A tristeza é uma emoção normal, experienciada por todos em algum momento. Desempenha uma função adaptativa na saúde psicológica, permitindo ao indivíduo processar perdas, ajudando na construção de um significado, facilitando o processo individual de introspeção e reflexão conduzindo a um ajuste emocional necessário ao processo de aceitação e superação.
Quando persiste no tempo, acompanhada de pensamentos disfuncionais e comportamentos desajustados prejudicando a concretização de rotinas diárias levando na maioria das vezes ao isolamento, é um sinal de alerta para um possível diagnóstico de perturbação depressiva.
Nas crianças são vários os fatores que podem contribuir para o desenvolvimento deste tipo de perturbação, no entanto vamos centrar-nos no impacto do uso das tecnologias como fator de risco para o desenvolvimento da depressão infantil.
Atualmente, assistimos a um acesso precoce, desmedido e frequente a dispositivos digitais com impacto negativo no desenvolvimento infantil. A exposição prolongada a ecrãs e ausência de supervisão, podem levar a um aumento dos níveis de cortisol com impacto ao nível do stress e ansiedade, associados ao desenvolvimento de perturbações depressivas.
As redes sociais, em particular, podem influenciar negativamente a autoimagem e a autoestima das crianças promovendo sentimentos de inadequação e insatisfação pessoal, levando a alterações ao nível da hormona serotonina associada ao bem-estar e equilíbrio emocional.
Além disso, a qualidade do sono pode ser afetada, uma vez que a luz azul emitida pelos ecrãs pode mitigar a produção de melatonina, resultando em padrões de sono irregulares e insónia, fator de risco para o desenvolvimento de estados depressivos.
A atividade física, essencial para a saúde psicológica, melhorando o humor e reduzindo níveis de stress através da libertação de endorfinas, é muitas vezes substituída por excesso de tempo passado em frente aos ecrãs contribuindo para a sedentarismo. A dopamina, conhecida hormona do prazer, é libertada pela exposição constante e desmedida aos ecrãs promovendo um ciclo vicioso. Poderão surgir problemas de comportamento, défice de atenção/concentração, dificuldades na aprendizagem, afetar negativamente o relacionamento familiar, problemas relacionais e de comunicação, bem como problemas de saúde física.
É importante, como adultos e agentes de educação, estarmos atentos e tomar consciência da necessidade de impor limites à utilização e supervisionar a exposição aos ecrãs em prol da saúde psicológica das nossas crianças.
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Carolina Costa *
- Psicóloga Clínica e da Saúde C.P. 487