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Saúde Pública e a Saúde do público, semana a semana (52): Mais vacinas e menos poluição

Os dados para análise da semana: as vidas salvas pelas vacinas

Em Dezembro de 2020, a FDA (Food and Drug Administration) autorizou 2 vacinas de mRNA contra a COVID-19, nos EUA. A vacinação foi prioritária em profissionais de saúde e residentes em instituições de cuidados de longa duração, sendo faseada na restante população, começando nos mais velhos e com problemas de saúde de alto risco, e concluindo nos jovens saudáveis. Foi assim em todo o lado, por razões óbvias, apesar de em alguns locais algumas “almas iluminadas” terem tentado ideias sui generis, como vacinar a população inteira de uma freguesia (com população especialmente jovem) com um maior taxa de incidência da doença, para assim terminar algumas semanas mais cedo uma “cerca sanitária” fundamental para proteger todas as outras freguesias à volta. Essa ideia mirabolante teria retirado esse recurso fundamental (a vacina) a quem mais precisava, e assim teria implicado algumas dezenas de mortes nos mais frágeis. Como sempre, a ignorância é atrevida, mas (pelo menos nessa altura) não triunfou.
No Oregon, pessoas saudáveis com idade igual ou superior a 16 anos tornaram-se elegíveis para a vacinação contra a COVID-19 no dia 19 de Abril de 2021. Então, apareceram relatos de miocardite após a vacinação, especialmente em jovens do sexo masculino. Esta miocardite pós-vacinação era leve e sem sequelas. Até 17 de julho de 2023 nenhum caso letal de miocardite no Oregon fora notificado ao “Sistema Federal de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas” (VAERS). No final de 2022, relatos de mortes súbitas entre jovens atletas previamente saudáveis, com sugestão de atribuição à vacinação contra COVID-19, apareceram na imprensa.
Para determinar se os jovens no Oregon podiam estar a morrer de causas cardíacas logo após terem recebido uma dose da vacina COVID-19, foram revistas as certidões de óbito do Oregon. Dados de registos electrónicos de saúde de 40 sistemas de saúde dos EUA, no período de janeiro de 2021 a janeiro de 2022 mostram que o risco de complicações cardíacas é significativamente maior após a infecção por COVID-19 do que após a vacinação com a vacina mRNA contra COVID-19, em pessoas com idade ≥5 anos. Dados do CDC mostram uma taxa de mortalidade por doenças cardíacas nos habitantes do Oregon, com idade entre 15 e 34 anos, de 2,9 e 4,1 mortes por 100.000, em 2019 e em 2021, respectivamente. Embora a taxa tenha sido mais elevada no ano pandémico de 2021, a miocardite continuou a ser uma causa de morte pouco frequente em pessoas deste grupo etário. No estudo “Avaliação do risco de morte cardíaca súbita entre adolescentes e jovens adultos após recebimento da vacina COVID-19 — Oregon, junho de 2021 a dezembro de 2022”, de Juventila Liko, MD e Paul R. Cieslak, MD, publicado on-line a 11 de abril de 2024, de 1292 mortes nos residentes do Oregon com idades entre 16 e 30 anos, entre junho de 2021 e dezembro de 2022, nenhuma pôde ser atribuída a causas cardíacas nos 100 dias após receber 1 dose da vacina mRNA contra a COVID-19. De 1 de maio de 2021 a 31 de dezembro de 2022, um total de 979289 doses de vacinas contra a COVID-19 foram administradas a habitantes do Oregon, com idades entre os 16 e os 30 anos (dados não publicados, ALERT IIS, 2024). No mesmo período a COVID-19 foi a causa de morte de 30 residentes do Oregon nesta faixa etária. Entre estes 30 falecidos, apenas 3 tinham recebido alguma vacina contra a COVID-19. Estudos demonstraram reduções significativas na mortalidade relacionada com a COVID-19 nas pessoas vacinadas; nos primeiros 2 anos da vacina COVID-19 nos Estados Unidos, a vacinação evitou cerca de 18,5 milhões de hospitalizações e 3,2 milhões de mortes.
Todos estes dados não apoiam uma associação entre a vacina mRNA contra a COVID-19 e a morte súbita em jovens previamente saudáveis. A vacinação contra a COVID-19 é recomendada para todas as pessoas com idade ≥6 meses para prevenir a COVID-19 e complicações, incluindo a morte.

