O Grupo SATA tem sido notícia por razões que a opinião pública dificilmente entende.
Já não bastava a “turbulência” ocorrida no processo de privatização da Azores Airlines, eis que o assunto volta à ordem do dia, pela decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal de Ponta Delgada, suspendendo a anulação pelo Governo Regional da venda daquela companhia, dando razão à Newtour.
A deliberação do Tribunal, desvalorizada pela Secretária dos Transportes ao anunciar a interposição de recurso, tem alguma importância, sobretudo por ser conhecida quando o Grupo SATA vive uma situação anómala na época alta, por falta de aeronaves para o serviço público que lhe compete e para as ligações com as novas rotas criadas. Uma delas foi inaugurada, com pompa e circunstância, esta semana.
Não sou “expert” em coisa nenhuma. Estou, no entanto, atento ao que acontece e se afirma, e dou credibilidade aos especialistas das matérias sobre que se pronunciam.
Pedro Castro(PC) é um deles. Como consultor na área da aviação civil, há algum tempo que vem comentando a atividade do Grupo SATA. Sem contestação.
Esta semana, neste jornal1, contestou os “voos não-açorianos previstos pela Azores Airlines entre Madeira, Porto e América do Norte”, por não “ligarem os Açores ao mundo e o mundo aos Açores”.
Segundo PC a transportadora açoriana tomou uma “decisão desastrosa” por falta de “condições operacionais nem técnicas para operar esses voos”. Acrescentou também que a esse “grande buraco financeiro” segue-se outro que é o de “transportar passageiros dos Estados Unidos para Paris, Barcelona ou Milão via Ponta Delgada. Os únicos que vão ganhar alguma coisa são esses passageiros que, em época alta, vão pagar preços de saldo graças ao contribuinte português.”
Depois destas contundentes afirmações fiquei atento à cerimónia do voo inaugural Ponta Delgada-Milão-Ponta Delgada, mas senti-me defraudado. Pretenderam convencer-me de que, afinal, a Azores Airlines é uma companhia de grande dimensão, sem problemas financeiros, pois até voa para grandes destinos europeus e norte-americanos, a custos acessíveis, transportando turistas para os Açores e levando açorianos às grandes cidades europeias.
Que os políticos tenham um discurso inaugural positivo, resiliente, aceito. Mas quando alguém que conhece bem o enorme e turbulento mercado da aviação comercial se adianta àquele evento e afirma o contrário, o melhor que um político faz é ignorá-lo ou reduzi-lo à sua real dimensão.
Berta Cabral não o fez e com a sua presença aprovou a controversa decisão da SATA.
Vai, por isso, pesar sobre ela a carga negativa dos atuais problemas do Grupo SATA, a que não é estranha a demorada nomeação do novo Conselho de Administração.
Lamento que a comunicação social não tenha confrontado a Secretária Regional dos Transportes e a Administração provisória da empresa sobre temas que estão na ordem do dia. A saber: a)quais as tarifas para os destinos europeus e norte-americanos?; b) quais as estimativas de ocupação e de lucros?; c) que comentários às críticas de Pedro Castro? d) que comentário à recente posição da Comissão de Trabalhadores afirmando que a SATA “encontra-se à deriva e num completo desnorte operacional”.
O jornalista não pode ser “pé do microfone”. Tem a obrigação deontológica de disponibilizar aos destinatários todas as informações para que formem um juízo crítico sobre os acontecimentos.
- Decorreu um mês sobre o incêndio no HDES que provocou a paralisação dos cuidados de saúde diferenciados.
Os micaelenses, desde então, encontram-se numa situação de grande fragilidade, pela falta de cuidados de saúde como os anteriormente prestados, com qualidade e eficiência.
A população reconhece a precariedade dos serviços. Sabe, por exemplo que há utentes que são enviados para o Centro de Saúde da Ribeira Grande ou para o Centro da Cruz Vermelha em Ponta Delgada, enquanto outros acedem ao Hospital da Lagoa. Na Ribeira Grande o edifício encontra-se degradado, carece de novas valências e condignas instalações já prometidas, enquanto na Cruz Vermelha os espaços e os meios são também limitados.
A crítica popular reforça a opinião do médico Guilherme Figueiredo2 segundo o qual “as soluções de curto prazo para os setores mais críticos poderão ser encontradas no edifício atual, em conjunto com a total e exclusiva ocupação do “Hospital” da CUF”.
Os problemas na prestação dos cuidados de saúde em São Miguel são de tal forma graves que o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Helder Mota Filipe, considerou na passada terça-feira, que o incêndio no Hospital Divino Espírito Santo foi um “desastre” e é “um assunto nacional”, apelando à solidariedade de todos para minimizar os danos.
Passado um mês, cresce a natural desconfiança sobre a eficácia dos serviços de saúde prestados à população em instalações precárias.
Tudo isto afeta a confiança e o bem-estar das famílias e dos utentes, pelo que é urgente encontrar meios mais adequados à satisfação da melhoria dos cuidados hospitalares.
Os cidadãos e responsáveis encurtam etapas para recuperar o mais rapidamente possível os níveis de resposta atingidos pelo Serviço Regional de Saúde no HDES.
Esperava-se que o Presidente da República, sempre lesto e presente em momentos de dificuldade, se deslocasse a São Miguel para, como primeiro magistrado da Nação, avaliar as consequências da calamidade.
Tal não aconteceu. A sua ausência revela o desinteresse de Marcelo por um problema regional grave, que afeta os cidadãos destas ilhas, tão portugueses como os do continente. Por outro lado comprova que, nem mesmo nas situações mais difíceis, os problemas da ultraperiferia açoriana demovem a sensibilidade e a mentalidade centralista dos agentes políticos nacionais.
O estatuto de calamidade pública foi decretado, porque São Miguel tem o maior Hospital dos Açores encerrado e os açorianos não dispõem de cuidados de saúde convenientes e satisfatórios. Só isto bastaria para o Presidente da República já ter cá vindo. Com a sua magistratura de influência, ter-se-ia avançado mais depressa na defesa dos direitos à saúde e à vida dos mais de 137 mil que aqui residem.
1 “Diário dos Açores”,5-06-24 p.2
2 “Diário dos Açores”, 4-06-24 p.8 - José Gabriel Ávila*
*Jornalista c.p.239 A
http://escritemdia.blogspot.com