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Entre o Oriente e o Ocidente Os filhos da Revolução francesa

“As promessas dessa revolução ainda estão a produzir flores e frutos e muitas sombras caem sobre as motivações que não se concretizaram. A nova ordem estabelecida abandonava a transcendência e procurava criar uma organização puramente racional e humana.”

O Ocidente parece mostrar uma enorme tolerância, permissividade e passividade ambígua diante dos migrantes instalados. Se não chega até a ser pusilanimidade com os muçulmanos e outros estrangeiros que são bem acolhidos e vêm viver para esta civilização. Este Ocidente que ajuda a alastrar a globalização numa velocidade impressionante, com todas as suas complexidades e duvidoso entendimento, encontra um forte obstáculo e incompreensão no fundamentalismo. Este opõe uma feroz e brutal intolerância ditatorial a essa concepção da condição humana, à igualdade dos géneros, à separação dos poderes e a uma série de liberdades que gozamos sem nos darmos conta da sua fragilidade e preciosidade.
O progresso e a falta de limites sem a liberdade, ainda assim, mostram evidências de uma mudança que mina o etnocentrismo e todas as suas intransigentes tradições. Por toda a parte, muitos dos povos que se considerariam longe do que se diz “civilização” vivem de sobras e nas orlas dela. As “democráticas ditaduras” simulam uma liberdade impossível para milhões de seres humanos. Estamos cegos ou intoxicados pelos meios sofisticadíssimos que nunca descansam. A ilusão do senso comum é geral e contagiante.
Nada parece escapar aos insidiosos efeitos desta imparável alteração global do planeta. Cansamo-nos com a propaganda constante dos média. Desde as armas mortíferas que caem nas mãos insensatas, aos inevitáveis sacos plásticos, sandálias e tecnologias sofisticadas. A mudança é veloz e inevitável. Ninguém, povo ou remota tribo nos confins do planeta, da Amazónia aos Urus lacustres do Peru, dos esquimós aos grupos nómadas do deserto africano ou asiático.
A Revolução Francesa de 1789 foi um marco e uma encruzilhada com mil direcções que trazia um lema a anunciar uma nova ordem e muita paz que nunca se cumpriu e muito se discute. Da liberdade teremos visto provas com bons e maus resultados, a igualdade levou a crimes tenebrosos e a fraternidade jamais foi levada a sério até agora, por nenhuma revolução política ou de outra ordem, mesmo as religiosas.
As promessas dessa revolução ainda estão a produzir flores e frutos e muitas sombras caem sobre as motivações que não se concretizaram. A nova ordem estabelecida abandonava a transcendência e procurava criar uma organização puramente racional e humana. Mal começara a Revolução, logo o sangue inocente jorrou em nome da Justiça e da Liberdade. Depois o sonho levantou voo com Napoleão, mas logo foi derrubado com um Bonaparte imperador e um poder que sempre enlouquece. Invertem-se e atraiçoam-se os belos ideais ainda em botão e gelados apenas ruínas e decepções percorre toda a Europa que se acobarda com mágoa dos idealistas, artistas e intelectuais Hegel fascinado viu em Napoleão o arauto dos ideais revolucionários.
Mesmo ao nosso lado
Arrebatado, o filósofo assistira em Iena à chegada de Napoleão e encantado comentara: (Reis Alfredo, 1995) [vi] “Eu vi o Imperador. A Alma do Mundo cavalgando na cidade… Foi uma impressão maravilhosa, Ver, aqui mesmo, num ponto determinado, ver este personagem (…) Só um homem extraordinário podia fazer um tal progresso” Mas enganava-se. Bonaparte foi uma “figura” da razão e o seu despotismo, a ditadura e a continuidade das guerras, a campanha da Rússia derrubaram-lhe o Poder. A razão deixou de estar do seu lado e ficou ensombrado pelo mar de sangue que deixou à sua volta e as mudanças forçadas que obrigou até a povos distantes como o México a aceitar as suas imposições e um rei estrangeiro.
Dos escombros de um utópico império surgem os nacionalismos ainda em nome da liberdade e nova ordem se anuncia.
O século XXI é o século do desenvolvimento de novos nacionalismos, das democracias dos Partidos. Embora com aspetos bem sombrios é muito maior a nova escravatura para muito mais povos do que em qualquer época anterior. Como sempre, o erro dos grandes homens da História é confundir as suas finalidades com a nova etapa de que são apenas um instrumento da “astúcia da razão”. Servem as suas paixões e a História continua e não se compadece deles nem de nenhum povo.
Se há mais medo e inseguranças no século XXI, a Natureza reclama os seus direitos. O anúncio de novos paradigmas com mais riscos, contingências, fundamentalismos mas também poucas consciências despertas para a corrupção, o ambiente, a destruição do planeta. Nunca existiram tantos cientistas, letrados e conhecimentos ao lado da dissimulação do Poder do Oriente face às ruinas do Ocidente.
O futuro é algo de que não se pode ter qualquer perspectiva quando tantas variáveis e contingências, possibilidades e problemas de imensa complexidade se abrem a velhos e novos povos.
Apesar de todo o bem-estar, progresso e desenvolvimento, os homens não evoluíram e nunca o medo aumentou tanto e a insegurança é crescente, as vítimas são os culpados e os culpados as vítimas, todos juntos não se distinguem pelos milhões de mortos. Ignoramos a face oculta das ditaduras sempre “democráticas e para bem do povo”. Os partidos são o poder e os povos o extermínio da tolerância e das pessoas.
A pressa não evita o atraso, a tolerância não protege da violência. O utilitarismo continua e o extermínio também. As novas gerações enfrentarão mais desafios, mais riscos da Natureza desafiadora, mais escolhas do que em qualquer tempo e todas as portas dos “ses” estão em aberto! Todavia, constantemente informados e educados a realidade transforma-se em “conhecimento correto”.

Lúcia Simas

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