Paradoxalmente é, nos 50 anos do 25 de Abril, que eclode um grande solavanco na nossa vida democrática e se vivem, de forma intensa, cenários de instabilidade política e ingovernabilidade. Os dois grandes e tradicionais partidos portugueses vêm, pela primeira vez, posta em causa a sua hegemonia tradicional.
O advento, muito significativo, de uma terceira força que se denomina de anti-sistema e se posiciona como alternativa aos partidos tradicionais do centro e da direita em Portugal. Partido que critica o xadrez político actual e busca atrair eleitores descontentes com o designado sistema.
E, facto, tudo isto acontece porque os partidos tradicionais escancararam as portas à demagogia e ao populismo e se esqueceram, entre muitas outras coisas, dos jovens deste país que nasceram já em pleno Portugal de democrático. Jovens para quem a simbologia do 25 de Abril e os apelos à liberdade cheiram a bafio a e a velho.
Para quem sempre viveu em liberdade é muito difícil perceber o que foi a ditadura salazarista e o país capado que era Portugal. Um país triste, austero, analfabeto e profundamente miserável que fazia questão de fazer crer que era o melhor dos mundos e não a cauda da Europa que realmente era.
Algumas das principais bandeiras do populismo incluem a segurança pública, a luta contra a corrupção, o combate à imigração ilegal e a defesa dos valores tradicionais portugueses. Bom como uma postura firme em questões relacionadas à justiça criminal e à imigração.
Sendo certo que muitas delas existem de facto, mas que nunca mereceram o devido e integral cuidado de quem governou Portugal até agora. Só assim se percebe o surgimento exponencial de um partido fundado, apenas, em 2019!
Sendo este aniversario de ouro de democracia portuguesa, um excelente momento para se perceber o que levou à actual situação que só poderá ser invertida se os partidos tradicionais e fundadores de democracia fizerem uma verdadeira autocritica colectiva.
Perceber que Portugal enfrenta disparidades significativas e oportunidades entre diferentes grupos sociais e que a desigualdade socioeconômica persistente é um problema que afeta a coesão social e o desenvolvimento equitativo do país.
Perceber que, pesar dos avanços econômicos nas últimas décadas, o desemprego e a precariedade laboral ainda são desafios para muitos portugueses, especialmente os jovens. A falta de empregos estáveis e bem remunerados contribui para a instabilidade financeira e a emigração de talentos.
Perceber que o SNS enfrenta desafios relacionados à acessibilidade, qualidade e sustentabilidade. A falta de recursos, longos tempos de espera e desigualdades no acesso aos serviços de saúde são preocupações importantes para muitos cidadãos.
Perceber que o mercado imobiliário em Portugal enfrenta pressões devido à especulação, turismo e aumento da procura interna. Com aumentos significativos nos preços da habitação, tornando a compra ou aluguer de moradias inacessível para muitas pessoas e contribuindo para a gentrificação em algumas áreas urbanas.
Perceber que corrupção continua sendo uma preocupação na sociedade portuguesa, afetando a confiança nas instituições públicas e minando a integridade do sistema democrático. A transparência e a prestação de contas são questões-chave que exigem atenção contínua.
Perceber que Portugal enfrenta o desafio do envelhecimento da população, com uma proporção crescente de idosos em relação à população total. Isso coloca pressão sobre os sistemas de seguridade social e saúde, além de demandar políticas para garantir o bem-estar e a inclusão dos idosos na sociedade.
Perceber que a migração internacional continua a ser uma questão importante em Portugal, com desafios relacionados à integração de imigrantes, combate à xenofobia e garantia de direitos humanos para todos os residentes, independentemente da sua origem.
Perceber e mudar.
Esse sim, será, na realidade, o melhor contributo e homenagem que poderemos prestar ao glorioso 25 de Abril que estamos a celebrar.
Antonio Simas Santos