O perfeccionismo é um conceito multidimensional, relacionando-se com vários aspectos do ser humano, e implica a existência de padrões de funcionamento e de exigência que vão além da razão e que são, por conseguinte, inalcançáveis. Os perfeccionistas buscam compulsivamente, e de forma inquestionável, objectivos impossíveis, ancorando o seu sentimento de valor pessoal em função dos seus níveis de desempenho, gerindo o seu quotidiano, de uma forma marcada pela pressão, por um padrão constante de crítica e por uma constante e invasiva insatisfação que, paradoxalmente, acaba por se constituir como um obstáculo para aquilo que a pessoa, normalmente, pensaria, faria e sentiria.
Importa não perder de vista que o ótimo é inimigo do bom, como diz, e bem, a sabedoria popular. Tal como numa receita, podemos pensar na importância do tempero e usá-la como metáfora para aquilo que acontece com as nossas tendências perfeccionistas. Na medida certa, o tempero torna a refeição saborosa, mas se for a menos ou a mais, ela fica sem sabor ou estragada, tal a intensidade daquilo que, supostamente, lhe daria sabor.
Querermos ser melhores pode ter o seu lado positivo, numa lógica alicerçada na ideia que o esforço compensa e que a exigência (balizada…) nos pode conduzir à excelência funcionam como ingredientes de uma receita para a realização pessoal, no rendimento escolar, nas atividades extracurriculares, na vida social e profissional. Contudo, quando a mínima falha se torna assustadora e catastrófica, o perfeccionismo conduz a uma espiral destrutiva que gera pressão que se avoluma para cumprir um ideal inatingível. O perfeccionismo é uma armadilha, uma espécie de jogo das escondidas em que jogamos sozinhos, procurando algo que nunca vamos conseguir encontrar.
Tal como a criança que procura algo que não está lá, entrando num jogo condenado à partida, o perfeccionista condena a sua satisfação e realização na perseguição obstinada de um padrão desempenho que não admite nada menos que a perfeição, nada menos que a ausência de toda e qualquer imperfeição ou aspecto menos positivo, procurando, no fundo, algo que não existe (até porque o seu “radar” para a imperfeição é extraordinariamente sensível…).
Por isso… tempere bem o seu radar perfeccionista com menos comparação e mais aceitação, com menos crítica destrutiva e mais compaixão (na relação connosco e com os outros). A “refeição” será bem mais saborosa!
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Filipe Fernandes*
*Psicólogo Clínico e da Sáude e Vogal da Direção da DRA/OPP