Há pessoas que ao serem questionadas sobre o que sentem, respondem sempre com um vago “estou bem”, independentemente das circunstâncias. Outras, perante um filme comovente, mantêm-se impassíveis enquanto os demais se emocionam. Estes comportamentos, frequentemente confundidos com frieza, podem, na verdade, ser sinais de alexitimia, uma condição que dificulta a identificação e expressão das emoções.
O termo, de origem grega, significa “falta de palavras para as emoções” e descreve um fenómeno em que os sentimentos existem mas são inacessíveis para quem os experiência. Imagine a frustração de sentir algo intenso sem conseguir discernir se é tristeza, raiva ou ansiedade. Para muitos, as emoções surgem como um enigma, manifestando-se antes no corpo do que na mente, através de tensão muscular ou desconforto gastrointestinal. Em vez de expressar desânimo ou angústia, a pessoa pode apenas referir um mal-estar físico.
Além da dificuldade em compreender as próprias emoções, a alexitimia afeta também a perceção dos sentimentos alheios. Quem vive com esta condição tende a focar-se em factos e acontecimentos, com um pensamento mais lógico do que emocional. Expressões figuradas como “tenho o coração apertado” podem ser interpretadas de forma literal, sem que o seu verdadeiro significado seja compreendido.
As causas da alexitimia são diversas. Em alguns casos, pode estar relacionada com diferenças no funcionamento das áreas cerebrais responsáveis pelo processamento emocional. Noutros, surge como um mecanismo de defesa após experiências traumáticas, levando a um “desligamento” afetivo. É também comum em pessoas com perturbações do espetro do autismo, depressão ou perturbação de stress pós-traumático.
Embora não seja uma doença, a alexitimia pode ter um impacto significativo na vida social, profissional e afetiva. No entanto, há formas de minimizar os seus efeitos. A terapia, especialmente a cognitivo-comportamental, pode ajudar a desenvolver maior consciência emocional e estratégias para a expressão dos sentimentos. Práticas como mindfulness, escrita ou arteterapia também podem contribuir para desbloquear emoções e melhorar a comunicação interpessoal.
Se esta descrição lhe parece familiar, seja em si próprio ou em alguém próximo, talvez valha a pena refletir sobre a importância da inteligência emocional. Sentir pode ser um mistério, mas com paciência e autoconhecimento, é possível decifrar o enigma das emoções.
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Carlos Marcelo B. Vieira *
- Psicólogo na USI Corvo