A Polícia Judiciária (PJ), através do Departamento de Investigação Criminal dos Açores, anunciou ontem que deteve ao final do dia de Terça-feira, o alegado homicida de um cidadão estrangeiro de 49 anos de idade, que veio a falecer na sequência de agressão física junto a uma discoteca na cidade da Horta, ilha do Faial, na madrugada do passado Domingo, dia 17 de Março.
O crime terá ocorrido no contexto de uma violenta discussão envolvendo várias pessoas, no desenvolvimento da qual o agora detido, funcionário daquele estabelecimento, terá agredido a soco a vítima, um homem de 49 anos de idade, deixando-o inconsciente.
A vítima foi socorrida e transportada para o Hospital da Horta, onde o óbito foi declarado pelas 17H30 da passada Segunda-feira, dia 18 de Março.
O detido, com 23 anos de idade, será presente às autoridades judiciárias, para aplicação das medidas de coacção.
Manifestação no Faial
Mais de uma centena de pessoas participaram na Terça-feira numa manifestação antirracismo na cidade da Horta, ilha do Faial, em solidariedade com a família de um cidadão cabo-verdiano, que morreu após ter sido agredido no exterior de uma discoteca.
“Não ao racismo!” e “Justiça pelo Ademir!” foram algumas das palavras de ordem repetidas ao megafone por alguns dos participantes na manifestação, organizada pela comunidade imigrante radicada na ilha do Faial, que apelou às autoridades para julgarem “com isenção” o agressor do cabo-verdiano, de 49 anos.
“O nosso objectivo é apelar a um julgamento mais justo, imparcial, limpo e sem preconceitos por parte das autoridades”, explicou aos jornalistas Ella Statmiller, uma das organizadoras da vigília/manifestação, que pretendia também homenagear a vida e o trabalho da vítima.
O homem, natural da Praia, Cabo Verde, residia no Faial, onde trabalhava no ramo da construção civil, e foi agredido na madrugada de Domingo no exterior de uma discoteca, tendo caído inanimado no chão, o que lhe terá provocado um hematoma craniano fatal.
Ainda não se conhecem os motivos da agressão.
A vítima foi transportada com vida para o Hospital da Horta, que chegou a ponderar a hipótese de a enviar para outra unidade de saúde devido à gravidade da lesão, mas o seu “estado clínico reservado” não permitiu a deslocação, tendo ficado em coma induzido até à sua morte.
A comunidade imigrante radicada na ilha do Faial entende que este não foi pontual ou um mero desacato entre duas pessoas e lamenta que, no dia a dia, as pessoas de outras raças e etnias se vejam confrontadas com situações de racismo.
“Eu acho que há, muitas vezes, uma atitude um bocado passiva e é isso que nós queremos mudar. Nós queremos tentar dar voz a estas pessoas, que muitas vezes não sentem que têm espaço para serem ouvidas e fazer com que se sintam mais à vontade para poderem partilhar este tipo de situações”, justificou Ella Statmiller.
Este caso está a ser investigado pela Polícia Judiciária, que tem estado desde Segunda-feira a ouvir testemunhas, na cidade da Horta.
A Associação dos Imigrantes dos Açores (AIPA) condenou, entretanto, em comunicado, a “brutal agressão” que provocou a morte do cidadão cabo-verdiano e criticou qualquer tipo de atitude que propague “ódio, xenofobia ou racismo”.
“A AIPA vem, por esta via, repudiar actos de violência verbal e física contra qualquer ser humano, independentemente de se tratar de um imigrante ou autóctone”, refere o comunicado, assinado pela Presidente, Leoter Viegas.
A Associação de Imigrantes dos Açores apelou também às autoridades judiciais para apurarem as devidas responsabilidades e “sancionar os culpados desse ato bárbaro” e prestou as condolências à família e amigos da vítima.
O Presidente da Câmara Municipal da Horta, Carlos Ferreira, já apelou à calma, recordando que a ilha do Faial é conhecida por “bem receber” e que os cidadãos estrangeiros que optam por vir para os Açores trabalhar ou residir, são “bem acolhidos” e “bem integrados” na sociedade local.
“As autoridades judiciárias e os órgãos de polícia criminal farão, naturalmente, o seu trabalho e vão averiguar certamente as circunstâncias deste incidente, que é de lamentar”, ressalvou o autarca faialense, adiantando que agora o que é necessário é “apurar responsabilidades e transmitir uma palavra de conforto e de calma” às famílias envolvidas.