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Revelada nova espécie de mosca-das-flores exclusiva de São Miguel

Um artigo científico publicado a 18 de setembro de 2025 descreve formalmente uma nova espécie de mosca-das-flores exclusiva dos Açores, descoberta na ilha de São Miguel, e atualiza profundamente o conhecimento sobre este grupo de insetos no arquipélago.
Com este trabalho, assinado pelos entomólogos Sander Bot, Lenze Hofstee e Ximo Mengual, o número de espécies de moscas-das-flores conhecidas nos Açores sobe para 24, das quais três são endémicas, reforçando a importância do arquipélago como área de elevado interesse para a conservação da biodiversidade.
A investigação agora divulgada resulta de uma expedição de campo realizada entre 8 e 15 de setembro de 2024 às ilhas de São Miguel, Graciosa e Terceira, durante a qual os autores recolheram exemplares de 13 espécies de moscas-das-flores. A campanha foi complementada com uma revisão exaustiva de registos disponíveis em plataformas de ciência, analisados até dezembro de 2024, permitindo consolidar uma lista atualizada de sirfídeos para cada ilha dos Açores.
A nova espécie, batizada Eristalis azorensis, foi encontrada apenas na vertente ocidental montanhosa de São Miguel, entre os 569 e os 762 metros de altitude, em três locais próximos. Trata-se de uma mosca-das-flores de grande porte, com corpo e patas totalmente negros, que se distingue das restantes espécies do mesmo género presentes no arquipélago, nomeadamente Eristalis arbustorum e Eristalis similis, que exibem padrões claros no abdómen e patas parcialmente mais claras. Os autores defendem que Eristalis azorensis deverá ser candidata a estatutos de conservação elevados na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), podendo ser classificada “Em Perigo” ou mesmo “Criticamente Em Perigo”, devido à distribuição extremamente restrita.
Até à publicação deste estudo estavam registadas 23 espécies de moscas-das-flores nos Açores, apenas duas delas endémicas: Sphaerophoria nigra e Xanthandrus azorensis. Com a descrição de Eristalis azorensis, o número total de espécies sobe para 24 e as endémicas para três.
Os investigadores sublinham ainda que, entre estas 24 espécies, dez apenas são conhecidas a partir de registos antigos ou pontuais, sem observações recentes confirmadas, o que levanta dúvidas sobre o seu estatuto atual e evidencia a necessidade de novas campanhas de campo.
O estudo destaca também um padrão curioso: as três espécies endémicas de moscas-das-flores dos Açores apresentam coloração corporal mais escura do que os seus parentes continentais, tendência que também é observada em espécies endémicas de outros arquipélagos da macaronésia. Os autores avançam a hipótese de que este “escurecimento” possa estar associado a mecanismos de termorregulação em ambientes húmidos e relativamente frescos, com solos vulcânicos escuros e florestas de folha persistente, características típicas das ilhas açorianas.
Para além da nova espécie, o trabalho traz várias novidades na distribuição das moscas-das-flores pelas ilhas. É reportado pela primeira vez o registo de uma espécie na ilha do Corvo, outra no Faial, seis novos registos para a Graciosa e duas espécies assinaladas pela primeira vez na Terceira.
Em São Miguel, para além da confirmação de diversas espécies já conhecidas, a grande novidade é precisamente a presença de Eristalis azorensis, que apenas agora pôde ser formalmente descrita e integrada na lista regional.
No enquadramento biogeográfico, os autores recordam que os Açores constituem um arquipélago vulcânico de nove ilhas, com cerca de 2.300 quilómetros quadrados de área total, onde se estima a presença de aproximadamente 1.200 espécies de plantas, das quais apenas cerca de 6% são endémicas e cerca de 70% correspondem a espécies exóticas.
O clima oceânico temperado, com temperaturas médias anuais em torno dos 17,5 graus Celsius e precipitação elevada, cria condições particulares para a evolução de fauna e flora, mas também uma elevada vulnerabilidade a espécies invasoras.
A família Syrphidae, à qual pertencem as moscas-das-flores, inclui mais de 900 espécies descritas na Europa e mais de 6.200 a nível mundial, muitas delas com papéis relevantes na polinização e no controlo biológico de pragas agrícolas.
No caso concreto dos Açores, os investigadores sublinham que o conhecimento deste grupo ainda é fragmentado, com lacunas temporais e geográficas, que este trabalho procura reduzir através da combinação de trabalho de campo e dados chave de identificação morfológica e códigos de barras de DNA.
O artigo alerta que Eristalis azorensis poderá ter “uma das distribuições mais restritas de uma mosca-das-flores na Europa”, limitada a uma pequena área montanhosa de uma única ilha. Entre as principais ameaças apontadas estão a destruição e alteração de habitats, a expansão de plantas invasoras, a pressão turística e os impactos das alterações climáticas.
Os autores defendem, por isso, a urgência de reforçar a monitorização e de adotar medidas de conservação específicas para garantir que esta nova espécie, agora descrita e associada ao património natural dos Açores, não desapareça antes de ser plenamente conhecida.

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