O candidato do PS a presidente do Governo dos Açores, Vasco Cordeiro, apontou o acordo do PSD com o Chega e a actual instabilidade política nesta região como exemplo do que a direita fará no país.
“Eu venho de uma região onde o PSD jurou que nunca se aliaria ao Chega. Logo a seguir às eleições, aliaram-se, uniram, e hoje assiste-se ao estertor de um Governo que deu guarida política e institucional à extrema-direita no nosso país”, declarou Vasco Cordeiro, numa intervenção no 24.º Congresso Nacional do PS, na Feira Internacional de Lisboa (FIL).
O socialista que governou os Açores entre 2012 e 2020 e acrescentou que nesta região autónoma “a direita fez juras à estabilidade”, mas “nem aguentaram três anos” no Governo, “por culpa da sua incapacidade de cumprir compromissos, a sua incapacidade de colocar os interesses dos Açores à frente de todos os outros”.
“Quando aqui também se ouve que nunca o PSD se aliará ao Chega, olhem para aquilo que aconteceu nos Açores e têm a antevisão daquilo que acontecerá no país”, aconselhou, numa alusão às legislativas antecipadas de 10 de Março.
Segundo Vasco Cordeiro, os resultados do Governo coligação PSD/CDS-PP/PPM chefiado por José Manuel Bolieiro, com um acordo de incidência parlamentar com o Chega e inicialmente também com a Iniciativa Liberal, foram “a degradação financeira, económica e social da região, o crescimento da dívida pública e do défice sem paralelo na nossa história, atrasos de pagamentos a fornecedores e apoios à atividade económica, indicadores sociais”.
“E é por isso, caros e caras camaradas, que eu me apresento novamente ao juízo dos açorianos. Não para acertar contas de 2020, mas por causa do futuro, por causa daquilo que fiz como presidente do Governo e daquilo que aprendi como líder da oposição. É por ser necessário recuperar a confiança nos Açores e nos açorianos, a confiança num projecto ao serviço de uma região melhor e com melhor futuro”, afirmou.
Vasco Cordeiro acusou ainda “os partidos da direita, incluindo a extrema-direita” de terem feito falsas promessas de “libertar a sociedade civil, com um Governo pequeno e comedido, com uma gestão rigorosa das finanças públicas” durante a campanha regional de 2020.
“Hoje o que temos é um Governo que fica conhecido por já ter sido o maior Governo de sempre da autonomia regional, tentativa de controlar desde logo a comunicação social, associando à atribuição de apoios públicos uma percentagem do pagamento do salário dos jornalistas”, apontou.
Na sua intervenção, elogiou a moção política do secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, pelo “compromisso de aprofundamento das autonomias regionais”, entre outros pontos, com uma revisão constitucional para “extinção do representante da República”.
Coligação acusa Pedro Nuno Santos de “desrespeito” pelos Açores
A coligação PSD/CDS-PP/PPM açoriana considerou que o PS passou a ser dirigido “por alguém que possui um histórico de desrespeito” pela região e que a moção do novo líder socialista apresenta “generalidades” relativamente às regiões autónomas.
“A partir de agora, o Partido Socialista nacional, com a cumplicidade de personalidades como Carlos César e Vasco Cordeiro, passa a ser dirigido por alguém que possui um histórico de desrespeito pelos Açores”, refere em comunicado a coligação açoriana PSD/CDS-PP/PPM.
Numa nota enviada às redacções, na sequência das afirmações feitas pelo presidente do PS, Carlos César, no congresso do partido, a coligação lembra que em 2020 o agora secretário-geral socialista e então ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, “no momento mais crítico da pandemia [de covid-19] e em pleno estado de emergência, mandou a TAP continuar a voar para os Açores, recusando os pedidos do Governo Regional para fechar os aeroportos do arquipélago ou de suspender os voos da transportadora aérea nacional”.
“Foi também Pedro Nuno Santos que, enquanto ministro, meteu na gaveta o processo de revisão das Obrigações de Serviço Público de transporte aéreo entre o continente e as ilhas do Faial, Pico e Santa Maria. Como consequência, a SATA Internacional – Azores Airlines – sujeita a um processo de reestruturação – continua a prestar aquele serviço sem receber qualquer compensação financeira do Governo da República”, recorda a coligação.
Para a coligação PSD/CDS-PP/PPM dos Açores, o novo secretário-geral do PS “é igualmente um dos responsáveis por [o Governo da República] ter arrumado na gaveta o urgente processo do novo cabo submarino de telecomunicações entre os Açores e o continente, cuja implementação já se devia ter iniciado há muito tempo”.
Relativamente à moção que Pedro Nuno Santos levou ao congresso do PS, que decorreu até Domingo, em Lisboa, a coligação salienta que “tem um conjunto de generalidades relativamente às regiões autónomas e não assume nenhum compromisso concreto quanto ao aprofundamento da autonomia, nem quanto à resolução das questões pendentes entre a região e o Governo da República”.
“Apoiar um dirigente político com tal histórico de desrespeito pela autonomia regional é virar as costas aos Açores e aos açorianos”, sustenta. Relativamente às afirmações de Carlos César, que liderou o Governo dos Açores entre 1996 e 2012, a coligação destaca que, nos últimos três anos, com a governação PSD/CDS-PP/PPM, “o bom funcionamento dos serviços públicos nos Açores contrasta com o caos que se vive no continente em sectores como a Saúde e a Educação”. “Nos Açores, há um clima de paz e justiça social, em resultado das políticas prosseguidas pelo Governo Regional liderado por José Manuel Bolieiro. No continente vive-se um ambiente de instabilidade social e profissional, que é consequência da má governação do Partido Socialista”, aponta. De acordo com a coligação, “os governos de Vasco Cordeiro [entre 2012 e 2020] foram governos de contas incertas e de problemas por resolver”. “Foram os governos de Vasco Cordeiro que aumentaram a dívida pública regional em 1.682 milhões de euros”, acusam os partidos da coligação, salientando que “os Açores rejeitam o envelope de propostas de Carlos César, Pedro Nuno Santos e Vasco Cordeiro”. Na nota, a coligação reitera ainda que a legislatura nos Açores “foi interrompida por culpa” do PS. “Nos Açores, só a irresponsabilidade da oposição liderada pelo PS provocou a instabilidade. De um mau exemplo, só se pode esperar uma má experiência”, acrescenta a coligação PSD/CDS-PP/PPM.