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Homenagem: Dizeres dum açoriano

É difícil escrever “umas linhas”, conforme o explicita o convite da Santa Cada da Misericórdia de Braga, sobre o Homenageado, o Dr. Bernardo Reis, tão querido nessa bela instituição.
Seguir o ritual curricular seriam folhas de texto maçudo. Seguir o coração é o oposto, é o fluir do sentimento. Prefiro esta opção.
Assim, conheci o colega Bernardo Reis em Coimbra, já licenciado e tendo como Mestre e amigo o Professor Doutor Cotelo Neiva, Lente de Geologia (quarto ano).
Eu, simples aluno da Faculdade de Ciências do Porto, ia entregar ao Lente coimbrão amostras carotadas (com brocas diamantadas) numa futura barragem eléctrica nortenha, em longas caixas de madeira, remetidas pelo Doutor Miguel Montenegro de Andrade, meu professor de Petrologia (tendo por sinal o agora Prof . Eurico Pereira como colega).
Bernardo Reis era já um Senhor, sociável e alegre e era o primeiro hidrogéologo a operar no norte, em aquíferos do sedimentar e em maciços fracturados. Tinha dois grandes “ inimigos” , ou seja, um padre que “adivinhava”, água com um pêndulo de fio gorduroso e esfera reluzente e um “agueiro” (vedor) de renome que se gabava de “botar” anúncio, com o nome e sucessos, no Notícias do Porto (diário matutino, o Jornal de Notícias).
Porém, com o tempo, os inimigos passaram a amigos, soube mais tarde. A diplomacia de Bernardo Reis foi mais actuante do que a manha do padre e a virulência do vedor…
Entretanto passei para a Faculdade de Ciências de Lisboa, fugindo às fúrias do Professor Montenegro, um bom docente mas com dias absolutamente irreais: eu, vindo da ilha, assustei-me com tanta imprevisilidade (tirava calhaus aos Assistentes que gaguejavam).
Com o tempo, Bernardo Reis passou da hidrogeologia para a área mineira, indo para as colónias, onde o fui encontrar, nomeadamente, em Luanda. No território angolano dedicou-se à pesquisa de kimberlitos (uma rocha vulcânica) e de diamantes; recordo-me de um seminário onde também participaram os nossos colegas, Bernardo Reis, Britaldo de Oliveira Rodrigues e Eurico de Sousa Pereira (Seminário sobre Estruturas Sub-Vulcânicas).
Depois regressei á base de Lisboa e meti-me a fundo em missões vulcanológicas por todo o mundo, com base em Lisboa e cartografia nos Açores, em geotermia.
Bernardo Reis fez pesquisas desde o Gabão à África do Sul. Nessas andanças recebi contacto do Bernardo Reis para ingressar na APG-Associação Portuguesa de Geólogos, uma nova estrutura de cariz britânica (a Royal Society). Sou ainda o sócio 52 dessa prestigiosa estrutura de defesa da Geologia e dos Geólogos.
Bernardo Reis foi um dos progenitores da APG, de colegas que se aventuraram na consolidação e afirmação de tão honrosa e socializante profissão.
Ser geólogo, nos tempos de hoje (ultrapassados os apenas descritivos), envolvido com avançadas tecnologias, ser geólogo repito, é ter excepcionais capacidades de observação, de registo e de comparação, frequentemente aliadas a um poder de decisão tranquilo e convicto.
Bernardo Reis, nonagenário, teve tempo para se inteirar (e dissecar) tais desafios profissionais que se passaram entre dois séculos. Encerra o seu viver com dedicação permanente a causas duma Santa Casa da Misericórdia, a de Braga, sereníssima e prestigiante.

Victor Hugo Forjaz*

*Professor Catedrático Emérito de
Vulcanologia de Engenharia

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