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Ad multos annos!

O jornal Diário dos Açores de Ponta Delgada completa hoje 154 anos de vida! Motivo para todos celebrarmos.
Hoje cada ano de vida de um jornal diário e centenário, numa região pobre como os nossos Açores, representa uma extraordinária luta pela sobrevivência e diz também muito da participativa e viva comunidade onde se insere e que serve. É certo que nos últimos anos perdemos nos Açores alguns prestigiados títulos e que tanto deram á comunidade a que pertenciam. Estou a recordar-me da “União” de Angra, dirigida entre outros pelo meu saudoso amigo Padre Coelho de Sousa, do Telégrafo da Horta dirigido por Rogério Contente e que até ao seu final devia ser o único Diário Português que ousava publicar de quando em vez na sua primeira página um poema ou também do combativo Correio da Horta da mesma cidade.
A mais recente revolução do digital veio ainda trazer mais nuvens negras ao futuro da imprensa em todo o mundo e por maioria de razão â imprensa regional das nossas ilhas.
O digital é em meu entender a segunda maior disrupção na História dos Média, a seguir à invenção da imprensa de Gutenberg. E tal como a imprensa de Gutenberg que no final da idade média veio abrir o conhecimento ao mundo (até então fechado no círculo fechado da Igreja e dos monges copistas) o digital, compreendendo naturalmente a invenção da internet veio universalizar o conhecimento e a informação à distância de um clique. Mas nas oportunidades há sempre ameaças e à maravilha da instantaneidade e da globalização da informação, juntaram-se a partilha ilegal dos jornais, a fuga da publicidade para o digital e os gulosos motores de busca que sem retribuírem o trabalho dos jornalistas, sugam a informação diligentemente elaborada pelos profissionais da informação. Mais recentemente à chaga das redes sociais, onde pululam a ignorância, a manipulação e a imbecilidade, juntaram-se a tecnologia, manipuladora de imagens e de sons ou capaz de centros de repetição de notícias falsas. Estas são fabricadas para influenciar os acontecimentos e o destino político dos povos, através dessa nova arma digital poderosa, feita de hackers especializados espalhados um pouco por todo o mundo ou os chamados Bots, armazéns sem nenhum humano, com milhares de telemóveis ligados com software específico que repete sem cessar, durante o dia e na escuridão da noite, 24 sobre 24 horas, essas notícias fabricadas e as espalham pelos olhos da humanidade. Difíceis e complexos tempos estes…
Longe vai o tempo em que no silêncio da casa a meio da tarde, ouvia o escorregar do jornal do Diário dos Açores por baixo da porta da velha casa da Rua Luís Soares de Sousa onde morava e saltava com rapidez os degraus de pedra dois a dois, para ser o primeiro a ler as notícias de primeira página ou no interior as notícias da comunidade. Nesse tempo, os óbitos, parte triste dessa informação comunitária, eram também escritos e afixados na montra do jornal na esquina da Rua da Cruz onde se juntavam e concentravam os passantes, numa espécie de leitura do jornal de parede. Nesse tempo o Diário dos Açores era vespertino e contava nas suas fileiras outros amigos que já partiram como o João Silva Júnior, o Manuel Jorge e o Carlos Tomé que mais tarde seria meu colega na RTP-Açores, este felizmente tanto quanto sei continua de boa saúde e revelou-se um escritor de bastos recursos.
Hoje o Diário dos Açores é bem diferente daqueles tempos. Já não ficamos com os dedos sujos de tinta da linotype nem o jornal tem o mesmo cheiro…
Oferece um aspecto gráfico excelente, com imensa ilustração totalmente a cor, com informação valiosa e útil à comunidade. Mas acima de tudo, é um espaço plural de opinião comunitária e combativo nas causas que servem o interesse comum da cidade, da ilha e da região a que pertence, característica aliás secular da imprensa de Ponta Delgada. Aí na primeira linha da denúncia e do combate, estão os editoriais do seu primeiro responsável, o jornalista Osvaldo Cabral, artigos logo multiplicados em leituras nas redes sociais, circulando por todos os Açorianos espalhados pela diáspora, no Continente e nas Américas, lidos num ápice instantaneamente graças ao digital e independentemente da latitude ou lugar onde se encontrem. É por isso, por esse papel indispensável na causa autonómica e no fortalecimento da sociedade civil e de uma cidadania participativa, que gostaria em tempos sombrios para a sobrevivência dos nossos jornais, de apelar à comunidade e aos seus responsáveis políticos para a importância de não deixar morrer a nossa imprensa.
Cada ano que passa, mantendo-se diária a publicação do Diário dos Açores é pois também uma vitória do jornal e do seu Director executivo, o meu amigo Osvaldo Cabral, a quem endereço e por seu meio aos proprietários e a todos os trabalhadores um abraço de felicitações.
Ad multos annos!

Lopes de Araújo

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