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Uma (des)calçadeira para todo o uso

Fevereiro 27, 2025

Tenho guardados alguns pequenos objetos que pertenciam ao meu pai: um escangalhado relógio de pulso, uma torneira de barril de vinho, um dente de cachalote e… uma calçadeira. Coisas que têm um certo valor sentimental para mim. Mostrei esta pequena coleção de relíquias ao neto Tiago e ele, dentro da inocência dos seus quatro anos, achou graça à calçadeira, não parou de fazer perguntas. Espantou-se quando expliquei que era feita de chifre de vaca e que era muito antiga. “É do tempo dos dinossauros?”, questionou, a querer ligar ao seu maior interesse atual.
Ele não sabe ainda amarrar os atacadores dos sapatos, penso que só usa daqueles que são fechados com uma tira de velcro. Quando a mãe o veio recorrer, teve de lhe mostrar que aprendera a usar a calçadeira, mesmo que não atinasse a pronunciar a palavra em português. “O pai do avô João tirou isto de uma vaca”, informou a mãe, todo orgulhoso da sua nova sapiência.
Eu não uso a calçadeira do meu pai, ela é muito mais velha do que eu, não a quero partir. Agora tenho três, modernas, de plástico, espalhadas por lugares estratégicos da casa, dão-me jeito quando tenho de mudar dos sapatos de usar na rua para os sapatos caseiros. Tolice de velho?
Talvez quem terá de tirar um curso na arte de usar calçadeiras é o nosso criminoso-presidente. Bem, abro aqui um parêntese: (Não sei se já repararam, mas em todas as crónicas deste Diário eu tento, pelo menos uma vez, mencionar e juntar os termos “criminoso” e “presidente”. Para que não caia no esquecimento. Fecho o parêntese). Contudo, parece-me que o dito cujo vai ter de pedir auxílio ao seu parceiro de desgraça, pessoa com experiência em usar técnicas modernas para inventar (ou apropriar-se?) produtos e serviços. É que, com a quantidade de “botas” diferentes que já calçaram, estou para ver como é que eles as vão descalçar todas. Por isso eu sugiro que montem uma fábrica de descalçadeiras!
Não sei qual o material que poderá ser adaptado para fabricar a enorme quantidade de descalçadeiras; muitos dos rancheiros já não deixam crescer os cornos das vacas e, na verdade, o novo objeto terá de obedecer a um desenho especial, pois a sua função será reverter o modo de uso das tradicionais calçadeiras, fazer com que os pés saiam das sujas botas onde foram metidos. Para já, por causa dos milhares de despedimentos forçados em diversas agências do governo, parece que a opinião pública pode ver com bons olhos se houver retrocesso nalgumas das decisões tomadas por Trump, muitas delas com a influência do seu braço direito. E depois vamos dando conta da hipocrisia de senadores e congressistas republicanos que apoiam e calçam as botas do trumpismo porque querem combater os desperdícios nos dinheiros públicos, mas fora dos seus Estados. Que se façam essas mudanças, mas nas casas dos outros, na minha casa não se mexe.
Todos nós já passámos por situações embaraçosas, em que nos vimos obrigados a retroceder e a pedir desculpa por atitudes ou ações em que nos precipitámos. Não me parece, e já o disse várias vezes, que este nosso senhor presidente seja capaz disso, de descer do burro abaixo e admitir que se enganou.
Ser soberbo, arrogante e insolente não são boas qualidades de quem é o líder do país e do mundo. Trump tem umas botas muito, muito grandes para descalçar

.João Bendito

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