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A minha visão das Flores e Corvo (2013) parte 1

“É curioso que as únicas referências ao conhecimento dos Açores, anteriores à chegada dos Portugueses, sejam fenícias e ambas relativas à Ilha do Corvo. Como eu dizia nos anos 70 num dos meus programas de rádio em Macau “Todas as coincidências têm uma causa matematicamente provável”.”

1.1. Flores:
Tem 143 km2 de superfície, 17 km de comprimento e 12,5 km de largura. A superfície da ilha é repartida por dois municípios – de Santa Cruz das Flores e de Lajes das Flores. A ilha, junto com a Ilha do Corvo, foram o Grupo Ocidental do arquipélago dos Açores. A 26 de maio de 2009, foi classificada pela UNESCO como Reserva da Biosfera. Os principais centros populacionais são as vilas de Santa Cruz das Flores e das Lajes das Flores. Dispõe de um aérodromo ou pequeno aeroporto onde opera a SATA Açores, com ligações aéreas regular com a Horta, Lajes (Terceira), Ponta Delgada e Corvo. Entre julho a agosto, a Atlanticoline assegura (de forma bem mais irregular do que o previsto nos horários oficiais) as ligações marítimas de passageiros e viaturas entre o porto da vila das Lajes das Flores (via Horta) com as restantes ilhas. Assegura ainda o transporte regular de passageiros entre as vilas das Lajes e Santa Cruz das Flores e a Vila do Corvo.

