Com a aproximação das eleições autárquicas, começa o espetáculo anual que todos conhecemos: a pré-campanha. Um fenómeno tão previsível quanto fascinante, onde tudo parece amplificado, desde os convites para integrar as listas até às fotos oficiais que compõem o rosto das candidaturas.
Os convites chegam com a delicadeza habitual, ora pela amizade de longa data, ora pelo inesperado “achámos que serias uma mais-valia”. O que está implícito, claro, é a vontade de encontrar gente que, de alguma forma, possa garantir uns votos. Logo depois, assistimos às tradicionais sessões fotográficas, onde a pose perfeita e o sorriso ensaiado parecem mais importantes do que o próprio programa.
As apresentações das candidaturas são momentos de euforia controlada, cheios de palavras bonitas, promessas genéricas e slogans estudados ao pormenor. Seguem-se as páginas dedicadas nas redes sociais, que se multiplicam com uma rapidez impressionante, e com elas o entusiasmo quase infantil pelas reacções, “likes” e partilhas, que muitos interpretam como um barómetro antecipado da popularidade.
É verdade que estas eleições autárquicas despertam mais interesse do que muitas outras. Afinal, é aqui que a política se sente mais próxima das pessoas. É a sua rua, a sua freguesia, a sua cidade. Não é de estranhar, portanto, que algumas pessoas se envolvam de tal maneira que até as famílias acabem divididas por preferências partidárias, com discussões acesas à mistura. Outros preferem manter uma distância prudente, optando por uma postura mais discreta, talvez conscientes de que os tempos exigem outra forma de participação.
Como em qualquer eleição, haverá vencedores e vencidos. A esperança é que os primeiros assumam os seus cargos com respeito, dignidade e total dedicação, traduzindo o seu mandato em melhorias concretas para a comunidade que representam. Aos que não saem triunfantes cabe o importante papel de fiscalização, sempre com responsabilidade, e se possível, de contributo pró-ativo, porque a política é, acima de tudo, feita por pessoas e para pessoas.
Respeitar os partidos, as ideologias e as diferenças é fundamental para o bom funcionamento da nossa democracia local. Um cargo político exige, para além do prestígio, uma enorme responsabilidade: representar os interesses da comunidade, gerir recursos públicos com transparência e trabalhar para o bem comum. E, independentemente da cor política, o essencial é que todos trabalhem pelo mesmo objetivo: uma freguesia ou cidade melhor para quem lá vive.
Se assim for, até podemos aceitar com um sorriso as fotos ensaiadas e os slogans bem polidos. Afinal, a política também tem os seus rituais, e que sejam sempre em prol do interesse colectivo.
Carlos Pinheiro