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Ingestão de plásticos afecta cérebro das aves marinhas açorianas

A ingestão de plásticos nos oceanos por aves marinhas, também está a afectar as cagarras açorianas.
Um grupo de cientistas, a nível internacional, descobriu há poucos dias que pequenas aves marinhas com aspecto saudável podem já apresentar sinais de deterioração dos tecidos devido à ingestão de plásticos.
É uma das conclusões de um estudo da Science Advances, citado pelo jornal Público, que analisa a presença de “assinaturas moleculares” de 745 proteínas associadas à falência de órgãos e à neurodegeneração no sangue de uma espécie de cagarras selvagens (Ardenna carneipes).
“A ingestão de plástico por animais selvagens não é apenas um problema digestivo. As consequências para a saúde são de grande alcance, afectam todo o corpo e têm provavelmente grandes implicações na sua sobrevivência”, explica ao referido jornal Alix de Jersey, primeira autora do estudo e investigadora na Universidade da Tasmânia, na Austrália.
Os cientistas foram à ilha de Lord Howe, na Austrália, em Abril do ano passado, para estudarem cagarras juvenis que são conhecidas por consumirem grandes quantidades de plástico.
O objectivo era conhecer melhor os impactos invisíveis do consumo de plástico por crias de aves marinhas que, a olho nu, pareciam saudáveis e estavam prontas para iniciar uma longa migração de 7000 quilómetros, conta ainda o Público.
Durante o trabalho de campo na ilha de Lord Howe, os investigadores recolheram amostras de sangue e de plástico presente no interior do estômago das aves marinhas “bebés”.
O material hematológico recolhido foi enviado para o laboratório, onde os cientistas analisaram as proteínas presentes no sangue das crias.
As “assinaturas moleculares” encontradas durante esta análise proteómica forneceram informações acerca do estado de saúde das cagarras.
Os investigadores identificaram proteínas a circular no sangue que indicam degradação celular, deterioração do revestimento do estômago e neurodegeneração.
Estas descobertas sugerem que a poluição plástica pode prejudicar a vida selvagem a nível molecular, desgastando as paredes estomacais e infiltrando-se no corpo das aves.
A cientista da Universidade dos Açores, Yasmina Rodríguez, que não esteve envolvida no estudo da Science Advances, considera que o trabalho sugere que as métricas utilizadas para avaliar o estado da vida selvagem podem não oferecer um retrato preciso da saúde dos animais.
“Através da aplicação de técnicas médicas utilizadas para avaliar a saúde humana, o estudo demonstra que factores que usamos normalmente para avaliar os efeitos da ingestão de plásticos, como a condição corporal, podem não ser suficientes para determinarmos se há ou não impactos nas espécies”, afirma ao jornal Público Yasmina Rodríguez, investigadora do Instituto Okeanos da Universidade dos Açores.
Um estudo elaborado por Yasmina Rodríguez e colegas, publicado na revista científica Environment International em 2024, mostrava que mais de 90% das crias da ave marinha Calonectris borealis já apresentavam plástico no estômago ao deixar os ninhos, tanto em Portugal como em Espanha.
O artigo propunha o uso desta espécie de cagarro como um bioindicador da poluição plástica no Atlântico Norte.
A Calonectris borealis também pertence ao grupo das cagarras (ou cagarros, nos Açores), ou seja, é um “familiar próximo” da Ardenna carneipes, a espécie alvo do estudo da Science Advances.
Estas aves pertencem à ordem dos Procellariiformes, que, devido à morfologia do estômago, tende a acumular nessa cavidade digestiva.
Como as cagarras são incapazes de regurgitar matéria não digerida – ao contrário das gaivotas, por exemplo –, acumulam plásticos naquele órgão.
“Apesar de as cagarras em Portugal ingerirem menores concentrações e tamanhos mais pequenos de plástico do que a espécie estudada na Austrália, o número de plásticos ingeridos pelos juvenis que nascem em Portugal tem vindo aumentar ao longo dos anos. Este novo estudo vem demonstrar que as nossas aves também podem estar a vivenciar efeitos subletais nocivos causados pela ingestão de plásticos marinhos”, afirma a cientista àquele jornal.
O grupo de investigação de Yasmina Rodríguez também estudou o impacto dos polímeros no microbioma das cagarras dos Açores, confirmando que aquelas que ingeriram mais plásticos apresentavam um maior número de microrganismos patogénicos.
“Estas descobertas levam-nos a pensar que necessitamos de um maior investimento em ciência em Portugal e de medidas para combater a precariedade no sector. É fundamental também repensar as nossas escolhas e adoptarmos políticas concretas para reduzir o consumo de plástico”, defende a cientista da Universidade dos Açores.

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