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Teddy Rooseveltde Kima na mão?

Existem personagens históricas incontornáveis, e uma que sempre me fascinou foi o 26º presidente dos Estados Unidos: herói de batalhas, destruidor de monopólios, explorador intrépido e, pelo menos no meu delírio, consumidor oficial de Kima no Alto da Mãe de Deus. Caro leitor, antes que se ponha a calcular impossibilidades cronológicas do meu delírio, deixe-me cortar o seu raciocínio. Certo dia caminhava sem destino, em preparação para uma romaria quaresmal. O objetivo eram uns dignos 10 km, que rapidamente mirraram, por conspiração do meu corpo, acabando prematuramente no Alto da Mãe de Deus. Foi ali que, de forma absolutamente serendipitosa, me deparei com uma placa que me deixou de boca aberta. Na altura andava mergulhado num livro intitulado Rio da Dúvida, que e acompanha Theodore Roosevelt numa aventura incrível de descoberta de um tributário do rio Amazonas. E não é que, para meu grande espanto, de vesga noto uma placa comemorativa, cuja inscrição desenhada em cerâmica informa: “Passeio Público Theodore Roosevelt”. De imediato saquei o telefone de forma a perguntar ao meu amigo Google a razão do porquê:
Em 1909, acabado de sair do segundo mandato como Presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt embarcou no paquete SS Hamburg rumo a Nápoles, ponto de partida para um safari científico em nome do museu Smithsonian. A caminho, por obra do acaso, e da logística marinha, fez escala nos Açores. Primeiro na ilha do Faial e no dia seguinte em São Miguel. Nesta altura Portugal estava a fervilhar com os primeiros indícios da Républica, embora ainda sob o domínio de D. Manuel II. A presença repentina de uma figura republicana tão proeminente podia ser vista como embaraçosa e “evitável”. Sem pompa nem circunstância, desembarcou como um viajante privado, sem direito a honras estatais, acompanhado apenas pelo cônsul americano. Foi decidido que subiria ao alto da Mãe de Deus de forma a contemplar a bela cidade de Ponta Delgada.
Notícia da presença do “Bull Moose” circulou rapidamente pela cidade. Roosevelt adquiriu essa alcunha num episódio inacreditável. Ao discursar no Wisconsin, foi alvejado no peito. A bala alojou-se-lhe no músculo peitoral, milagrosamente travada por um maço de notas do discurso e pela caixa metálica dos óculos. Uns instantes mais tarde avisou o público com calma: como não cuspia sangue os pulmões deviam estar intactos.
Depois, com a camisa encharcada de sangue, continuou a discursar durante 90 minutos, rematando ainda que seria necessário mais do que uma bala para matar um Bull Moose – Alce Touro, animal que na altura era o símbolo do partido Republicano. No mínimo lendário. Mas adiante… jovens estudantes do Liceu de Ponta Delgada rapidamente formaram uma comitiva improvisada acompanhando Roosevelt até ao cais. Pelo caminho, encarnando o crescente desejo republicano, lançaram vivas ao ex-presidente, enquanto este caminhava pela nossa cidade. Existem até algumas fotos deste episódio na internet.
A homenagem oficial, contudo, só aconteceu um ano depois. Já com a Républica proclamada em Portugal, decidiu-se que a visita seria imortalizada através da nomeação do jardim da igreja da Mãe de Deus como “Passeio público Theodore Roosevelt”. Uma placa que carrega o nome de um homem que, corajosamente, enfrentou e desfez monopólios gigantescos que subjugavam a economia americana; um explorador intrépido que se lançou em várias viagens de descobrimento de tirar a respiração a qualquer mortal.
Roosevelt era também um naturalista apaixonado, foi dele que partiu o impulso original de criação de inúmeros parques e reservas naturais nos Estados Unidos. Estamos a falar da criação de aproximadamente 10 000 km2 de área natural protegida. Este lado naturalista acabou por inspirar um lojista de Nova Iorque a criar o famoso ursinho de peluche “Teddy Bear”. Originalmente chamado “Teddys Bear” (o ursinho do Teddy), foi uma homenagem direta a Teddy Roosevelt. Paradoxal no mínimo, tendo em conta que o homem tinha o porte rígido de um armário de três portas.
Repare: Roosevelt adquiriu a sua fama original ao juntar uns amigos, colegas de Harvard, mineiros, cowboys e Índios para formar uma milícia de cavalaria voluntária com destino a Cuba, na guerra Hispano-Americana. As atrocidades cometidas pelo exército espanhol contra os cubanos serviram de rastilho moral para este grupo improvável, que ficou conhecido como os Rough Riders. Foi à frente deles que Roosevelt protagonizou a célebre tomada de San Juan Hill, liderando uma carga quase suicida, a cavalo, sob fogo cerrado. O feito transformou-o instantaneamente em herói nacional.
Todas estas façanhas ocorreram a Teddy enquanto bebia aquela Kima no alto da Mãe de Deus. Contemplou Ponta Delgada daquela colina, imaginando uma carga contra os monarcas de forma a precipitar mais rapidamente a Républica – seria decerto o episódio menos notável da sua biografia. Infelizmente foi interrompido pelo cheiro de uns chicharros a serem fritos numa casa ali ao lado. Acabou dizendo, em forma de despedida: “I don’t like chichárows. Can I have a Laranjadoe?”.

Philip Pontes

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