Um grupo de 21 açorianos – escritores, jornalistas, professores universitários, médicos e artistas – acaba de publicar um “Manifesto pelo desenvolvimento humano e por uma ideia de futuro na Região Autónoma dos Açores”, já transformado em Petição Pública.
Joel Neto e João de Melo, ambos escritores, e José Henrique Ornelas, professor catedrático, são os autores do documento, que pede uma reflexão urgente sobre a situação social dos Açores antes das eleições.
O Manifesto foi publicado no semanário Expresso deste fim-de-semana e Joel Neto, primeiro subscritor, explica àquele jornal que “a altura não é inocente. Sabíamos que corríamos o risco de ser acusados de estar a interferir na campanha eleitoral e é isso que estamos a fazer, mas estamos a fazê-lo pela positiva”.
“Temos pessoas votantes em diferentes partidos, pessoas de esquerda e de direita, não há intenção de favorecer nenhuma das candidaturas nem tão pouco prejudicar, estamos a interferir no sentido de obrigar a campanha eleitoral a albergar a discussão deste tema”, explica Joel Neto.
“São mais de 40 índices de subdesenvolvimento humano que os Açores lideram regularmente”, acrescenta ao Expresso, sublinhando que “somos a região mais pobre do país, o dobro da média nacional, somos a região com a maior desigualdade na distribuição de rendimentos, com mais exclusão social, com mais assistencialismo, com mais dependência do rendimento social de inserção, com mais subsidiodependência no geral. No domínio da educação somos a região com mais analfabetismo, com mais iliteracia, maior défice de formação escolar básica, maior abandono escolar, maior abandono escolar precoce.”
O documento aponta ainda a mortalidade e a obesidade infantis, o consumo de drogas sintéticas, a taxa de incidência cancerígena, a violência doméstica, o abuso sexual ou o ritmo de crescimento da criminalidade violenta como problemas a resolver.
“Mete-me impressão como é que nove ilhas despovoadas, com 255 mil pessoas e com 700 mil fora, ainda se debate com tantos problemas e tanta solidão e esquecimento”, afirma, por outro lado, João de Melo, escritor açoriano que durante nove anos foi conselheiro da embaixada de Portugal em Madrid.
Diz ao Expresso que não podia não fazer nada pelo avanço da Região. “A pobreza açoriana é mais pobre que a pobreza continental. Os Açores precisam de ter outras políticas independentemente dos partidos que o governam, acima de tudo estão as pessoas e aquelas pessoas de condição mais humilde”.
O documento pode ser subscrito por qualquer cidadão enquanto Petição Pública.