Sabemos que a exposição a experiências ameaçadoras como uma catástrofe natural, ou um terrível acidente, como o recente incêndio que ocorreu no Hospital Divino Espírito Santo, e o consequente estado de calamidade pública, podem aumentar as situações de trauma. Contudo, não é necessário passar por uma situação extraordinariamente traumática para vivenciar o trauma.
Há pessoas que sofrem de um tipo diferente de trauma, com uma origem mais precoce, que por vezes remonta à infância, como é o caso de crianças vítimas de negligência, violência ou abuso. Essas experiências dolorosas podem deixar feridas profundas, moldar a perceção que temos de nós, do mundo e dos outros, influenciando os nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos. As experiências traumáticas de caráter interpessoal, repetitivo e múltiplo, são atualmente designadas de Trauma Complexo, enquanto termo distinto do trauma comum e da Perturbação do Stress Pós-Traumático.
Imagine uma criança que sofre abuso físico ou emocional por parte de um cuidador. Nesse tipo de situação, a sensação de perigo é constante, pois a pessoa que deveria oferecer proteção é a fonte da ameaça. O Trauma Complexo perdura no tempo, afetando o desenvolvimento da vítima.
A exposição a eventos traumáticos está associada a uma série de sintomas psicológicos, incluindo ansiedade, depressão, somatização e distorções cognitivas.
Para compreender se um acontecimento ameaçador é ou não traumático salienta-se o significado que é atribuído por quem o experiencia, que depende das representações internas e dos mecanismos de resposta ao estímulo que a pessoa tem disponíveis.
Uma vez que o Trauma Complexo tem por base as relações interpessoais pouco securizantes na infância, é fundamental que para o prevenir, a sociedade compreenda e invista na qualidade das relações ao longo do desenvolvimento.
O trauma é um grave problema de saúde pública, mas felizmente temos o conhecimento necessário para lhe responder eficazmente.
Superar o trauma é um processo desafiador, mas possível com o apoio profissional adequado. Procurar ajuda de um psicólogo com formação em trauma é fundamental.
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos.
Um conselho da Direção Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
César Duarte Soares *
- Especialista em Psicologia da Educação e em Psicologia Clínica e da Saúde