveiros, apontavam a possibilidade de reabertura total do edifício principal do hospital em Agosto de 2024 –, os relatórios das análises à qualidade do ar nas salas do bloco operatório – que foram utilizadas pelo governo como argumento para não reabrir, mas que de acordo com o ex-administrador mostram que a qualidade até tinha melhorado depois da substituição dos filtros após o incêndio – e também todos os documentos técnicos que contribuíram para a tomada de decisão de avançar para o hospital modular”.
BE exige relatórios
O deputado António Lima salienta que, até hoje, o governo nunca revelou qualquer relatório com a lista com os danos concretos provocados pelo incêndio em cada um dos serviços.
O ex-administrador do HDES, ouvido no parlamento a semana passada, afirmou que existem relatórios que indicam os danos existentes e que referem que era possível reabrir o hospital em agosto, refere o BE.
“Se foi possível em nove meses instalar todo o equipamento moderno no hospital modular, porque é que, em 4 anos, não foi possível fazer este investimento no hospital de Ponta Delgada, de Angra ou da Horta?”, questionou António Lima, que também atribui culpas aos anteriores governos do PS.
PS diz que tem documentos
Por sua vez, o PS diz ter em sua posse documentação que prova que o HDES poderia ter reaberto mais cedo.
Francisco César, nas Jornadas Parlamentares em S. Jorge, esta semana, disse que “com base na documentação a que o PS teve acesso e nas declarações do ex-administrador do HDES, por exemplo, ao nível das urgências, seria possível, no espaço de 60 dias a contar do dia 18 de Junho, abrir o atendimento ao público, nas condições prévias ao incêndio, acrescentando pequenas intervenções de conforto, conforme informação enviada para a tutela”.
Segundo o Presidente do PS/Açores, “não é admissível que a decisão de se avançar com a construção de um hospital modular, no valor de mais de 30 milhões de euros, nunca tenha sido justificada publicamente, tecnicamente e politicamente”.
“Durante todo este tempo, ouvimos engenheiros com reputação de décadas ao serviço da Região afirmar que o HDES poderia reabrir em poucos meses e que pouco ou nenhum investimento estaria a ser feito nessa infraestrutura”, alertou o socialista, para reiterar que a opção pelo hospital modular foi uma decisão tomada “ainda antes de apuradas as causas e as consequências do incêndio”.
Salientando que com esta opção o Governo Regional irá gastar mais do que o esperado, uma vez que “os cálculos iniciais estavam errados”, Francisco César alertou, ainda, que durante todo este tempo muitos atos médicos deixaram de ser praticados, “por opção de um Governo que, mesmo na ausência de presença, é quem responde perante os Açorianos”.