1.2. Corvo
A Ilha do Corvo é a mais pequena e a mais setentrional do arquipélago. Localiza-se no Grupo Ocidental, a 6 milhas náuticas a norte das Flores. Ocupa uma superfície de 17,12 km2, com 6,5 km de comprido por 4 km de largura.
A Vila do Corvo, única povoação da ilha, é sede do município do mesmo nome. Em 1987, as funções dos órgãos de freguesia foram assumidas pelos correspondentes órgãos municipais. Na ilha teriam sido descobertas cerca de uma centena de hipogeus (estruturas de terra cavadas na rocha primitivamente usadas como sepulturas há dois mil anos), incluindo algumas na cratera e aguarda-se o seu posterior estudo. A primeira citação desta ilha surge em 1351 no Atlas Médici como Ilha Dos Corvos Marinhos e em 1375 no mapa Catalão surge já distinta das Flores. Diogo de Teive, navegador português, tê-la-á descoberto oficialmente em 1452 ao regressar da Terra Nova. Quanto ao nome teve vários em diversos mapas: Ilha Dos Corvos Marinhos, Ilhas Floreiras, Ilha do Farol, Ilha Nova das Flores, Ilha de Santa Iria, Ilhéu das Flores, Ilha da Estátua, Ilha do Farol, Ilha Negra, Ilha de São Tomás, Ilha do Marco. Começou a ser habitada com um grupo de 30 pessoas lideradas por Antão Vaz de Azevedo da Ilha Terceira, e posteriormente um outro grupo da Terceira (família Barcelos) mas ambos abandonaram a Ilha.
Em 1548 Gonçalo de Sousa donatário das Flores e do Corvo foi autorizado a mandar escravos de Santo Antão (Cabo Verde) como agricultores e criadores de gado. A primeira Igreja data de 1570 e a partir de 1580 juntaram-se os colonos das Flores, sendo a sua primeira paróquia estabelecida em 1647 e a sua primeira administração civil data de 1832. Quando os navegadores portugueses aportaram pela primeira vez à pequena Ilha do Corvo, nos Açores, em meados do século XV, encontraram ali uma intrigante estátua de pedra, representando um cavaleiro com traços caraterísticos do norte de África. Este episódio, despercebido a gerações de portugueses, iludido pelos manuais escolares, constitui um ponto de partida fulcral para a grande interrogação: quem descobriu pela primeira vez os Açores? Sabendo-se das diferenças qualitativas, não só etimológicas, entre “descobrimento”, “descoberta” ou “avistamento”, importa conhecer as diferentes etapas que fizeram da gesta das Descobertas Marítimas do Renascimento mais uma consequência do que antecedência gerada no zero dos saberes e da ignorância total sobre rotas oceânicas e capacidades náuticas epocais.
Não existem provas científicas de que os Açores sejam o remanescente do mítico Continente da Atlântida que, outrora, teria sido o berço de uma próspera e culta civilização, entretanto desaparecida nas profundezas do oceano. Curiosamente, no livro de banda desenhada, O Enigma da Atlântida de Blake e Mortimer, a Ilha de S. Miguel é uma das portas de saída da Atlântida. Através dos tempos, a Atlântida foi sempre motivo de cogitações e explorações fantásticas. Não faltaram, mais recentemente, escritores, jornalistas ou romancistas e mesmo cineastas, que chegaram a reconstituir, com um esforço de imaginação, a arquitetura, o traçado e os materiais de construção da capital da Atlântida. Confabularam o vestuário, o modo de vida da população; a sua economia, as suas classes sociais, a sua religião, os seus deuses e demónios; os seus imperadores; as suas orgias, a beleza estranha da soberana desse reino submerso. Especulações e nada mais.
Platão tem sido submetido a uma das mais ferozes análises críticas, na tentativa de descobrir mais algum pormenor que conduza à localização da misteriosa Atlântida. Quiseram alguns geógrafos e historiadores ver na narrativa do filósofo grego uma alusão poética a um muito antigo conhecimento da America. O facto não é tão extraordinário como pode parecer à primeira vista, se considerarmos o arrojo marinheiro dos fenícios, e se juntarmos as recentes travessias do Atlântico por navegadores solitários em frágeis embarcações.
O historiador Pausanias diria mais tarde (150 AC):
“Existia em pleno oceano, longe, e a oeste, um grupo de ilhas habitadas por homens de pele vermelha e cabelos como crinas de cavalo”.
Narrativa extraordinária pois. Ou pura imaginação que, coincidentemente, iria encontrar eco na realidade descoberta 1600 anos depois?
Plutarco, entre os anos 40 e 120 DC, escrevia:
“Existem a oeste, no oceano, na mesma latitude da Grã-Bretanha, diversas ilhas atrás das quais se estende um vasto continente. Essas ilhas caraterizam-se pelo fato de que o sol aí brilha ininterruptamente durante trinta dias. A noite, o astro recolher-se-ia cerca de uma hora, mas mesmo nessas alturas, a obscuridade não seria total, porque o horizonte, a ocidente, ficava sempre iluminado por um crepúsculo”.
Plutarco descrevia, sem dúvida, terras próximas do círculo polar. O continente, só poderia ser a América. Juntem-se essas narrativas à hipótese de que, antes de Cristo, já os Açores e a Madeira terem sido explorados pelos fenícios, e não acharemos tão improvável o facto de que o Novo Mundo fosse conhecido na antiguidade.
A Atlântida não seria, então, o continente sul-americano? O poderoso reino a que se referia Platão não seria o império dos astecas? Convirá referir que é mais aquilo que desconhecemos do que o que sabemos sobre grandes civilizações da antiguidade. Muitas delas sumidas misteriosamente. Extintas dum momento para o outro, sem qualquer razão aparente, para além de colisões de meteoritos, aquecimentos globais ou outras causas por desvendar. As viagens de Fenícios e Cartagineses tiveram grande importância na Antiguidade para fins comerciais. As que poderiam ter levado a um reconhecimento dos Açores, foram a circum-navegação do continente africano, de Oriente para Ocidente, a mando do faraó Necho em finais do séc. VII a.C. e a viagem do cartaginês Annone, que perto do fim do século V a.C., abriu as velas de Cartago rumo ao Atlântico, ultrapassou as Colunas de Hércules (Gibraltar) e chegou ao Golfo da Guiné.
É curioso que as únicas referências ao conhecimento dos Açores, anteriores à chegada dos Portugueses, sejam fenícias e ambas relativas à Ilha do Corvo. Como eu dizia nos anos 70 num dos meus programas de rádio em Macau “Todas as coincidências têm uma causa matematicamente provável”. Neste caso podem existir também causas cientificamente prováveis. Fazendo fé na historiografia antiga, a probabilidade de os fenícios terem chegado aos Açores, é elevada.
Humboldt refere no “Examen Critique” que em 1749, uma tempestade violenta teria abalado as fundações de um edifício parcialmente submerso na ilha do Corvo. No fim da borrasca descobriu-se, entre as ruínas, um vaso contendo moedas de ouro e cobre que foram levadas para um convento, e das quais nove foram preservadas e enviadas ao padre Enrique Flores, em Madrid, que as cedeu a J. Podolyn da Academia de Ciências de Estocolmo. Algumas moedas apresentavam a figura de um cavalo por inteiro, outras apresentavam somente a cabeça desse animal. Alguns peritos afirmaram com suficiente grau de certeza que se tratava de duas moedas fenícias do norte de África (da antiga colónia grega de Cirene ou Cirena [em grego Κυρήνη, Kurene] na atual Líbia, a mais antiga e mais importante das cinco cidades gregas da região). As restantes sete eram moedas cartaginesas.

Continua

Chrys Chrystello*

*Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

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