Tirando as declarações patéticas de um Marcelo em fim de ciclo, as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril foram de uma adesão popular nunca vistas.
Mesmo aqui nos Açores, onde não existe tradição de comemorações empolgantes sobre a data, foram surpreendentes as várias iniciativas, em todas as ilhas, para assinalar a famosa Revolução dos Cravos.
Todas tiveram uma dignidade exemplar, com destaque para os eventos em que participaram muitos jovens, pertencentes a uma geração que não viu nascer o Dia da Liberdade.
É preciso aproveitar esta comemoração motivadora e fazer dela um exemplo de pedagogia para os mais novos, sobretudo as gerações seguintes.
Um bom exemplo é distribuir pelas escolas o excelente trabalho que a RTP-Açores transmitiu no dia 25 de Abril à noite, da autoria do jornalista Herberto Gomes, com protagonistas açorianos a contarem na primeira pessoa como viverem o antes e o depois do 25 de Abril.
São testemunhos que devem figurar para a História.
Abril por cumprir
50 anos depois do 25 de Abril nem tudo está bem na vida dos cidadãos.
E um dos maiores falhanços do nosso desenvolvimento é o garrote que ainda cai sobre as frágeis condições de vida dos cidadãos.
O incomportável custo de vida que se agrava nos Açores é de tal ordem que os casais jovens nem conseguem ter acesso a uma habitação. E aqueles que a conseguiram, à custa de crédito bancário, estão com a corda ao pescoço devido às elevadas taxas de juro.
A subida das taxas pressionou as famílias com crédito da casa ao ponto de deixar meio milhão de contratos à beira de uma situação de incapacidade para pagar a prestação ao banco, segundo dados agora divulgados pelo Banco de Portugal.
Com efeito, os bancos reportaram uma média mensal de 123.400 processos PARI (Plano de Ação para o Risco de Incumprimento), iniciados em 2023, mais do que quadruplicando em relação a 2022.
Contas feitas, foram iniciados quase 1,5 milhões de processos PARI no ano passado, correspondendo a cerca de meio milhão de contratos de crédito da casa no valor de 32 mil milhões de euros, detalha o Banco de Portugal.
Como se isto não bastasse, a ERSE, Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, apresentou uma proposta tarifária que prevê o aumento do preço da electricidade a partir de Junho.
Nos Açores, o aumento será de 1,6% e, na Madeira, de 1,3%.
Ou seja, depois das empresas de electricidade terem arrecado, no último ano, lucros escandalosos, vamos encher, ainda mais, as algibeiras dessas empresas.
Percebem, agora, porque é que Abril ainda não se cumpriu?
Osvaldo Cabral
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