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Olhai para mim, Senhor! É a voz suplicante e misteriosa no interior do peregrino, que procura o Rosto do Senhor.

Antífona: – Olhai para mim Senhor, porque estou desamparado; salvai-me dos meus tormentos, libertai-me do pecado.
Salmo (24)
1-Em vós, Senhor eu confio, não me deixeis humilhado, nem se alegre quem me odeia por me ver abandonado.
2-Não me deixeis esquecido, do vosso perdão bendito, fonte de eterna clemência, mar de graças infinito!
3-O caminho da verdade, Deus ensina ao pecador: para toda a humanidade, bom e recto é o Senhor.
4-A quem vive na humildade, dá-lhe Deus a Sua mão: Deus o guia na justiça, caminho de salvação.

O Salmo (24), é o modelo de súplica individual para todo e qualquer crente na obtenção do perdão das infidelidades à Aliança e ao dom da fidelidade. A esperança suplicante, ocupa no crente um lugar de relevo, porque todo o povo de Deus, espera a realização das promessas que o Senhor nos fez, de perdoar os pecados
e de nos conduzir pelo caminho que leva até Ele.
O salmista ao rezar, confia em Deus, e pede-lhe proteção para não ser confundido pelos inimigos, e que lhe mostre o caminho da verdade, e não recorde as faltas da sua juventude.
Todo e qualquer crente fiel, sabe e reconhece, que o Senhor é bom para os que guardam a sua aliança, a sua palavra, e perdoa os pecados por maiores que sejam.
Na ascensão corporal do Ressuscitado, abriram-se para Cristo as portas do Céu, e à saída do Senhor do seu Santuário, todo o crente ao olhar-lhe, invoca a glorificação e Ressurreição do Senhor, cantando:
Quem é esse Rei da Glória, pergunta a natureza mortal tomada de espanto?
É Aquele que julgaste e condenaste. É o Senhor poderoso do grande combate. Vê e palpa as cicatrizes e repara como estão curadas. (S. Agostinho)
É neste contesto, que a geração dos que O procuram com saudosismo de fé viva, neste tempo de agora e nos de outrora, o olhar atento e sensível do peregrino,” sem medo, sem constrangimentos, sem vergonha e sem preconceitos, derrama as gotas lacrimais que se soltam, lavando e purificando a sua face humana, lubrificando-a de perdão, de amor, de justiça, razão, e fidelidade no trato de respeito mútuo na sua vida familiar e social.
Os peregrinos devotos do Senhor Santo Cristo, procuram na primeira imagem visual de seus olhares, o rosto da face ferida, ensanguentada, mas, curada, sem qualquer uso cosmético aplicado em tecido tão delicado, como é, e foi o rosto do Senhor.
Cantar Hosana, Hosana, “salva-nos, Salva-nos” filho da David, é aclamação de entoada alegre em Domingo de Ramos, (Mt.21,9), e recordada no canto do Sanctus durante a liturgia da missa.
Em plena festa da Ascensão do Senhor, a igreja celebra o Ano C, e a antífona de entrada na liturgia, está plasmada em Is (48,20). Anunciai com brados de alegria, proclamai aos confins da terra: O Senhor libertou o seu povo. Aleluia, Aleluia, Aleluia.
A festa do Senhor, convida os peregrinos devotos a abrir as portas e o olhar do coração humano, para receber o seu Senhor Santo Cristo em apoteose, cantando/rezando o (Salmo 23vers. 7-11).
Levantai, ó portas, os vossos umbrais, alteai-vos, pórticos antigos e (entrará) ou (sairá) o Rei da Glória, o Senhor forte e poderoso nas batalhas, o Senhor dos exércitos, é Ele o Rei da Glória.
A Imagem do Senhor Santo Cristo, é inesquecível à mente de qualquer ilhéu crente ou não.
É um ícone de Deus feito carne, imagem criada e trabalhada por inspiração divina, arquitetada com trato cuidado, pintada por mão humana, e por isso, considerada um auxílio espiritual aos fiéis na sua devoção e oração no quotidiano da vida, conforme citação do II Concílio do Vaticano 1965, na “Gaudium et Spes”, e porque, os ícones têm um papel pedagógico importante na formação espiritual e moral de todo o cidadão cristão, ou não.
O que a palavra transmite pelo ouvido, a pintura e a ornamentação comunica-o silenciosamente, porque a veneração dirige-se à pessoa representada, e não à peça de madeira ou à pintura.
A veneração e devoção dos ícones, está associada a sinais de respeito e a gestos codificados, porque, para pintar e criar a arte, necessita de preparação inata de leitura, meditação e ascese, aplicando as regras de composição da arte, precisadas no Concílios “de Trullo de 691” e de Niceia em 787.
O ícone pintado em mão humana, conta a lenda que, o rei de Edessa, Abgar, sendo leproso, rogou a Cristo que se dignasse curá-lo e, ao mesmo tempo, lhe desse uma imagem sua.
Em resposta, Cristo ter-lhe-ia enviado um pano, no qual teriam ficado impressos os seus traços, quando nele enxugava o rosto, chamado “Mandylion”, ou Santa Face de EDESSA, muito divulgado, identificação semelhante à cena da VI estação da via Sacra, em que a Verónica ao acompanhar Jesus, enxugou-lhe com um pano o rosto coberto de suor e sangue, que lhe escorriam pelo rosto, onde ficou impresso no pano, “véu da Verónica”, os traços do seu rosto ou sua face.
