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Diário da Ditadura – Casa roubada, tarifas à porta!

Havia uma pequena voz entre as minhas orelhas que me queria dizer qualquer coisa. Fiz um esforço, apertei os olhos, para melhor focar, talvez acrescentei mais umas linhas rugosas na testa e, finalmente, apercebi-me do que o meu cérebro me queria dizer: “Não te metas a discutir essa trapaça das tarifas. Não és economista”. Muito certo, não serei capaz de esgrimir argumentos de fundo sobre o assunto, mas sempre posso dizer qualquer coisa. Tarifas são usadas, quem sabe, desde que os homens inventaram o dinheiro ou outros métodos mais modernos de fazer pressão sobre outros grupos e outras nações. Ainda sou do tempo em que uma cesta de fruta que o avô “Rato” enviava da Graciosa no “Espírito Santo”, tinha de ir ao Piquete para pagar uns escudos, mesmo que fossem poucos… E não era uma troca comercial, era uma oferta entre membros da mesma família.
Portanto, esta guerra que o criminoso-presidente atirou ao mundo, deixa-me assim um pouco atordoado, para mais quando o homem orgulhosamente se vangloria que, de propósito, destroçou o Stock Market! É obra! Pessoalmente, não me afeta muito, não tenho investimentos no mercado; mas vejo a agonia de alguns, a adivinharem o penar que vem a caminho. Uma senhora que trabalha comigo, quase que chorava, quando ontem lia as notícias no telefone. Não o admitiu agora, mas sei que era muito orgulhosa no seu apoio a Trump, durante a campanha. E, acredito, não será a única pessoa nessas condições.
Este foi mais uma iniciativa do Trump que não devia surpreender ninguém, ele já o vinha a prometer há muito tempo. Como em muitas das outras desastrosas decisões, estávamos todos à espera que o homem tivesse um pouco de senso-comum, que alguém lhe roubasse as canetas de feltro que ele usa para rabiscar as ordens presidenciais. Por falar em roubar, uma das desculpas que o Trump traz a terreiro para encobrir o implementar das tarifas é que o mundo inteiro está a roubar a América, estão os países todos a abusar das trocas comerciais, a aproveitar-se da boamente dos americanos, que, nestas coisas de contratos comerciais, são uns santinhos inocentes. Sim, os americanos nunca exploraram minérios a preços de saldo noutros países e deixaram marcas ambientais difíceis de limpar; nunca compraram petróleo com negócios que lhe foram muito vantajosos; nunca as companhias americanas instalaram fábricas em países do terceiro mundo, para usarem mãos de obra a preço da uva mijona. Na visão de Trump, nós, os americanos, é que fomos sempre as vítimas, os roubados. E, claro, afirma ele ainda que a culpa disto tudo é da administração do Biden, que se deixou comer por tolo. Esqueceu-se o borra-botas do Trump que o acordo comercial ainda em exercício entre o México, o Canadá e os Estados Unidos foi assinado por ele, no seu primeiro mandato.
O que é por demais evidente, até para um economista de meia-tigela como eu, é que o artista tarifeiro abriu as portas a uma crise medonha, manufaturada por ele. Para além dos milhares de despedimentos provocados pelo DOGE, apanhamos agora com preços mais altos, escassez de produtos, maior taxa do desemprego. Uma crise a nível mundial que nos vai afetar a todos e por muito tempo.
Se ele fosse religioso, antes de ter acionado esta manobra, Trump devia ter-se aconselhado com um senhor padre, o mentor espiritual de uma das maiores freguesias da Terceira. A ele se atribuía uma estória que, por sinal, já ouvi contada de formas diferentes. Recebeu o pároco no confessionário um dos seus discípulos, trabalhador num dos clubes americanos da Base das Lages. Vinha confessar que ao contrário do que lhe dissera, que comprava pacotes de cigarros Marlboro para lhe oferecer, ele surripiava-os às escondidas.
O senhor padre, antevendo que o fornecimento dos cigarrinhos podia acabar, sossegou o paroquiano com poucas palavras: “Reza um Pai Nosso como penitência. Não te preocupes com ninharias, meu irmão. Roubar aos americanos não é pecado”!
Ámen!

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