Esta edição do Diário dos Açores que o leitor tem nas mãos é histórica.
Tem o número 43.297 e corresponde a 154 anos de publicações ininterruptas, desde que Manuel António Tavares de Resende iniciou esta aventura em 1870.
Os tempos são outros e os desafios que a imprensa açoriana enfrenta também são diferentes.
A evolução e a dinâmica da comunicação, na nossa sociedade, alterou-se significativamente nas últimas décadas e os média tradicionais, sobretudo em papel, estão a ser confrontados com problemas graves que põem em causa a sua sobrevivência.
O modelo de financiamento dos jornais também teve que ser revisto e, nos Açores, é impossível um jornal sobreviver sem os apoios públicos.
Acontece que o actual quadro de apoio também está desadequado, desde há muito tempo, e precisa de ser revisitado, à semelhança do que é feito com o serviço público de comunicação social no país.
Não é possível, sobretudo numa região como a nossa, os jornais continuarem a sobreviver com um modelo de financiamento desfasado da realidade actual e com os novos problemas que enfrentam nesta área.
Os poderes públicos têm que encontrar um compromisso de regime que não ponha em causa a sobrevivência dos jornais, sob pena de estar em causa o próprio regime, o enfraquecimento da democracia e o pluralismo de ideias que todos desejamos numa sociedade livre e aberta.
Não se trata de um apoio cego, de que se possam aproveitar projectos oportunistas e sem viabilidade, mas de um modelo sério, rigoroso e que tenha como objectivo único facilitar os cidadãos no acesso à boa informação, ao jornalismo de verdade e a uma literacia que combata a desinformação que grassa na esfera pública.
Este é um debate que deve ser feito sem tabus, mas também sem preconceitos de ordem ideológica ou de interesse partidário, como já assistimos por estes dias.
O que está em causa é uma opção. Uma opção pela cidadania, pela informação séria e pelo pluralismo da sociedade, ou então negligenciar tudo isso e deixar que a desinformação descontrolada e desenfreada, sem valores éticos e sem escrutínio, ocupe a sociedade por inteiro, como já está a acontecer nas plataformas digitais, nomeadamente com as redes sociais sem controlo.
Não é justo que muitas dessas redes se alimentem dos conteúdos da comunicação social, como acontece com as gigantescas plataformas tecnológicas, sem nada em troca.
A partilha de conteúdos deve ter um custo correspondente à produção de origem, sob pena da indústria contribuir para a autodestruição da informação.
Por outro lado, o investimento em recursos humanos e técnicos na comunicação social de hoje é cada vez mais exigente e os respectivos custos definem, na maioria dos casos, a qualidade dos jornais e do jornalismo.
Sem bons recursos, não há bom jornalismo.
Ou temos boa informação ou a desinformação, as notícias falsas e a manipulação vão tomar conta de nós.
O Diário dos Açores é um dos jornais mais que centenários da nossa Região e o seu valor histórico e patrimonial regional vai muito para além daqueles que por cá vão passando, dando-lhe continuidade.
Queira a sociedade açoriana, cidadãos e instituições, mantê-lo na esteira dos seus fundadores e no pluralismo dos nossos colaboradores, que nós, trabalhadores de toda a cadeia de produção, cá estaremos com o mesmo vigor e motivação para continuarmos a fazer história.
Muito obrigado aos nossos leitores pelo apoio e confiança ao longo destes 154 anos.
Osvaldo Cabral
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