O jornal Politico revelou uma lista de consulados que o novo departamento de Elon Musk quer cortar nas despesas dos Estados Unidos – e o de Ponta Delgada está incluido.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros diz que “não há qualquer indicação nesse sentido”.
O Governo português diz não ter “nenhum contacto” por parte dos Estados Unidos sobre um possível encerramento do consulado norte-americano em Ponta Delgada.
Questionado pela Rádio Renascença, o Ministério dos Negócios Estrangeiros adianta que não teve qualquer contacto com Washington, “para lá dos regulares”, no que respeita à Base das Lajes. “
Não existe, até ao momento, qualquer indicação nesse sentido”, refere em nota.
À Renascença, o gabinete da vice-presidência do Governo Regional dos Açores diz não ter informações relevantes sobre o assunto.
Na última Quinta-feira, o Politico avançou que o novo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pretende emagrecer as despesas norte-americanas com diplomatas e embaixadas, com Ponta Delgada a figurar na lista de potenciais consulados a terem ordem de encerramento.
Além do consulado dos Açores, podem ter ordem de fecho os edifícios de missão diplomática em Rennes, Lyon, Estrasburgo e Bordéus, em França; Dusseldorf, Leipzig, e Hamburgo, na Alemanha; Florença, em Itália; e Belo Horizonte, no Brasil.
Os cortes fazem parte do plano do novo Departamento de Eficiência Governamental, chefiado por Elon Musk, que tem como objetivo cortar dois biliões de dólares em gastos do Estado.
Contactada pela Renascença, fonte do Departamento de Estado apenas responde que “continua a avaliar a nossa postura global para garantir que estamos bem posicionados para enfrentar os desafios modernos em nome do povo americano”.
A Renascença questionou também a embaixada dos Estados Unidos em Lisboa que, até ao momento, não respondeu à solicitação.
Recorde-se que as relações oficiais dos Estados Unidos com os Açores começaram há 225 anos, quando o Presidente George Washington nomeou o primeiro cônsul oficial dos Estados Unidos, John Street, em 1795.
Segundo a embaixada dos Estados Unidos, o consulado do país em Ponta Delgada é o “continuamente operacional mais antigo do mundo”, mas este foi, numa primeira fase, localizado na ilha do Faial, com filiais em Ponta Delgada.
Os Estados Unidos e os Açores possuem uma longa relação, tendo os primeiros habitantes do arquipélago chegado ao país por via da baleação, no século XVIII, uma vez que baleeiras norte-americanas vinham recrutar no arquipélago homens com reputação de bons marinheiros.
Depois do vulcão dos Capelinhos, na ilha do Faial, em 1957, o então senador John Fitzgerald Kennedy e um colega italiano, John Pastore, fizeram passar uma emenda no Senado, denominado de ‘Azorean Refugee Act’, que permitiu a emigração de milhares de açorianos, também de outras ilhas, que aproveitaram a abertura. Neste momento, estima-se que existam 1,5 milhões de descendentes açorianos concentrados maioritariamente nos Estados de Massachusetts, Rhode Island e Califórnia.
Durante algum tempo, os Estados Unidos tiveram um agente consular na ilha das Flores, tendo, em 1917, todas as operações do consulado fixado-se em São Miguel. Após John Street ter sido nomeado cônsul na Horta, Thomas Hickling, um empresário jovem americano que se mudou para São Miguel, em 1769, foi nomeado vice-cônsul em Ponta Delgada, também em 1795.
Hickling deixou nos Açores lembranças e histórias que sobrevivem até hoje, sendo uma delas uma pedra com seu nome gravado, datada de 1770, que está situada perto de uma das piscinas vulcânicas do Vale das Furnas. O diplomata criou um palácio de verão que designou de “Yankee Hall”, nas Furnas, que se tornou a génese dos jardins do Hotel Terra Nostra.
O primeiro edifício do consulado em Ponta Delgada foi o antigo Hotel São Pedro.
Durante o século XIX, representar os Estados Unidos tornou-se uma tradição para a família Dabney, uma vez que três gerações daquela família serviu o país, até que partiu em 1892, dos Açores.