A maioria de nós gosta de pensar que somos bons em várias coisas, mas a verdade é que frequentemente superestimamos ou subestimamos as nossas capacidades em muitas áreas da vida. Num estudo de 1999, os psicólogos David Dunning e Justin Kruger identificaram um fenómeno agora conhecido como o efeito Dunning-Kruger. Depois de testarem as capacidades dos participantes numa experiência, em domínios como o raciocínio lógico e a gramática, e pedir que se autoavaliassem, descobriram que aqueles com pior desempenho pensavam que se tinham saído muito melhor do que na verdade tinha acontecido, enquanto os mais competentes subestimavam o seu desempenho em comparação com os seus pares. O efeito Dunning-Kruger revela um viés cognitivo onde os menos “sabedores” ou experientes acreditam ser mais competentes do que realmente são, enquanto os mais “sabedores” tendem a duvidar das suas capacidades. Este fenómeno ocorre porque os inexperientes não têm conhecimento suficiente para reconhecer a sua própria incompetência. Como disse Dunning, “se és incompetente, não podes saber que és incompetente”.
Por outro lado, os mais experientes entendem a complexidade dos assuntos e temas que abordam, o que os torna mais cautelosos e, às vezes, subestimam as suas capacidades. Existem múltiplos exemplos deste efeito, como o caso dos motoristas americanos, dos quais 93% acreditam ser melhores do que a média, ou no ambiente de trabalho, onde mais de 40% dos funcionários acreditam estar entre os 5% melhores.
A metacognição, ou a capacidade de refletir sobre os próprios processos de pensamento, é crucial para a competência. As pessoas menos competentes apresentam défice dessa capacidade, o que impede a autocorreção. Este efeito acaba por ser devastador, pois os indivíduos menos qualificados muitas vezes são os mais confiantes e barulhentos, enquanto os verdadeiros especialistas são mais cautelosos e silenciosos.
O acesso fácil à informação, combinado com o efeito Dunning-Kruger, amplifica a presença de vozes confiantes, mas imprecisas. Em contrapartida, os mais qualificados têm dificuldade em comunicar de maneira compreensível para o público em geral, o que muitas vezes os torna menos influentes.
Para evitar cair no efeito Dunning-Kruger, é importante cultivar a humildade e reconhecer a limitação do próprio conhecimento. É necessário um esforço consciente para ser mais incisivo e cuidadoso ao emitir opiniões. O desafio é contínuo: sempre que enfrentamos novos desafios, podemos ser incompetentes em algumas áreas sem nos apercebermos. O crescimento contínuo e a aprendizagem são essenciais para alinhar a autopercepção com a realidade. Assim, podemos reduzir o impacto desse viés e promover uma comunicação mais precisa e confiável.
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Evandro Raposo *
- Psicólogo clínico da Casa do Povo de Arrifes