A Ciência da semana: A exposição a baixas concentrações de poluição atmosférica tem um impacto maior na saúde humana do que se pensava anteriormente.

É a conclusão que podemos encontrar na SCIENCE, de 4 de Abril de 2024, em “Assessing the health burden from air pollution – A broader approach to assessing the burden of disease from air pollution is required”, de TORBEN SIGSGAARD e BÁRBARA HOFFMANN. [Vol 384, Issue 6691. pp. 33-34.
A saúde humana é afectada pela poluição do ar. Os poluentes incluem gases [por exemplo, dióxido de nitrogénio (NO2), NOx e ozono] e material particulado, que se caracteriza pelo seu diâmetro aerodinâmico inferior a 2,5 μm (PM2,5) ou inferior a 10 μm (PM10). Os poluentes atmosféricos são emitidos pela produção de energia, indústria, tráfego, aquecimento e agricultura. A exposição crónica a poluentes atmosféricos provoca doença cardíaca isquémica, acidente vascular cerebral, hipertensão, insuficiência cardíaca congestiva e arritmias, infecções respiratórias, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), asma, cancro do pulmão e bronquite aguda e crónica. Da mesma forma, a incidência de diabetes mellitus tipo 2, demência, doença de Parkinson, diminuição do peso ao nascer e parto prematuro aumentam com a exposição à poluição do ar. Nas sociedades em envelhecimento, o fardo das doenças resultantes da poluição atmosférica representa uma importante preocupação de saúde pública.
Em Setembro de 2021 a Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçou as suas Directrizes de Qualidade do Ar para um ar limpo, reduzindo os níveis anuais recomendados de PM2,5 de 10 μg/m3 para 5 μg/m3 e os de NO2 de 40 μg/m3 para 10 μg/m3, e introduziu uma nova diretriz para o ozono na temporada alta. Em 7 de fevereiro de 2024 a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) reforçou o padrão PM2,5 para 9 μg/m3. O Parlamento Europeu conseguiu um acordo, em 20 de fevereiro de 2024, que diminuiu os limites anuais de PM2,5 para 10 μg/m3 e os de NO2 para 20 μg/m3. De acordo com a informação da Agência Europeia do Ambiente, em 2022 menos de 1% da população urbana da Europa foi exposta a níveis de PM2,5 que excedem as atuais normas anuais europeias, enquanto 97% excedeu as novas Diretrizes de Qualidade do Ar da OMS de 2021. Assim, os actuais níveis de poluição atmosférica podem ter um peso substancial de doenças em países de rendimentos elevados que registam níveis de exposição baixos. Os grupos mais susceptíveis correm maior risco de efeitos na saúde decorrentes da poluição atmosférica, mas também serão os que mais beneficiarão das políticas de redução da poluição atmosférica. A relação entre a poluição atmosférica e os efeitos na saúde mostra que os benefícios para a população decorrentes das reduções da poluição atmosférica são possíveis também em níveis baixos de poluição atmosférica e, neste caso, os efeitos parecem ser maiores por unidade de redução. Os benefícios da redução da exposição podem estar atualmente subestimados em áreas de baixa exposição. Assim, embora se deva manter o foco nas áreas mais poluídas, os efeitos reais da poluição atmosférica em áreas de baixa exposição devem ser abordados com um compromisso equivalente.

A Homenagem da semana: Comunicar em Saúde

Cada vez mais necessário. Louve-se quem o faz.

Mário Freitas*

*Médico consultor (graduado) em Saúde Pública,
competência médica de Gestão de Unidades de Saúde

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