O 6º Domingo Pascal, é contínua festa celebrativa de unidade eucarística do povo ilhéu, em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres! No quotidiano da vida, o homem caminha livremente na busca salutar e objetiva, rumando no tempo à montanha do Santuário do Senhor, para louvá-Lo, e reconciliar-se de suas faltas sociais.
O medo humano em sofrimento físico, transforma-se em fundamento teológico de virtudes na senda antropológica da vida, buscando na fé espiritual, a cura terapêutica física/corporal, que envolve a desalentada humanidade no desespero dador.
Ao som do canto e da promessa, novo cenário espiritual de ação interativa renasce numa aurora amanhecida de fé em animação, para seguir com o Senhor, o rumo da sua estrada em festa. A nossa cidade, amanhece vestida e ornamentada de alegria, e acolhe em seu redor a ilha inteira, e outros forasteiros oriundos de diversos lugares e espaços geográficos.
As ruas da cidade do Senhor, abrem-se em festa, mostrando o desusado colorido de impulso interior de um povo escolhido na fé, que de longe e no escuro da noite, fazem longo caminho peregrino. Cansados, e de forma ordeira sem atropelos, entra no santuário, o cortejo da primeira romagem matinal de fé, transportando em sua petição íntima, o(s) círio(s) da (s) promessa (s)numa prece espiritual carregada de fértil esperança de vida nova.
A Azáfama popular-cristã citadina, bem cedo prepara os artefactos moldes artísticos, que de forma geométrica e decorativa, embelezam as ruas de basalto empedradas, vestindo-as de esmerados tapetes de coloridas flores, e nas bermas dos seus canteiros, há perfumados ramos de tons verdes de esperança, que, pisados pelas pegadas dos transeuntes peregrinos na rota caminheira do Senhor, exalam um aromático incenso que se eleva em contínua oração e doação comum, em ação de graças.
A cidade na sua aurora, alastra a sua manifesta festividade ao cultuar o Senhor, não só como dispensador de bens e graças espirituais recebidas, mas também, como o Deus na história da salvação. A ilha, no vigor da madrugada dominical, canta a florida seiva pura, que alimenta a sementeira da vida de cada um de nós, que despertos e tímidos, depomos no olhar sofredor de Cristo, o pranto que se anuvia por promessa e zelo, em comungar a grande prece da fé, em manhãs de sábado e domingo, do Senhor.
A grande festividade, alimenta os que na solenidade do Senhor, pretendem em sinal da sua esmerada fé e crença-cristã, ou não, prosseguira secular tradição, para em tempo de peregrinação e compromisso, visionar no tempo, o sabor de cada momento vital, e sustentar na sua continuidade, a fidelidade, como sinal de essência espiritual no apego à vida humana, construindo uma visão nova, inspirada num sentimento alicerçado numa base religiosa-moral, no encontro de soluções de vida positiva e fiel.
Na promessa do tempo presente, há um sonoro cântico espiritual de convite orante aos caminheiros peregrinos. – Eu, seguirei o Senhor, e na sua estrada, caminharei; citação de, “Marco Frisina” neste oratório matinal de estrofes, que narram e mantêm uma manifesta atualidade na palavra e pensamento, onde a guerra e o sofrimento dos povos se acentuam, em cada tempo e momento.
1- Eu seguirei no caminho do amor, e darei ao mundo a vida! 2- Eu seguirei no caminho da dor, e a tua cruz nos salvará dos sofrimentos e angústias diárias. 3- Eu seguirei no caminho da alegria, e a tua luz, nos guiará direcionados no caminho da paz! Hoje, como outrora, com o sol que se levanta em cada manhã, a nossa voz ao Senhor se eleva, para que na sua graça, amanheça novo dia, porque os medos do corpo e da alma, são também atormentados em cada instante de tempos e lugares.
