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Deportações Maciças: Uma América dividida e uma economia enfraquecida

A deportação maciça de imigrantes indocumentados suscitou um debate significativo sobre o divisionismo na sociedade americana e o enfraquecimento da economia do país. Serão vastas as implicações sociais, económicas e culturais, com efeitos profundos nas famílias, nas empresas e no panorama económico em geral. Tal como escreveu o presidente Johnson na década de 1960: “A terra floresceu porque foi alimentada por tantas fontes – porque foi alimentada por tantas culturas, tradições e povos”.
A implementação de políticas draconianas exacerbará as tensões sociais existentes, conduzindo-nos, a uma América ainda mais dividida. O pânico da deportação permeará as comunidades de imigrantes, causando sofrimento psicológico e modificando a vida quotidiana de trabalhadores essenciais para a economia americana e o pavor nas crianças dessas famílias, quase todas nascidas nos EUA.
Todos os relatórios indicam que a intensificação das deportações levou a um medo generalizado entre as famílias imigrantes, que passam a evitar os espaços públicos, a manterem as crianças em casa depois de irem à escola e a não procurarem cuidados médicos devido à preocupação de se depararem com as autoridades da imigração. Este clima de temor isola as comunidades imigrantes e amplifica a desconfiança entre estas comunidades e as autoridades policiais, prejudicando os esforços de segurança pública americana.
Para além de ser um desumaníssimo processo, a nível económico, as deportações terão efeitos adversos em vários sectores, particularmente naqueles que dependem fortemente da mão de obra imigrante. Os trabalhadores sem documentos constituem uma parte significativa da força de trabalho em sectores como a agricultura, a construção, a hotelaria e os cuidados infantis. Por exemplo, cerca de 42% dos trabalhadores agrícolas dos EUA são indocumentados (muitos a trabalharem em explorações agrícolas de propriedade de açorianos e acor-descendentes). A sua remoção levará a uma grave escassez de mão de obra, causando interrupções na produção de alimentos e aumentando os preços.
O Conselho Americano de Imigração calcula que a deportação de um milhão de indivíduos por ano, durante uma década, custaria quase 1 bilião de dólares. Este valor engloba custos diretos como prisões, detenções, processos judiciais e transporte. Mais, o afastamento de milhões de trabalhadores resultaria numa diminuição da produção económica e das receitas fiscais. Estudo atrás de estudo sugerem que as deportações em massa levarão a uma redução do produto interno bruto (PIB) dos EUA em cerca de 2%, o que reflete um abrandamento significativo do crescimento económico.
As indústrias que dependem de trabalhadores sem documentos terão dificuldade em substituir a sua mão de obra. A súbita diminuição da oferta de mão de obra levará a um aumento dos custos laborais. Na agricultura, por exemplo, as explorações agrícolas podem ser forçadas a mecanizar prematuramente ou a encerrar devido à falta de mão de obra a preços acessíveis. A indústria da construção também enfrentará perturbações semelhantes, levando a atrasos e a um aumento dos custos dos projetos de habitação e de infraestruturas, particularmente grave nas zonas de Los Angeles que acabam de ser destruídas por fogos devastadores. A reconstrução sem esta mão de obra será praticamente impossível.
Não sejamos ingénuos, as consequências económicas da deportação maciça estender-se-ão para além das empresas individuais. As cidades e os estados com grandes populações de imigrantes sofrerão reduções nas receitas fiscais, afetando serviços públicos como a educação, os cuidados de saúde e as infraestruturas. É que ao contrário do que é dito, para dividir a sociedade americana, a vasta maioria dos imigrantes sem documentos pagam impostos, contribuem para a Segurança Social e para o sistema de saúde, Medicare. Apesar dos argumentos ilusórios que a deportação de trabalhadores indocumentados abrirá postos de trabalho para os americanos nativos, todos sabemos que muitos desses postos estão em sectores que os americanos não estão dispostos a preencher devido aos baixos salários e ao trabalho fisicamente exigente. Teremos, pois, um défice de mão de obra que prejudicará a produtividade e a expansão económica.
A política de deportação proposta por Donald Trump acarreta riscos substanciais de aprofundar as divisões sociais e infligir danos económicos. As separações de famílias, a desestabilização de muitas comunidades, o encerramento de empresas e as perturbações económicas, indicam-nos a necessidade de uma abordagem diferente. As políticas que fraturam as comunidades e enfraquecem a economia, devem ser substituídas por um verdadeiro debate nacional e uma reforma abrangente da imigração que forneça caminhos para o estatuto legal e integre os imigrantes na força de trabalho e na sociedade. Uma política de imigração humana e economicamente sólida beneficiará todos os americanos, garantindo estabilidade e crescimento a longo prazo para uma nação que sempre foi porto de abrigo para imigrantes de todo o mundo. Porque como disse o Presidente Barack Obama: “O que torna alguém americano não é apenas o sangue ou o nascimento, mas a fidelidade aos nossos princípios fundadores e a fé na ideia de que qualquer pessoa – de qualquer lugar – pode escrever o próximo capítulo da nossa história.

”Diniz Borges, nos EUA

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