Olhar o rosto do Senhor, é atrair o reflexo do coração crente, porque os olhos na maior das vezes, traem o que se esconde no mais fundo de um ser humano, quer se trate de orgulho pessoal, quer da Misericórdia de Deus, porque, todo o olhar vale o acto.
O olhar humano, é a lâmpada do nosso corpo, e por isso, ficamos iluminados, mas, se o nosso olhar está doente, todo o nosso corpo humano, entra em trevas (Mt 6,22-23).
Actualmente, um dos sinais dos tempos, é a corrente poderosa de pensamento, que luta obstinadamente por libertar o ser humano do lastro de tradições religiosas, sociais e políticas.
Reacender a chama da fé no círio da promessa, é renascer a confiança e a esperança de tempos novos, tornando as causas da fé mais credíveis em ordem à equidade e qualidade de vida cristã nas celebrações, onde a escuta da palavra se reconcilia com o penitente no olhar da misericórdia de Deus.
No presente, a procura da identidade e felicidade humana, é notória, orientada para o desafogo individual / pessoal, porque os muitos valores foram-se perdendo ou desprendendo ao longo dos tempos, provocando consequências nefastas nos que assistem à mudança das coisas, levando-as a perder e esquecer as referências tradicionais da vida, não sabendo, como gerir as mutações, articulando o mutável com o que deve permanecer, agarrando-se desesperadamente, a qualquer sistema ideológico ou formas de religiosidade, doutrinas e cultos comuns que lhes dê segurança social, económica e religiosa.
Neste estado generalizado de mudanças, há muito de positivo, na vontade do homem continuar na procura incessante de Deus, quer na escuta quer na leitura da sua Palavra, porque o homem, faz da Palavra de Deus, o lugar onde nasce a fé.
Pela fé e com a fé, a palavra de Deus torna-se lâmpada para os nossos pés, e luz para os nossos caminhos.
É com este sentido, que a fé peregrina abre portas para caminhar pela cidade, onde o Senhor, sentado em seu trono esplendoroso, e do alto, olhará os que no seu olhar, depositarem o que de mais íntimo o coração se deixou abrir e possuir, confiando àquele que reina para sempre, a sua reconciliação, que só Deus tem o poder de pesar e medir.
A fé peregrina, não olha a diferenças sociais, porque a porta do Senhor Jesus, está sempre aberta ao acolhimento humano, porque Ele, está connosco até ao fim dos tempos: Eu sou a Porta!… Quem entrar por Mim, será salvo.
A fé, é um modo de já possuir aquilo que se espera, é um meio de conhecer realidades que não se veem. (Hb 11.1), porque, procurar a face do Senhor Deus, é exactamente isso que rezar significa, para estarmos e sentirmo-nos muito perto d’Ele, contar-lhe de coração aberto e livre, tudo o que nos preocupa em cada momento e tempo, as alegrias, as tristezas, as muitas preocupações de futuro imaginário, e ficamos à espera da sua resposta.
Jesus, não cura tudo imediatamente, Ele quer despertar a fé das pessoas através das suas curas, porque quem crê, pode ser curado, e ninguém precisa de se tornar mártir para ser uma testemunha da fé.
Há muita coisa imperfeita no mundo, mas há um imenso ponto positivo: o Espírito Santo. Todos os que creem, já o receberam, mas Ele, age também fora da igreja, porque, ser cristão significa esperança, e nela “esperança”, reside a confiança na infinidade do amor divino, porque a fé, é um caminho.
Com a ajuda do Espírito Santo, vemos tudo em grande. Percebemos a grandeza das obras mais pequenas que fizemos para Deus, e a grandeza dos pequenos erros. Um relojoeiro, com a sua lupa, vê a mais ínfima parte do mecanismo de um relógio, assim, nós vemos com a luz do Espírito Santo, cada parte da nossa pobre vida humana nas qualidades e defeitos das nossas acções.
A festa do Senhor Santo Cristo, é um tempo de grande hospitalidade festiva, ponto alto de encontro com a hierarquia dos valores humanos e sociais, onde brota a alegria das famílias no manifesto acto de receber, comunicar o tempo de saudade que faz mover circunstâncias afetivas de laços comuns, onde Deus, põe à prova o sentido acolhedor da reconciliação.
Nas festividades do Senhor Santo Cristo dos Milagres, a promessa do peregrino devoto, traz o rosto claro da manhã que se abre sobre a terra, porque a ilha inteira renasce focada no olhar esplendoroso do rosto do Senhor, em que o homem celebra, vibra e contempla o Filho de Deus Unigénito, companheiro que firma os seus passos de viandante.
Senhor, a ilha e a festa é vossa, protegei-a! Na prece mais ardente que se humilha, vereis o povo inteiro num incêndio de fé, que em tudo brilha! Senhor, quando passar o Vosso andor, enfeitado, envolvido pelo amor das gerações já mortas e das vivas, derramai sobre nós o teu olhar piedoso e consolador de pranto doloroso.

José Gaipo

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