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Folheando o tempo

“Cuidado com as citações que aparecem por todo o lado a afirmar o que Einstein disse ou o Gandhi e até Pessoa teriam pensado. Alguém gosta de parecer mais erudito com a citação de tais nomes.”

Ler é saber mais… ou ainda com mais subtileza e condicionamento “Ler prejudica fortemente a IGNORÂNCIA. Ler jornais é saber mais”.  

Não é viável pois depende da escolha.
Não é viável pois depende da escolha.
Tais slogans veiculados por toda a parte podem alegrar os egos de muitos leitores. Todavia muitas são as obras cujos autores querem que pensemos como eles. Com a repetição, a subtileza da dispersão o nosso espírito torna-se maleável de orientar. A própria linguagem sofre uma constante mudança com termos chavões como o foco em vez da atenção que desapareceu, os etc., os achismos, ou a resiliência, conceito retirado indevidamente da psicologia infantil e que não existe nos adultos. Tudo depende do exercício do nosso espírito crítico, da cultura, das aprendizagens anteriores e de bom senso que é quase o oposto do senso comum.

Os centros comerciais já expõem livros com títulos assaz tentadores, autores em voga, mas a escolha é bem difícil. Escolher um “best-seller” não é critério seguro porque há carreiristas com investigadores por sua conta. Um conselho acerca de um autor depende muito de quem o faz. Para quem quer estar sempre a alargar horizontes e ter uma mente aberta tem de contar com que os que são intemporais, há que consultar mesmo os clássicos, recordar Shakespeare ou mesmo o nosso Jacinto ou Pacheco do Eça. Os livros de “auto ajuda”, fundamentados um optimismo barato, exploram a confiança que inspiram ao leitor e de um encontro às respostas aos seus problemas. Na realidade nunca encontramos facilmente respostas, nem leitores que alteraram a sua vida por tais leituras. Ali tudo acaba bem, mas cria um sentimento de culpa ou incapacidade frustrante de não ficar convencido com os exemplos. Cuidado com as citações que aparecem por todo o lado a afirmar o que Einstein disse ou o Gandhi e até Pessoa teriam pensado. Alguém gosta de parecer mais erudito com a citação de tais nomes. Hoje, Cervantes fica-se pelos moinhos de vento e ninguém se interessa um Fernão Mendes Pinto ou Gil Vicente.
Os artistas e escritores foram sempre presas de mecenas ou elites e nos nossos dias pelos “influencies”, os editores que preferem publicar o que mais agrada a um publico bem pouco esclarecido. Agatha Christe foi também Mary Westmacott. É um exemplo destes surge em obras como “Loinde vous ce printemps” em que usou o pseudónimo de Mary Westmacott onde questionava o sentido da vida e uma introspecção que levava a personagem a uma compreensão melhor do Outro é pouco conhecida. Por isso, continuou nos romances policiais onde o romantismo é bem mais forte do que o treino racional. O género policial tem as suas regras definidas e as pistas deviam apelar ao raciocínio que levasse o leitor a um exercício lógico mental. Erelly Queen, autor que é também pseudónimo, criado por dois espectaculares primos, Frederic Dannay e Manfred B. Lee, usava com rigor as regras do jogo policial. Depois de descobrir a intriga o livro deixa de interessar. Foi consumido mas o jogo é honesto. Também o editor colou Donald Coyne ao seu personagem aventureiro Sherlock Holmes que o aprisionou toda a vida e lhe deu a notabilidade.
Com a mudança na era digital o sentido do tempo põe-nos sempre atrasados. Uma leitura de um “livro de cabeceira” tornou-se raro. Como produto a consumir não se repete uma leitura. Afinal uma obra deve ser lida diversas vezes quando não é para consumo. O tempo que dispomos, em períodos de paz, está dividido em atividades, preparação da imagem, tarefas de culinária e alimentares quase obsessivas e lideram um roteiro onde não há pausas.
O êxito social torna a vida privada quase inexistente porque há tribos, há redes sociais que correspondem aos interesses comuns e tornam público o que antes se considerava privado. Embora se diga que se vive bem melhor e mais tempo a qualidade de vida deteriora-se em função da quantidade cansativa de mil tarefas quotidianas que nos escravizam.
O Dr. Google tem respostas para tudo, mas cuidado, tem uma superficialidade enganosa. Os hábitos de leitura dos jovens não transitaram muito para a leitura digital nem mesmo para qualquer leitura que amplie os horizontes em vez de entrar num reino onde o superficial é o apelo romântico que se encontra. Com a propaganda de uma obra e a leitura da sua sinopse adquirimos um vago e erróneo conhecimento do seu âmago.
As obras de ficção científica escondiam cientistas que não se atreviam a divulgar as suas utopias, muitas delas já ultrapassadas na realidade. Raymond Bradley ou Isaac Aminov escondem uma filosofia por trás dos seus mundos imaginários. A ficção científica hoje é um entretenimento agressivo.
O planeta muda e a sua velocidade aumenta em todos os campos. A cortina da política e as utopias espreitam a cada passo e a geração Z não pode ser tão ignorada pelo que se passa na Rússia ou na China. Tudo se tornou perto e imenso ao mesmo tempo. O mundo de “Alice” “por trás do espelho” transformou-se no nosso tempo, sempre atrasados como o coelho da história que merece sempre um regresso refrescante. Afinal estamos sempre no virar da esquina num imaginário que acreditamos ser o real.

Lúcia Simas

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