O peso das Doenças não transmissíveis
“Também dos EUA chegou-nos a informação de um aumento de hospitalizações por gripe,
aparentemente um surto recorde, servindo de alerta para o que pode vir aí na Europa em geral,
e em Portugal em particular.”
Os temas da semana: DNTs, Saúde Mental e vacinas
Na área da Saúde, na semana que passou, um dos temas que mais se destacou a nível mundial, foram as Doenças não transmissíveis (DNTs). Ao debater-se a prevenção e o controlo das DNTs (como são exemplos as doenças cardiovasculares, o cancro, a diabetes e as doenças respiratórias crónicas) constata-se que representam 74% das mortes em todo o mundo, com um impacto desproporcional nos países de baixo e médio rendimento, seja em África, Ásia ou Médio Oriente, e torna-se evidente que são necessários investimentos em intervenções custo-efectivas, como é o controlo do tabaco e a triagem da diabetes, a fim de reduzir as mortes prematuras.
A Saúde mental esteve também em destaque, com debates em todo o mundo sobre a ansiedade, a depressão e o suicídio. Sabe-se que estes afectam quase 1 bilião de pessoas em todo o mundo, com uma prevalência acima da média no Médio Oriente e em África. É hoje claro que no âmbito das respostas humanitárias e planos de emergência é prioritária a integração do suporte psicossocial, especialmente em contextos de conflitos e de refugiados, o que requer que se tenha em atenção no presente.
Esta semana houve também um alerta da OMS para o problema da insuficiência renal terminal na África Subsaariana, devido a factores como a dieta inadequada, o abuso de substâncias e o acesso limitado a cuidados preventivos.
Nos EUA continuaram as controvérsias à volta das políticas de vacinação. O “Comité Consultivo de Práticas de Imunização” votou a limitação da vacina combinada contra o Sarampo, Papeira e Rubéola, em crianças com menos de 4 anos, o que leva a legitimas preocupações sobre os futuros impactos na Saúde Pública. Também dos EUA chegou-nos a informação de um aumento de hospitalizações por gripe, aparentemente um surto recorde, servindo de alerta para o que pode vir aí na Europa em geral, e em Portugal em particular.
Na Europa esta semana falou-se na escassez de medicamentos e nos abastecimentos farmacêuticos, depois de Relatórios de auditores terem destacado níveis record de escassez crónica de medicamentos na União Europeia, incluindo antibióticos e tratamentos essenciais, atribuída à dependência das cadeias de abastecimento globais e às falhas regulatórias. Isto afectou directamente o acesso aos cuidados de saúde, em vários países, com múltiplos alertas para os impactos na Saúde Pública e para a necessidade de reformas urgentes nesta matéria.
Quanto às mortes associadas ao calor e ao impacto das alterações climáticas, um estudo preliminar, divulgado esta semana, estimou em cerca de 24.400 as mortes por ondas de calor, este ano, no Verão europeu, sendo que pelo menos 16.500 são atribuíveis directamente ao aquecimento global. Os cientistas têm destacado a vulnerabilidade crescente das nossas cidades, e das suas populações, às temperaturas extremas, provocando a exacerbação dos riscos cardiovasculares e metabólicos.
Já em Portugal continuou a crise no Serviço Nacional de Saúde (SNS), desta feita devido a um apagão informático, que impediu o acesso a informações clínicas em hospitais e centros de saúde, o que veio agravar as já conhecidas falhas no Sistema, martirizado pelo encerramento das urgências obstétricas. Neste campo, e cruzando com a Saúde mental, destaco que, a propósito da aprovação de um medicamento para o tratamento da depressão pós-parto pela União Europeia, surgiram propostas da Ordem dos Psicólogos para que se prolonguem as licenças parentais a 100% para os 6 meses, e as faltas por luto gestacional para os 20 dias. Foi também debatido o aumento de partos em casa, tendo a ministra da Saúde alertado para os riscos associados aos mesmos.
A homenagem da semana: Peiyin Hung, Merete Nordentoft e Francisco Sampaio
Dos Estados Unidos da América destaco, esta semana, Peiyin Hung, PhD, distinguida com o “Outstanding Researcher Award da National Rural Health Association”, pelo seu contributo para a investigação em contexto de saúde rural, neste caso centrada no acesso a cuidados de saúde e nos resultados dos mesmos, em populações vulneráveis.
Da Europa, destaco Merete Nordentoft, da Dinamarca, que venceu o “Sasakawa Health Prize 2025”, da Organização Mundial da Saúde, reconhecendo o seu trabalho pioneiro na saúde mental e na prevenção do suicídio, com impacto evidente nas políticas públicas e nas intervenções clínicas.
Em Portugal merece destaque o Enfermeiro e Prof. Francisco Sampaio, reconhecido neste ano 2025 pela “Sigma European Region”, pelo seu papel também nas questões de saúde mental, neste caso nos media em Portugal, contribuindo assim para uma maior consciencialização pública, e para o avanço nas discussões sobre o bem-estar psicológico.
Mário Freitas*
- Médico de Saúde Pública e de Medicina do Trabalho