O justo olhar da misericórdia de Deus, transmite ao espiritual instinto da fé, um gesto humano inato de genufletir no duro chão de pedra vulcânica, fazendo avaliar a dor nos seus sensíveis joelhos e, em atitude de penitente orante, sinaliza a gratidão de homens e mulheres, “quais rochedos humanos viventes no meio do atlântico norte”, assumiram em resultado de perigos catastróficos e aflições nas mais adversas situações de vida, e que, num ato de coragem pública e sem preconceitos socais, colocam em prática o seu fiel cumprimento de promessas, às graças concedidas.
Nós, que pertencemos ao novo testamento, somos convidado sem cada manhã, a alargar os horizontes das nossas preces de ação de graças, por todas as criaturas humanas, proclamar e anunciara todos os povos as suas maravilhas, porque o Senhor é grande, e digno de todo o louvor.
O Salmo, 66 (67) – elemento imprescindível de louvor e ação de graças públicas, invade a multidão cristã proclamando: Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra. É um salmo coletivo de ação de graças, que começa por um hino, recordando os prodígios realizados por Deus em tempos antigos, porque são a garantia de segurança frente aos inimigos; depois, vem a ação de graças coletiva, que lembra a salvação concedida numa batalha; e finalmente, uma ação de graças em primeira pessoa do singular, embora marcada pelo sentido coletivo das duas partes anteriores.
Quem nos separará de Ti, Senhor?!… Olhar e contemplar o rosto do Senhor, implica arrependimento, e significa deixarmo-nos de confiar em nossa capacidade para nos salvarmos, porque Cristo, é o único ressuscitado que pode perdoar em nossas vidas as faltas e falhas humanas. Saber apenas, que Jesus Cristo é o Filho de Deus morto na cruz pelos nossos pecados, não é suficiente. É necessário receber Cristo pela fé, e por meio de uma decisão pessoal.
Na gama dos nossos sentidos, o foco luminoso do olhar humano, é a grande lâmpada que tudo sustenta e regista, tornando clara a imagem das coisas que todo o homem devoto e peregrino, procura. No declinar do dia, os sonhos de seguir o Senhor, não são cansaço; são desejos de fé; são passos fatigados e doridos do longo caminhar, que numa terapia espiritual, procuram moldar seus registos numa fé creditada numa alvorada renascida, para lembrar em cada aurora, o rumo da primeira luz do tempo.
Reacender a chama da fé no círio da promessa, é renascer na confiança e na esperança de tempos novos, as causas da fé mais credíveis em ordem à equidade e qualidade de vida cristã nas celebrações, onde a escuta da palavra se reconcilia com o penitente olhar da misericórdia de Deus. O cortejo da procissão do Senhor, é um círio terapêutico que se ergue e se acende em espiritual clarão, onde a chama, quase inflama a cinza da dor já curada.
O ato de agradecer, é momento especial de cada peregrino disposto a alimentar a sua fé, porque o percurso peregrino de acompanhar o Senhor na sua rota visitadora à cidade e ao seu povo, torna a sua compassada marcha, um pouco extenuante fisicamente para os não habituados ao sistema de um caminhar com paragens e avanços.
Nestes dias festivos, os peregrinos do Senhor, aprumam-se dignamente vestidos com as melhores e mais belas vestes, para dignificar a festividade numa total postura de convívio social-cristão. A religiosidade e o ar festivo, desinibe o comum mortal, por se encontrarem todos no mesmo local, na dimensão de uma grande família, por serem crentes agraciados e deslumbrados pelos mistérios do Senhor, decididos a tirar partido da alegria sacra que se gera, e envolve o local.
As tradicionais festas do Senhor Santo Cristo, assentam numa peregrinação voluntária de fé e de saudade cristã profunda, que o povo ilhéu emigrado, e sensibilizado retribui agradecido, porque levou a sua festa como testemunho fiel para os mais diversos locais, de forma especial, a” diáspora internacional”, por relembrar e considerá-las herdadas, para transmitir e divulgar às muitas e novas gerações, que este evento espiritual cristão, é sinal de reencontro oportuno de caminhos novos de cristianização e devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Olhar o rosto do Senhor, é fazer atrair pela generosa fé o reflexo do coração crente, porque os olhos na maior das vezes, traem o que se esconde no mais fundo de um ser humano, quer se trate de altivez pessoal, quer da Misericórdia de Deus, porque, todo o olhar vale o ato de fé creditada. O olhar humano, é a lâmpada do nosso corpo, e por isso, ficamos iluminados! Mas, se o nosso olhar está doente, ferido ou impuro, todo o nosso corpo humano, entra em trevas (MT 6,22-23).
