Eram 5:30 da manhã do passado 29 março. Sexta-Feira Santa. Chovia, registando-se ainda fortes rajadas de vento. E para completar, temperaturas baixas, capazes de fazer arrepiar o mais feliz dos mortais.
Cenário pouco agradável mas não impeditivo de cerca de 300 romeiros que partiram depois da concentração no salão paroquial da igreja do Espírito Santo, fundada a 19 de julho de 1904.
São 124 anos que acolhem os 40 anos de romaria que percorre a velha cidade de Fall River numa caminhada de horação e penitência.
Aliado aos valores religiosos temos os históricos dos templos que se visitam: Igreja do Senhor Santo Cristo, na zona histórica da Columbia Street fundada a 26 de junho de 1892.
São 132 anos de história dando apoio à formação de outras paróquias; Igreja de São Miguel, 28 de fevereiro de 1904: 120 anos ao serviço da comunidade.
E se já a longa caminhada de um dia é uma penitência. A agravante da chuva e fortes rajadas de vento era uma dupla penitência.
Eles e elas. Jovens. Menos jovens. Encaravam a caminhada pela histórica cidade dos teares, olhar em frente, entre Pai Nossos e Avé Marias.
Bruno Pimentel era o mestre. Jeffrey Clementino, contra-mestre. José Soares com o estatuto de mestre. João Jacob, o coordenador da romaria e do grupo dos fundadores.
Gente que reparte entre si as tarefas da romaria, desde as advertências à partida. Reparos nas paragens.
Há sempre pormenores a referir.
Mas todo este aparato religioso teve um princípio.
“Esta iniciativa partiu de José Simões (natural da Ajuda da Bretanha) e António Medeiros (Santa Bárbara, Ponta Delgada), ambos já falecidos.
Em 1984 organizou-se o primeiro rancho de romeiros.
Após o falecimento dos dois fundadores assumem o cargo de mestre António Faria (Santo António Além Capelas), que também já faleceu e Eduardo Ferreira (Ajuda da Bretanha)”, sublinhou o coordenador da romaria João Jacob, natural dos Remédios da Bretanha, São Miguel.
João Jacob que não se intimidou ao ouvir falar na interrupção da romaria tendo afirmado ao Portuguese Times:
“Nunca esteve em causa a realização da romaria da igreja do Espírito Santo em Fall River. A concentração é o exemplo, aqui pelas 6:00 da manhã dos crentes que vão tomar parte nesta caminhada de oração”.
João Jacob já tinha esclarecido na edição de 21 de fevereiro de 2024, toda a confusão que se gerou e que dava a impressão que os 40 anos de romarias iam ser interrompidos. “Tudo isto surgiu pela imposição do mayor em se ter de pagar à polícia.
Sabemos da necessidade da segurança da peregrinação pelas ruas de Fall River. Atravessamos ruas de muito movimento. Não se pode brincar com a vida dos romeiros. Quatro carros da polícia montaram a segurança. As condições atmosféricas eram más. O que agravava mais a segurança da romaria. Na impossibilidade de poder ser gratuito a solução inevitável é pagar”.
Mas a romaria fez-se. E para o ano se Deus permitir o rancho de romeiros vai voltar à estrada.
Mais de 700 romeiros
na Nova Inglaterra
Mais de 700 romeiros reviveram a tradição das romarias quaresmais pelos caminhos da Nova Inglaterra, indiferentes às más condições atmosféricas que se fizeram sentir.
Frio, chuva e ventos fortes foram uma constante enfrentados pelos romeiros de xaile, bordão e cevadeira.
Não de bordão, mas de máquina fotográfica integramos as romarias, que apresentámos semanalmente e agora na sua totalidade.
Pelas 6:00 da manhã de sábado, 16 de março de 2024, saiu à rua a Romaria da igreja de Santo António em Taunton, reduto histórico com 121 anos de existência.
A concentração foi no salão paroquial onde rezaram o Terço, seguindo para a igreja onde se procedeu à bênção antes de iniciar a caminha de oração e penitência.
Eram mais de 80 irmãos. Daniel Almas, o Mestre, tem sido o grande timoneiro desta romaria.
Direi que é um veterano com cerca de 60 anos de Romeiro, iniciados em 1965 no rancho da Vila e Pedreira do Nordeste, com apenas 15 anos de idade. Veio para os EUA em 1967.
E toma parte pela primeira vez numa romaria, quando esta saía da igreja de São João ao sul de New Bedford. Era Mestre Tobias Baptista, que curiosamente também
integrou aquela romaria do passado sábado.
Em 2002 passa a fazer parte do rancho de Romeiros que saía da igreja da igreja de Santo António em Taunton.
“Regressei às origens, em 2019 para ser um dos irmãos do rancho da Vila e Pedreira do Nordeste”.
Daniel Almas é hoje o mestre do Rancho de Romeiros da centenária igreja de Santo António em Taunton.
Quando se apregoa que tudo está a acabar, a Romaria de Taunton, não só aumentou o número de irmãos, como atraiu famílias inteiras.
Dado que a saída da Romaria da Nova Inglaterra acontecia à mesma hora da romaria em Taunton, optámos por esta primeiro e depois fotografar a da Nova Inglaterra na estrada. E aconteceu por volta das 9:00 da manhã, nas proximidades da St. John Neuman Church em Freetown.
Derek Arruda continua a ser o mestre desta romaria de 1 semana.
Devido aos afazerers profissionais, alguns dos habituais romeiros não puderam estar presentes. Mesmo assim os destemidos crentes fizeram-se à Estrada e quando esta edição vai para a rua, percorrem as estradas da Nova Inglaterra, durante uma semana. Entre os romeiros, Luís Santos, mestre dos Romeiro em Bristol, é presença habitual nesta Romaria da Nova Inglaterra.
