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Santo Cristo: provedor deve retirar-se para maior renovação

“Carlos Faria e Maia, com todo o respeito que merece e lhe é devido, fez tudo o que soube e que pôde como provedor da Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres, mas, em minha opinião, deve deixar o cargo em tempo oportuno, para efeitos de renovação.”

Carlos da Costa Faria e Maia teve o grande mérito, entre outros naturalmente, de assumir a função de provedor da Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres, a que já estava ligado. Não era fácil substituir nessa missão o engenheiro agrónomo António Clemente Pereira da Costa Santos (1937-2015), um homem cheio de prestígio pessoal e social, que foi administrador empresarial, presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada e secretário regional do Comércio e Indústria. Desempenhou também funções em diversas organizações da sociedade civil. Era uma excelente pessoa, sem dúvida, pelo que é recordado sempre com justificada saudade e muita consideração.
De resto, o engenheiro Costa Santos, como era mais conhecido, também teve o grande mérito, entre outros igualmente, por idênticas razões, de substituir como provedor da Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres o dr. João Bernardo de Oliveira Rodrigues (1903-1995), que levou para essa função o seu enorme prestígio como competentíssimo professor do velho Liceu Nacional de Ponta Delgada, como intelectual de vastos recursos eruditos e como dedicado investigador histórico, na senda do seu pai, o hoje um pouco injustamente esquecido historiador e genealogista Rodrigo Rodrigues, que deixou uma obra muito valiosa, em resultado das suas aturadas pesquisas documentais e bibliográficas realizadas durante muitos anos. Cabe aqui dizer, já agora, que Rodrigo Rodrigues foi, em grande medida, o “mestre” intelectual do também notável investigador histórico Hugo Moreira, que publicou trabalhos do maior interesse, entre muitos outros, sobre o culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Carlos Faria e Maia, com todo o respeito que merece e lhe é devido, fez tudo o que soube e que pôde como provedor da Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres, mas, em minha opinião, deve deixar o cargo em tempo oportuno, para efeitos de renovação. Seria um bom serviço prestado ao secular culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, depois de outros bons préstimos já cumpridos ao longo de vários anos, em alguns momentos certamente com custos pessoais.
A nomeação em Julho de 2023 de um novo reitor para o Santuário/Convento de Nossa Senhora da Esperança, onde se guarda a bela imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, representou um oportuno “virar de página” nessa importante instituição religiosa micaelense, açoriana e portuguesa, por acertada decisão do bispo da Diocese de Angra (na prática, Diocese dos Açores), D. Armando Esteves Domingues. O cónego Manuel Carlos Sousa Alves é um prestigiado membro do clero, é muito discreto na sua actuação e já mostrou que sabe o que quer e para onde pretende ir como reitor, com competência, lucidez e serenidade. Esse “virar de página” no culto em referência ficaria completo com uma renovação também no cargo de provedor da Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres. As pessoas não se devem eternizar nos cargos. A renovação faz parte da vida, traz novas formas de atuação, representa maiores energias, quebra com vícios eventualmente instalados e permite a entrada de “ar fresco”, o que é sempre positivo em qualquer sector e em qualquer instituição.
A Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres tem muitos membros. Entre eles há pessoas vocacionadas e preparadas para assumir a função de provedor, para continuar todo o trabalho positivo até agora realizado por sucessivos provedores, ao longo de muitos anos, na fidelidade a uma tradição e a um culto que vêm desde 1700, sendo tão acarinhados pelos açorianos e não só.
Não isento de algumas críticas, mas também só quem não faz fica isento de críticas, Carlos Faria e Maia deu um contributo muito válido para o culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. Penso, no entanto, que deve retirar-se, repito, para permitir uma maior renovação no domínio em análise, renovação iniciada, como já referi, com a nomeação para reitor do cónego e intelectual Manuel Carlos Alves, animado que está com os novos “ares” trazidos pelo Papa Francisco, que em nada colocam em causa os princípios de sempre do Cristianismo, antes valorizam a missão de séculos da Igreja Católica, num percurso com altos e baixos, envolvendo alguns erros e equívocos, com certeza que sim, mas estando sempre intacto o essencial, que é pugnar por uma humanidade cada vez mais feliz e mais fraterna.
As funções e as responsabilidades do reitor e do provedor são, obviamente, de natureza diferente, como todos compreendem, estando unidos, no entanto, pelo objectivo de promover e defender o culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. O reitor integra a estrutura da Igreja Católica e tem responsabilidades religiosas e administrativas no Santuário/Convento de Nossa Senhora da Esperança. A Irmandade, da qual o provedor é o principal rosto, é uma associação de fiéis que possui personalidade jurídica tanto canónica como civil, tendo por principais objetivos promover actos de culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres sob supervisão do clero, ordenar actividades festivas profanas e praticar solidariedade social. Ouve-se dizer que ao longo do tempo houve reitores e provedores que se deram melhor do que outros, mas a verdade é que o reitor, pela natureza própria das coisas, é que é a autoridade no Santuário/Convento de Nossa Senhora da Esperança e no culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, pelo que todos lhe devem obediência, o que não está em causa, de modo algum, obviamente, neste momento.
Por último, e sem desconsideração por ninguém, deixo uma palavra de justíssima homenagem à memória a todos os títulos ilustre de monsenhor Agostinho Tavares (1930-2015), que foi reitor do Santuário/Convento de Nossa Senhora da Esperança. Pela sua personalidade e pela sua actuação, parece que ele ajudou a abrir caminho para os novos “ares” que o Papa Francisco trouxe à Igreja Católica e ao mundo em geral. Monsenhor Agostinho Tavares protagonizou, efetivamente, uma Igreja Católica aberta, acolhedora de todos e unificadora de uma sociedade com tantos problemas e fracturas. A sua palavra culta, esclarecida e eloquente enchia os corações de esperança e de confiança. Ao longo da sua vida e nas várias funções que desempenhou como membro do clero, ele foi sempre um exemplo de renovação, procurando os melhores caminhos para ir ao encontro das pessoas concretas, dos seus sucessos ou das suas infelicidades. Todos lhe ficámos a dever muito. Eu diria até – penso que sem exagero – que o culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres foi uma coisa antes dele e é uma coisa de algum modo diferente depois dele, para melhor, como é óbvio, na linha em que, silenciosamente mas inteligentemente, soube reforçar o sentido de humanidade do culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, envolvendo mais e aproximando mais as pessoas concretas, que ali encontram um bálsamo para os problemas e para as dores da vida, que todos têm e sentem, de uma maneira ou de outra. Em 19 anos como reitor, monsenhor Agostinho Tavares valorizou ainda mais o culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, tanto no plano essencialmente religioso como no sentido de transformar o Santuário/Convento num espaço solidário de acolhimento, com o significado mais vasto e abrangente, em que todos entram para expressar a sua fé e trazem um sinal de esperança em melhores dias. Monsenhor Agostinho Tavares foi um exemplo de ação positiva e de optimismo contagiante. O seu legado perdurará e não deixa ninguém indiferente.

Tomás Quental Mota Vieira

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