No estado generalizado de mudanças sociais-cristãs, há muito de positivo na vontade do homem em continuar a procura incessante de Deus, quer na escuta, quer na leitura da sua palavra, porque o homem, faz da Palavra de Deus, o lugar onde nasce e alimenta a sua fé em crescimento. Pela fé e com a fé, a palavra de Deus torna-se lâmpada para os nossos pés, e luz para os nossos caminhos.
É com este sentido, que a fé peregrina abre portas para caminhar pela cidade, onde o Senhor, sentado em seu trono esplendoroso, e do alto, olhará os que no seu olhar, depositarem o que de mais íntimo o coração se deixou abrir, atrair e possuir, confiando àquele que reina para sempre, a sua reconciliação, que só Deus tem o poder de pesar e medir. A fé, é um modo de possuirmos aquilo que se espera; é um meio de conhecer realidades que não se veem na prática do dinamismo da doutrina social da igreja e governos democráticos, bastando apenas, ler e relembrar as principais encíclicas, de relevância a “Rerum Novarum”, do Papa Leão XIII Séc. XIX, e Mater et Magistra do Papa João XXIII em 1961, e outros documentos doutrinários sociais, plasmados no II Concílio do Vaticano.
Procurar a face do Senhor na sua festividade, é exatamente rezar sem medo, estarmos atentos e sentirmo-nos perto d’Ele, contar-lhe de coração aberto e livre, o que nos preocupa em cada momento e tempo; as alegrias, as tristezas das muitas preocupações do imaginário humano, e esperar no tempo, uma resposta solidária, atendendo às mutações da nossa sociedade contemporânea, carregada de slogans e de variados fenómenos sociais sem resoluções práticas em muitos aspetos da vida pública, e até mesmo, nas relações entre as muitas instituições, de forma especial, a Igreja e o estado.
Por detrás das fachadas humanas, escondem-se muitas misérias, ignoradas mesmo pelos vizinhos ao pé da porta; outras, estabelecem-se onde naufraga a dignidade do homem; delinquência; criminalidade; droga; erotismo; a promiscuidade de alojamentos populares; tornando impossível um mínimo de intimidade; o direito à emigração; as discriminações e injustiças; a falta de criação de postos de trabalho; o lugar da mulher e dos jovens na sociedade.
A fé peregrina, não olha a diferenças sociais, porque a porta do Senhor Jesus, está sempre aberta ao acolhimento humano, porque Ele, está connosco até ao fim dos tempos: Senhor, quando passar o vosso andor esplendorosamente enfeitado com as mais belas flores, elaboradas com grande amor e fé por mãos humanas e artificiosas, as nossas frontes se curvem pelo amor das gerações passadas e presentes, e derramai sobre nós o Teu olhar piedoso, porque a tua festa é um ato de fidelidade à dignidade do homem, que pretende sempre, celebrar na tua festa, o autor da vida.
A tua festa Senhor, é uma dádiva de divina atração e explosão de religiosidade popular cristã, onde se reza o improvisado louvor pessoal, porque o homem é um ser religioso em qualquer contexto histórico que se encontre, por ser um crente que necessita encontrar-se com o registo sagrado.
Que o peregrinar pessoal nesta festa do Senhor, transforme nossas faltas e pecados sociais em petição oratória, onde a humildade e misericórdia obtenham sustentação humana-cristã, em prole de uma sociedade de novos valores mais humanizados, e os caminhos se vistam sempre numa teologia da fé, da Esperança e da Caridade.
José Gaipo