Durante os últimos três anos exerci o cargo de deputada, no Parlamento Açoriano, com um sentido de responsabilidade enorme. Uma experiência única e inesquecível.
Foi verdadeiramente uma honra representar a população residente, nesta Região, independentemente da idade, género, cor ou crença. Fi-lo, consciente do quão determinantes são os resultados dos trabalhos e respetivas votações.
Travei debates e confrontos políticos em defesa de quem mais necessita. Não tive receios nem vergonha dos ideais pelos quais guio a minha vida.
Senti, in loco, o preconceito enquanto mulher, ativista e gorda. Foram muitas as estratégias utilizadas para me silenciar. Entre excertos misóginos de Winston Churchil, comentários acerca do meu corpo e à expressão histerismo, nunca baixei a cabeça e segui defendendo o que acredito.
Não estive ali por mim, mas sim por uma região cuja Autonomia não conseguiu, em quase cinquenta anos, resolver problemas estruturais, como é o caso da pobreza que desencadeia um quadro negro nos índices sociais.
Não fui reeleita e assumo-o. Encabecei uma lista, pela Terceira, e fui o rosto e a voz da mesma. Portanto, a perda de 148 votos relativamente a 2020 é da minha responsabilidade por não ter conseguido veicular a mensagem. Não tenho problemas em assumir este resultado.
No entanto, e de forma pública, agradeço às pessoas que trilharam este caminho comigo, que permitiram que o BE estivesse todos os dias na rua e nas redes sociais. As campanhas eleitorais são momentos enriquecedores, onde se ouvem muitos desabafos e se conhecem realidades que as portas dos gabinetes não permitem constatar. Ao longo destes dias, e num contacto bastante próximo, entre abraços, voltei a reconhecer que a realidade de muitas famílias é pior do que aquilo que possam imaginar.
Houve noites em branco, muitas. Sou incapaz de entrar no conforto da minha casa e esquecer o que vi e ouvi. E há situações que continuam a atormentar-me, pelo seu carácter cruel de verdadeira exclusão.
O Bloco de Esquerda continua na Assembleia Regional, representado pelo António Lima que irá continuar um trabalho em defesa de todas e de todos. No BE, não baixamos a cabeça perante as adversidades. Continuamos em busca de um presente melhor e um futuro ambicioso.
Uma nota de gratidão às mulheres e homens que encabeçaram as listas do BE, a todas e a todos que aderiram e que participaram nesta campanha. Muito obrigada a todas as pessoas que depositaram a sua confiança no BE!
A luta não se esgota num ato eleitoral. Há muito a fazer no dia-a-dia!
A democracia é linda, mesmo quando o resultado não é o expectável.
A todas e a todos recentemente eleitas e eleitos, votos de bom trabalho! E não se esqueçam de que os egos devem ficar fora dos edifícios da Assembleia Legislativa Regional. É pelo povo que lá estarão.
Nunca se esqueçam que os direitos são conquistados todos os dias!!!
Nas ruas, em tertúlias, em grupos… não deixem encerrar as portas que Abril abriu!
Alexandra Manes