Romaria de New Bedford
Eram 6:00 da manhã de sábado, 23 de março.
O calendário religioso apontava para o Dia de Ramos. Os romeiros concentravam-se no salão paroquial da Imaculada Conceição ao norte de New Bedford. Chovia forte desde o percurso de ligação iniciado pelas 5:00 da manhã.
Um numeroso grupo de gente crente. Eles e elas de xaile, bordão, cevadeira.
Eram cerca de 100. Acompanharam o Mestre António Pacheco na recitação do terço. Tobias Baptista, contra-mestre, explicou o uso do bordão e a forma como se deve colocar nas diferentes paragens durante o dia.
Mário Almeida, presidente e grande timoneiro da banda do Senhor da Pedra de New Bedford, trajava a rigor e aguardava o inicio da romaria. Presença anual. Costuma fazer-se acompanhar de familiares.
Mas acompanhado ou sozinho lá está anualmente.
“Comecei a ser romeiro aos 17 anos feitos na Achadinha, Nordeste, S. Miguel. Tenho 81 anos de idade. Fiz a primeira romaria em 1960. Vim para os EUA em 1967. Sete anos de romeiro em São Miguel e depois já aqui comecei a ser romeiro em Fall River.
E depois resolvemos fazer aqui em New Bedford.
Estou cansado, mas com fé, que nos dá força e vontade de continuar.
Aqui em New Bedford foi precisamente na igreja da Imaculada Conceição que me iniciei. Achou-se por bem fazer as romarias alternadamente entre as igrejas de São João, ao sul
de New Bedford, que passou para o Monte Carmelo, após o encerramento da primeira, tendo por mestre Tobias Batista e a Imaculada Conceição, aqui ao norte da cidade, onde o mestre continua a ser eu, António Pacheco”, afirmou António Pacheco.
Romaria de Pawtucket
Domingo, 24 de março, sairam à rua os romeiros de Pawtucket, sob vento forte e temperaturas nos 28 graus.
José Pimentel, fundador desta romaria junto da igreja de Santo António estava radiante por ter ultrapassado os 100 romeiros.
Ali Jorge Pacheco era o mestre.
“Já tenho uma experiência de romeiro com mais de cinquenta anos iniciada nas Feteiras do Sul, São Miguel. Fui mestre por três anos antes de vir para os EUA em 1980. Já vivi a experiência de romeiro em Fall River na Sexta-Feira Santa. Aqui em Santo António, tenho ido todos os anos à conta de Deus”, sublinha Jorge Pacheco.
A adesão dos romeiros baseia-se no entusiasmo que se cria em volta da romaria.
“Em 2023 fizemos a caminhada de oração com 90 irmãos este ano já ultrapassamos os 100. Foi uma promessa do padre/irmão João Batista Barros e que saiu certa”, concluiu Jorge Pacheco.
E já no salão, de xaile, lenço, bordão e boné para enfrentar o frio, estava o padre João Baptista Barros.
“Comecei em 2023, tal como Portuguese Times noticiou. Fui lendo, fui pesquisando sobre esta tradição e cá estou de novo em 2024. Foi uma tradição em que me fui integrando com os meus irmãos da paróquia de Santo António. Senti esta paixão de andar.
Rezar. Lidar de perto com os que fundaram este grupo. Estou muito solidário com todos eles, homens e mulheres. Cantam. Rezam. Vivem o testemunho da sua fé”.
Integrado em novas tradições, tem-se ambientado, integrado, acabando por ser assimilado num enriquecimento cultural.
“Estou muito satisfeito na certeza de continuidade”, concluiu o padre João Baptista Barros.
Para concluir, José Pimentel ofereceu um almoço a todos os romeiros, familiares e amigos. De salientar entre os romeiros,
Márcia de Sousa, conselheira das Comunidades Portuguesas, e Victor Santos, responsável pela cultura nos Amigos da Terceira.
Romeiros de Bristol
Este ano, após termos deixado os Romeiros de Pawtucket em direção ao cemitério, fizemos uma paragem na UPB, onde tinha lugar o pequeno almoço do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Dali fomos para Bristol onde tinha lugar a romaria local. Temos por hábito fotografar os romeiros em frente à centenária igreja de Santa Isabel.
Como estávamos cedo resolvemos ir em procura da romaria ao parque do Columban Fathers.
Precisamente na altura subiam o monte ao cimo do qual se encontra uma cruz de grande tamanho, com Jesus crucificado.
Seria ali que Luís Silva, coordenador da romaria, usaria da palavra e para dar o exemplo fez as pazes, publicamente, com um amigo que estava na romaria e com quem estava zangado.
O contra-mestre era o veterano Álvaro Rego, que teceu as mais vivas considerações sobre os romeiros.
O lugar era acolhedor para o desenrolar da constituição do sentido de uma romaria.
Uma romaria que vem crescendo em aderência de irmãos, assim como de mestres que vêm pelo facto de Luís Silva, fundador da Romaria de Bristol, estar presente nas romarias vizinhas, tal como na Romaria da Nova Inglaterra.
Assim, lá vimos o mestre Tobias Baptista e contra mestre José Sousa.
E os Romeiros entravam na histórica Wood Street, o Mosaico Park onde se eleva o busto de Luciano da Silva. A pedra/monumento de Frederico Pacheco. Na travessa em frente à igreja, a Associação D. Luís Filipe, a terceira mais antiga nos EUA. E imponente abrindo as portas aos romeiros a igreja de Santa Isabel.
por Augusto Pessoa, nos EUA
Exclusivo Portuguese Times/
Diário dos Açores