A Ciência da semana: quem dera “um Hospital, um só hospital, que no período da Pandemia tivesse conseguido ter uma curva descendente nas listas de espera”
Como já aqui escrevi, estimativas do contributo de cada determinante da Esta semana foi notícia o aumento das listas de espera no Serviço Nacional de Saúde britânico. A certa altura um comentador suspirava por “um Hospital, um só hospital, que no período da Pandemia tivesse conseguido ter uma curva descendente nas listas de espera”. Um só. De imediato me recordei que nos Açores houve um hospital que conseguiu reduzir as listas de espera, no pior do período pandémico, e de que os açorianos têm razões para se orgulhar: o Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), de Ponta Delgada, nos anos 2021 e 2022.
Comecemos pela Consulta Externa: nunca o HDES atendeu tantos utentes como no ano de 2022. Em todos os meses a variação homóloga foi positiva, atingindo valores de 2 dígitos. No conjunto conseguiu-se que o ano de 2022 tivesse “quase mais 1 mês de consultas”, do que era o normal!
No Bloco Operatório, depois da “paragem” no ano 2020 (originada pela forma como foi gerida a pandemia à época – recordo que a Pandemia de COVID19 atingiu seriamente a ilha de São Miguel entre Dezembro de 2020 e Março de 2021, e de Dezembro de 2021 a Junho de 2022 – ou seja, já em 2021/22) que levou a uma redução radical do número de cirurgias realizadas, aumentando significativamente a lista de espera (ainda mais grave porque a recuperação no HDES – no último ano do governo socialista – manteve-se muito abaixo das médias nacionais – ver gráfico) em 2021 era necessário uma inversão abrupta nesta tendência, sob pena da situação piorar bastante.
É que no fim de 2020 a média regional de espera já se encontrava acima dos 500 dias, e no HDES acima dos 600 dias! Isto implicava graves repercussões na população. Ora, essa resposta foi dada e o resultado fala por si.
Quando 2022 terminou os Açores tinham 9.752 utentes na Lista de Inscritos em Cirurgia (LIC), o número de propostas cirúrgicas era de 10.885, enquanto que o Tempo Médio de Espera (TME), atingia os 290 dias; em 2022 o HDES reduziu o número de utentes em Lista de Espera em 16,54% e de propostas cirúrgicas em 19,59% em relação a 2021; e baixou 27,59% e 31,28%, respectivamente, em relação a 2020. O TME no HDES baixou significativamente: de mais de 600 dias em 2020 caiu para 560 dias em 2021, e para 417 dias em 2022!
Para se perceber bem a dimensão do trabalho realizado no HDES em 2021 e 2022, e usando um exercício meramente académico, se os hospitais da Região tivessem todos a mesma variação, os Açores teriam, no fim de 2022, 13.128 propostas em espera (caso a variação fosse semelhante à do Hospital de Angra), ou 12.701 (caso fosse a do Hospital da Horta) – ou seja, mais 2.114 ou 1.816 propostas, respetivamente. Cerca de 2000 cidadãos que não teriam tido o seu problema de saúde resolvido. Impressionante!
Os dados para análise, da semana: o maior sucesso na área da saúde deste governo, a gestão da Pandemia
A pandemia Covid19 marcou a vida dos Açores, e do HDES, desde Março de 2020 (nunca esqueçamos o triste caso do Lar do Nordeste), mas foi em 2022 que o seu impacto foi maior. Até Agosto/2022 foram internados no HDES 780 doentes por Covid19. Destes, 406 foram-no em 2022 e 274 em 2021. Em 2020 foram “apenas” 100. Ou seja, 52% foi em 2022 (35% em 2021 e 13% em 2020). Quanto ao peso no internamento, em 2020 e 2021 o peso em número de camas ocupadas com Covid19 atingiu dois picos: 8,35% e 8,75% (do total de internamentos); no ano de 2022 os picos atingiram 17,7% em Março e 21% em Junho. Ou seja, nos picos da pandemia, os internados por Covid19 representaram um quinto de todos os internamentos.
Houve meses (em 2022) em que o número de atendimentos na Urgência, por suspeita de COVID-19, chegou aos 30% de todos os atendimentos (27,9% em Janeiro/2022); em Maio ultrapassaram-e os 11 mil atendimentos!
Apesar de 2022 ter sido um ano fortemente pressionado pela pandemia, em São Miguel, nunca foi descurada a actividade assistencial, no HDES, até no combate às listas de espera. Isto merece destaque: é a tal excepção, que noutros países mereceria justa e destacada referência.
A Homenagem da semana: Humanismo com responsabilidade
Entre Fevereiro de 2021 e Outubro de 2022 o HDES reduziu em 83% o número de crianças que aguardavam cirurgia de Otorrino, há mais de 1 ano; reduziu em 52% as que aguardavam Cirurgia Pediátrica; reduziu em 37% as que aguardavam uma Cirurgia Geral. Ao todo, a administração do HDES de então reduziu em 70% o número de crianças que aguardavam uma cirurgia, há mais de 1 ano.
Além da prioridade para o que de mais importante há, quem consultasse o “Mapa central de Responsabilidades de Crédito” do HDES no Banco de Portugal (uma espécie de raio-x financeiro aos créditos da empresa HDES, atualizado pela informação fornecida pelas instituições financeiras ao Banco de Portugal), poderia verificar que em Fevereiro/2021, o montante em dívida do HDES era de 13 milhões 777 mil e 865 euros (crédito vencido – o HDES nem um cartão de crédito conseguia ter, por causa disso!). No final de 2022 era de ZERO euros. ZERO! Quem consultasse o jornal oficial do Governo dos Açores e o AcinGov, poderia verificar que de janeiro a setembro de 2022 o HDES triplicou o número de concursos lançados, em relação a 2021. Concursos cujos resultados começaram a ser vistos em 2023. A bem da transparência e, de um melhor investirmos em saúde, na saúde de todos. Com aquela administração (a de 2021 e 2022) não houve ajustes directos de 75 mil euros para empresas de adjuntos da administração…
Sucesso no atendimento à população, que sofria, na defesa dos mais frágeis e doentes, associado ao respeito pelos fornecedores e contribuintes. Os comentários dos fazedores de opinião (sobretudo os dos corredores sombrios “dos poderes” – ou dos órgãos de comunicação social) são uma coisa, os indicadores e os números são outra. Bem diferente, porque objectiva e clara. Para a História ficam estes, e o caso extraordinário de um Hospital que fez o que lhe competia, contra muitas forças, e todas as probabilidades. No serviço público não bastam palavras ou intenções. O que as pessoas esperam são acções, que resolvam os seus problemas e necessidades, sobretudo em tempos de crise. E isso os micaelenses anónimos tiveram, na administração do HDES (e na sua equipa), em 2021 e 2022.
*Mário Freitas, médico consultor (graduado) em Saúde
Pública, competência médica de Gestão de Unidades de Saúde