Para não dizerem que estamos sempre a malhar no mesmo, hoje apetece falar de duas boas notícias.
A primeira é o crescimento surpreendente do valor das exportações açorianas no ano passado, num registo que se coloca entre as três regiões do país que mais cresceram em termos de valor.
Considerando que Portugal Continental registou uma taxa de crescimento do valor exportado de apenas de 0,34%, o aumento dos Açores em 5,4% (159 milhões de euros) torna-se relevante e bastante animador para a nossa economia.
Muito interessante, também, que o segmento onde mais crescemos (89,2%) tenha sido em produtos de indústrias químicas ou de outras indústrias, o que não é muito comum nas nossas exportações tradicionais, ainda que tenham sido as exportações de animais vivos e produtos do reino animal a registar o maior valor: 102 milhões de euros.
Convém, agora, ficarmos atentos à guerra tarifária imposta por Donald Trump.
Nós estamos como no Sul da Europa, em que exportamos pouco para os EUA e o que exportamos são essencialmente produtos de “saudade”, mas considerando a nossa dimensão e o tecido empresarial açoriano, não deixa de ser significativo.
Precisamos trabalhar mais na paridade de regras bilaterais, para que haja uma noção precisa de que há equilíbrio de parte a parte, do que chorar pelo leite derramado.
Na defesa, onde certamente os EUA têm uma balança favorável, a Europa tem estado a dormir à sombra de medos do passado do nazismo.
É preciso, efectivamente, investir na defesa e usar este investimento para o desenvolvimento tecnológico para além das aplicações militares.
Há muita histeria à volta das políticas do Trump, mas elas têm uma razão de ser na perspectiva dele. Ele foi eleito para marcar a posição dos EUA e está a conseguir amedrontar os fracos líderes europeus.
Um dos empresários açorianos que mais exporta para os EUA é o dinâmico Eduardo Ferreira, da Fábrica Mulher de Capote, da Ribeira Grande, que nos manifestou natural preocupação com o provável aumento de taxas a países europeus.
Entrar no mercado americano, sobretudo no sector das bebidas, já é um problema, pelo elevado custo das taxas.
Aplicar mais uma taxa, da ordem dos dois dígitos, será “matar” a exportação de produtos açorianos para o mercado da saudade e não só.
Não há estatística sobre o que exportamos para os EUA, mas sabemos que, por exemplo, na área de produtos alimentares, exportamos cerca de 200 mil toneladas para países terceiros, sendo que 400 toneladas são o nosso apreciado queijo, não esquecendo os 70 milhões de euros que exportamos em conservas e preparados de peixe.
Aparecer, agora, no meio destes produtos tradicionais, segmentos novos de exportação, na área química, alguns de origem microbiana, é uma boa notícia e um motivo de alento para as novas gerações que estão a entrar na nossa economia.
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TURISMO DE SILÊNCIO – A outra boa notícia também tem a ver com um novo segmento de negócio e na área do turismo, o que mais tem crescido nos Açores.
Trata-se de uma notícia desenvolvida pela Euronews sobre uma nova tendência de viagens neste começo de 2025: o turismo silencioso!
Alguns países, como Itália e Turquia, estão a oferecer, com enorme sucesso, lugares recônditos, silenciosos, longe da balbúrdia das cidades, sem internet, telefone e televisão, “com quartos espartanos que imitam o estilo de vida monástico dos eremitas do passado, enquanto os jantares silenciosos – acompanhados apenas por cantos gregorianos – incentivam a introspecção. O retiro é ideal para os viajantes que querem escapar às distracções diárias e abraçar um modo de vida minimalista”.
Rezem as notícias que a capital da Suécia também está a abraçar o turismo tranquilo com o seu “Guia do Silêncio”, um mapa que destaca os locais serenos da cidade.
O guia apresenta 19 parques, incluindo 11 reservas naturais, com 65 trilhos para caminhadas, mergulhando na natureza florestal ou à beira dos lagos.
Ora, aqui está um excelente exemplo para muitas das nossas ilhas, onde (ainda) é possível promover um turismo deste tipo.
Para isso, convém preservar o que for possível, porque em muitos locais já não se consegue voltar atrás, como é o caso, emblemático, do ruidoso Vale das Furnas durante o Verão…
Osvaldo Cabral
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