Um olhar sobre a autoestima
O tema escolhido para assinalar os 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres reforça a importância das mulheres olharem para e por si, refletindo sobre os seus recursos internos e como estes têm um forte impacto no seu dia-a-dia e empoderamento.
Cada pessoa tem uma ideia de si mesma. Esta perceção de si, fortemente influenciada pelas transformações sociais, vai-se construindo ao longo dos anos.
Durante a infância, a criança vê-se principalmente no olhar que lhe dirigem as pessoas que ela julga importantes na sua vida:pais, avós, professores, amigos, etc. serve-se de palavras que estas pessoas lhe dirigem e dos gestos que têm para consigo para se conhecer a si mesma.
Depois, a criança cresce e os amigos vão assumindo, a pouco e pouco, cada vez mais importância até se tornarem, na adolescência, o espelho no qual ele ou ela se revê (Duclos, G.; Laporte, D. & Ross, J., 2006).
A idade adulta não põe fim a este processo. Em certos dias, a opinião favorável dos outros tranquiliza-nos e confirma as impressões que temos de nós mesmos. Noutras alturas, quando esta opinião é desfavorável, faz-nos duvidar de nós. Assim, a autoestima é o valor que cada um atribui a si próprio nos diferentes aspetos da vida.
Cada pessoa constrói uma opinião de si mesma no plano físico (competências, imagem, aparência, resistência), no plano intelectual (capacidades, memória, raciocínio) e no plano social (capacidade para fazer amigos, carisma, simpatia).
Confunde-se muitas vezes autoestima e amor-próprio. É verdade que estes dois conceitos são muito próximos, até complementares. O amor-próprio, por exemplo, define-se como o sentimento da sua própria dignidade e do seu valor pessoal, refere-se ao brio pessoal. A autoestima e o amor-próprio são conceitos muito ligados, mas a diferença entre os dois reside na distinção que se pode fazer entre amar e estimar. Podemos reconhecer as qualidades e as competências de uma pessoa que observamos fora do nosso círculo imediato –um político, por exemplo – sem a amar enquanto pessoa. Ora, o inverso não é verdade: não se pode amar uma pessoa sem a estimar, isto é, sem lhe atribuir um valor pessoal e intrínseco. Por esta comparação entre amor-próprio e autoestima, damo-nos conta que uma pessoa não se pode amar a si mesma sem se estimar, isto é, sem atribuir a si mesma um valor pessoal (qualidades, formas de ser, identidade única).
A autoestima baseia-se, antes de mais, no sentimento da identidade pessoal. É preciso ter presente que uma boa autoestima não é sinónimo de afabilidade e de simpatia. Significa antes que se tem consciência das forças e das fraquezas, e que nos aceitamos a nós próprios, com tudo o que temos de mais pessoal, isto é, de mais precioso.
Ter uma boa autoestima significa afirmar-se, assumir as suas responsabilidades, saber corresponder às suas necessidades, ter objetivos. E isto necessita de uma integridade pessoal e de consideração pelos outros. A autoestima é, em primeiro lugar e antes de mais, ter confiança em si, naqueles que se ama e na vida!
Ana Rita Palma
Campanha 16 Dias pelo Fim da Violência contra as Mulheres 2023