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Politicamente (in)Correto

A campanha eleitoral das eleições para o Parlamento Europeu tem trazido à colação temas essenciais para os Açores, na sua relação com a Europa (seja a Europa continental sejam as componentes que enformam a ultraperiferia e garantem, efetivamente, ao “velho continente”, um amplitude geográfica, estratégica e geopolítica verdadeiramente significativa e global).
Emergem problemas candentes como as acessibilidades (com a necessidade da criação de um POSEI para os transportes com características e objetivos idênticos aos que norteiam o programa de apoio à agricultura e ao desenvolvimento rural), os rácios equilibrados de desenvolvimento e a capacidade de inclusão das regiões ultraperiféricas num sistema eleitoral mais justo, que discrimine positivamente as nove regiões e garanta a sua verdadeira e efetiva representatividade no Parlamento Europeu.
Mas surge um outro problema grave, com particular acuidade quando se fala dos Açores, em face das baixas perspetivas de colocação e rendimento que se colocam aos jovens: o abandono, puro e simples, das nossas ilhas atlânticas após a conclusão dos seus estudos superiores.
Com Bolonha, os primeiro e segundo ciclos do ensino superior ficam colados e, estatisticamente, a maioria dos estudantes opta por agrupar licenciatura e mestrado, pelo que é cada vez mais verosímil que, com 23 anos, estejam concluídos os dois primeiros ciclos. O jovem está, assim – pelo menos no que concerne à sua preparação académica específica – com ideais condições para retornar à região e emprestar a sua vontade, os seus conhecimentos recém-adquiridos, a sua disponibilidade mental e a sua capacidade profissional às ilhas de origem.
Porém, como se sabe, é cada vez menos isso que sucede. A maioria dos que regressam fá-lo, muitas vezes, alucinada pela perspetiva (que devia ser falsa mas, infelizmente, não o é frequentemente…) de uma carreira política, alicerçada na militância em juventudes partidárias e em méritos dificilmente descortináveis. Os mais dotados, com melhores médias finais na conclusão de mestrados, optam pelo prosseguimento dos estudos em estabelecimentos de ensino superior de outras localizações, e nem a perspetiva cada vez mais viável do “nomadismo digital” para, por exemplo, frequentar um curso de doutoramento, é suficientemente aliciante para regressar à base geográfica de origem.
Ou, em alternativa, são absorvidos por empresas competitivas e de dimensão internacional, iniciando carreiras profissionais em países em que o vencimento médio muito atrativo se alia, em pleno, à possibilidade de realização e progressão, e (não menos importante!), ao reconhecimento sistemático, algo que, como todos muito bem sabemos, não é prática corrente nem recorrente na esmagadora maioria das relações de trabalho estabelecidas em Portugal…
Urge repensar modelos e, sobretudo, aproveitar as oportunidades específicas da ultraperiferia europeia para criar verdadeiras bolsas de talento nos Açores.
Para identificar e despistar prematuramente os valores que, terminadas as etapas de formação académica superior, podem, efetivamente, constituir a base para o desenvolvimento e o progresso das ilhas açorianas.
Captar-lhes a vontade de iniciar carreiras profissionais interessantes, aliando essa inevitabilidade ao prazer de o conseguir fazer entre portas, transportando para a região conhecimento, visão estratégica, empenho, disponibilidade e perspetiva de futuro de médio e longo prazo.
Este percurso terá de se projetar criando programas específicos para a deteção de talento nas áreas cirurgicamente identificadas como charneira para o desenvolvimento da região, desenvolvendo programas formais que permitam aos recém-chegados a integração plena e as condições financeiras e práticas competitivas face aos desafios que os “head hunters” lhes terão certamente proposto aquando das fases finais das respetivas formações universitárias.
Na realidade, trata-se de criar estruturas de deteção de talento, verdadeiros “head hunters” regionais que, aliados à real capacidade de colocação e integração dos jovens desejosos de mostrar serviço e de colocar à disposição da região novos valores de mercado, possam cativar e motivar talento.
Bem sabemos que os Açores continuam a ter taxas gritantes e inadmissíveis de abandono e insucesso escolares, no que ao ensino secundário diz respeito.
Importa, a nível interno, jamais negligenciar esta vertente, como base de todo o sistema educativo e alicerce essencial de políticas concertadas e sustentadas de desenvolvimento de médio e longo prazos.
Mas ir mais além, aproveitar a especificidade da localização geográfica e os alguns efetivos privilégios da ultraperiferia europeia terá de obrigar os decisores e responsáveis políticos a repensar estratégias e a agregar, nesta aparente dificuldade, a oportunidade de cativar e motivar talento para o regresso às ilhas.
Os Açores não existem sem açorianos, sejam os “de sangue” sejam os que adotam estas ilhas como berço para a sua vida pessoal, social e profissional. Saibamos olhar o futuro sem apoucamentos. Tenhamos a coragem de premiar o talento, de criar condições para o seu desenvolvimento e para o seu reconhecimento.
Mesmo que isso custe a alguns conservadores de pacotilha, a região agradecerá e os novos mestres e doutores poderão, verdadeiramente, sentir-se felizes em casa.

Rui Almeida*

*Jornalista

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