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Politicamente (in)Correto

A multiculturalidade é uma das bandeiras dos Açores. Os milhares de emigrantes que escolheram as ilhas de bruma para viver e trabalhar ultrapassa muito a média correlativa de outras regiões do globo similares ao arquipélago açoriano.
Viver em segurança, muito mais do que entre inegáveis belezas naturais e permanentes desafios paisagísticos, será o aspeto mais importante na altura da opção, pesando prós e contras e tentando encontrar o paraíso que, noutras paragens, teima em fugir.
Ora este fator – a segurança – é justamente o que tem feito das nove ilhas um destino de eleição para nacionais e estrangeiros. A segurança, a capacidade de acolhimento e de envolvimento na vida quotidiana e de integração plena.
Nos últimos dias, a ilha do Faial foi notícia nos “media” nacionais por motivos que, em parte, contrariam esta tendência (embora, obviamente, não a anulem). A morte de um emigrante cabo-verdiano após uma altercação à porta de uma das duas discotecas faialenses fez eclodir um movimento espontâneo em defesa dos direitos dos que aqui trabalham, da sua inclusão social e, tendencialmente, criticando a xenofobia e os crimes de ódio racial.
Importa, como em tudo, tentar ser equidistante e separar o trigo do joio. Não me parece que haja substantivas motivações raciais para justificar o sucedido com Ademir Moreno, falecido após uma agressão de um funcionário do referido estabelecimento noturno. Se é verdade que esse foi o principal argumento esgrimido com a realização de uma vigília em memória do falecido, em frente à Câmara Municipal da Horta, importa sublinhar que a população faialense (como a açoriana, em geral), é aberta aos forasteiros, inclusiva e reconhecedora das mais-valias que os não autóctones trazem à vida e à economia de cada uma das ilhas e, por consequência, para a imagem da região.
Porém, na mesma noite, na mesma ilha, uma jovem de 16 anos foi vítima de uma brutal agressão de cariz sexual. Estudante na Escola Profissional da Horta e natural da ilha de São Jorge, a jovem foi operada de urgência no Hospital da Horta e, numa primeira fase, não apresentou queixa às autoridades policiais.
Felizmente fê-lo um pouco mais tarde, na sua ilha de origem, espoletando um processo de averiguações e investigação por parte da Policia Judiciária que, espera-se, conduzirá à imputação dos envolvidos e à respetiva condução à justiça.
Se no caso de Ademir é verosímil a perspetiva de um momento de azar (no local errado, à pior hora…), sem retirar, obviamente, a consequência mais gravosa (a morte de um cidadão), a história da violação (um crime semi-público) da jovem jorgense repugna. Independentemente da possibilidade de o álcool ou outras substâncias que configuram dependência imediata poderem ser trazidos à colação, este é um caso brutal que, curiosamente, deixou a sociedade faialense quase muda, tão nítido foi o incómodo – ainda que socialmente – em comentar as circunstâncias do crime.
Importa também que o quadro legal seja estreitado, no que concerne à responsabilidade ética dos estabelecimentos hospitalares. Mesmo que a vontade da vítima seja contrária, a letra da lei deveria, em quaisquer circunstâncias, obrigar as estruturas de atendimento a uma reação imediata, sob a forma de ativação de um protocolo de emergência para potenciais vítimas de maus tratos.
Sob pena de muitos continuarem a encobrir outros tantos, de alguns serem vítimas de vários e de todos, em algum momento das nossas vidas, sermos apanhados a assobiar para o lado.

Rui Almeida*

*Jornalista

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