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José Lourenço, jornalista: “O povo não gostou que o trabalho da Coligação tivesse sido quebrado”

O Diário dos Açores pediu aos analistas e comentadores da política regional, nossos colaboradores, que comentassem os resultados das eleições de ontem. José Lourenço. José Gabriel Ávila, Rui Almeida e Hernâni Bettencourt fazem a análise da noite eleitoral.

Como analisa, numa breve síntese, os resultados das eleições?
A mensagem dos açorianos foi clara: o povo não gostou que o trabalho da Coligação tivesse sido quebrado na anterior legislatura pelo que deve, de forma clara, continuar a governar. Sem maioria absoluta, o líder da Coligação é incumbido da difícil tarefa de criar condições de estabilidade para formar governo para que a legislatura prestes a iniciar não seja, abruptamente, de novo, interrompida.

Quem são os vencedores e os derrotados destas eleições?
Os vencedores são claramente, de forma relativa, o CHEGA, que duplica a votação e de dois (reduzido a um) passa para cinco deputados e acantonar-se na posição de ser determinante para uma maioria à direita. Mas a Coligação é a vencedora “absoluta” (vence em 6 das 9 ilhas; em 13 dos 19 concelhos; e em 106 das 155 freguesias) porque poderia sair-se mal destas eleições, considerando que talvez não tenha levado a sério a necessidade de negociar o último Orçamento e acabou por vê-lo chumbado e isso originar eleições antecipadas. A IL também sai vencedora e contraria aquela máxima segundo a qual quem provoca eleições antecipadas sai penalizado no ato eleitoral seguinte. Ainda que eleito pelo círculo da compensação, a IL aumenta a votação. Os grandes derrotados: desde logo o PS que não conseguiu captar a atenção do eleitorado para o seu Programa muito por culpa da renovação interna que foi pouco feita. É um partido desgastado e sem uma estratégia refundacional clara. E pagou as favas. O BE também perde um deputado à custa da transferência de eleitorado, provavelmente para o PS. A CDU esteve à beira de eleger, mas sofre de uma crise de crescimento, provavelmente semelhante à que o Partido Comunista está a sofrer a nível nacional.

Como considera que vai ser a nova governação?
Três cenários possíveis:

  1. Numa primeira reacção, o líder da AD diz que vai governar em minoria e desafia o PS a desfazer a “coligação negativa” que, no seu entender, foi a responsável pela antecipação de eleições. Significa que espera ser possível um acordo de incidência parlamentar, com os socialistas, mediante algumas condições, a deixarem passar Programa de Governo, Orçamentos e a impedirem moções de censura. Possível? Difícil, considerando o passado e o que separa ambos os partidos. Mas o repto fica lançado e vamos ver com que responsabilidade o PS vai reagir, ele que queria, a todo o custo, que o CHEGA não chegasse ao Governo.
  2. Se esta hipótese não tiver sucesso, fica a Coligação de mãos livres para negociar com o CHEGA cujo líder nacional cometeu um erro estratégico na noite eleitoral e que foi, com sobranceria, encostar a Coligação às cordas e impor unilateralmente as suas condições para a “estabilidade governativa” que passaria por integrar o Governo. Difícil de engolir.
  3. Bolieiro pode querer governar em minoria, negociando, passo a passo, e até, no limite, vitimizar-se e provocar eleições antecipadas à procura da maioria absoluta que agora não conseguiu. Duvidamos que o povo açoriano compreenda e aceite essa eventual estratégia para voltar às urnas daqui a meia dúzia de meses. A mensagem que os açorianos passaram nestas eleições foi clara: queremos que a Coligação continue a governar, compete agora ao seu líder criar as condições para ter um governo estável que dure uma legislatura.
    Acresce que não pode cometer os erros do seu primeiro governo, quer na coordenação política, quer na distribuição das pastas onde deve imperar a competência, mais do que as “quotas” dos partidos que integram a Coligação.
    Bolieiro é um político hábil no diálogo e na concertação tão necessários ao sucesso de qualquer governo.
    Para isso precisa de estabilidade e esta é possível se as forças políticas chamadas ao envolvimento forem responsáveis e se fizerem o caminho da aproximação e não forem marionetas das lideranças do continente e das suas estratégias conjunturais.
    É o futuro da Autonomia dos Açores que está em questão.

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