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Politicamente (in)Correto

Num esforço importante, que implica meios técnicos, financeiros e humanos no limite das possibilidades de uma estrutura como a RTP Açores, a televisão e a rádio públicas regionais promoveram os debates possíveis, de acordo com a legislação vigente.
No caso da Região Autónoma dos Açores, ela sublinha a necessidade de “tratamento não discriminatório” entre todas as forças políticas concorrentes ao ato eleitoral do próximo domingo. É legislação arcaica, da exclusiva responsabilidade da Assembleia Legislativa Regional, e que limita, por exemplo, a aplicação natural de critérios jornalísticos que permitiriam, por exemplo, a promoção de um debate direto entre os dois verdadeiros candidatos à Presidência do Governo Regional, Vasco Cordeiro e José Manuel Bolieiro.
Fica, porém, clara e transparente a enorme dedicação de todos os operacionais da RTP para conseguirem, cumprindo a letra de lei, dar voz a quem interessa aos eleitores. E também, claro, a quem nada acrescenta no panorama eleitoral das nove ilhas.
Partamos de uma evidência, que resulta da distribuição demográfica da população açoriana, do consequente número de deputados a eleger por cada círculo eleitoral e do peso (relativo e substantivo) de cada ilha na realidade sócio-económica dos Açores: tudo se decide com a votação em São Miguel e, eventualmente, com as franjas do “círculo de compensação” a beneficiarem partidos de menor representatividade que, em condições “normais”, jamais lograriam lugares no parlamento da Horta.
Os líderes partidários sabem desta realidade, e têm-no passado à prática na primeira semana de campanha eleitoral, que sigo à distância de uns “seguros” 12 mil quilómetros.
E se Bolieiro e Cordeiro prometem luta cerrada até à contagem dos últimos votos, alguns outros tentam, quase desesperadamente, agarrar ou manter o lugar no hemiciclo, seja pela derivação para novas forças políticas (Carlos Furtado já esteve no PSD, no Chega, foi deputado independente e é agora candidato pelo “Juntos Pelo Povo”, uma espécie de filial açoriana de uma força política criada na Madeira…), seja pela manutenção de ideias “cliché”, com duvidosos poder de argumentação e narrativa, como nos casos de Nuno Barata (Iniciativa Liberal) e Pedro Neves (PAN). Do Bloco pouco ou nada se pode esperar mais, sobretudo quando o seu líder parlamentar, notoriamente, não domina temas que pretende abordar (como a privatização da Azores Airlines).
É, seguramente, o problema de muitos deputados (e candidatos a…) demasiado generalistas, agarrados ao discurso político quadrado, sem rasgo, sem novidade e sem capacidade de persuasão.
O que resta, então? Claramente o “voto útil”. A chamada dos eleitores açorianos às urnas, dentro de uma semana, é demasiado importante para ser desperdiçada em franjas eleitorais, mesmo que algo “musculadas” pela mimetização de sondagens nacionais que, como já se viu bastas vezes, não têm réplica ou relação de proporcionalidade diretas com o que sucede no arquipélago.
E é justamente à procura do voto útil que Bolieiro e Cordeiro se têm desdobrado, aliando à necessária pluridimensionalidade do território a consciência clara de que os concelhos de Ponta Delgada, Ribeira Grande, Lagoa, Vila Franca do Campo, Povoação, Nordeste, Angra do Heroísmo e Praia da Vitória acabam por representar o quinhão mais significativo do eleitor verdadeiramente decisor.
Serão eleições renhidas, talvez sem a maioria absoluta que ambos procuram (Bolieiro reconheceu-o no último debate televisivo e Cordeiro não o fez…). A próxima legislatura transporta desafios importantes no espaço e no tempo e vai, talvez finalmente, forçar à reforma do sistema político e eleitoral da região. Uma das principais necessidades, reconhecida em surdina mas nunca verdadeiramente assumida como prioridade, talvez porque traga limitações ao número de deputados, aos respetivos mandatos e ao “status quo” de uma classe (a política), que nunca se deveria assumir como profissão, antes como missão claramente limitada no espaço e no tempo.
Neste caso, como em tudo na vida, devemos distinguir entre prioridades e opções. Talvez há muitos anos a importância dessa distinção não devesse estar tão presente na mente e na caneta dos eleitores como no próximo dia 4 de fevereiro…

Rui Almeida*

*Jornalista

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