O dia em que Barack Obama subiu ao púlpito para ser apresentado como o presidente da nação mais poderosa do nosso tempo, assistimos todos a um dos momentos mais originais, históricos e icónicos das chamadas democracias ocidentais. Um negro, aparentemente surgido do anonimato, fez estremecer o orgulho supremacista branco e toda a ideologia que preconizava que tal nunca poderia suceder.
Obama, um dos melhores oradores que conheço, cidadão culto e inteligente, foi logo vítima da poderosa contrainformação, a provar que se a democracia vive do melhor, mas também tem o seu lado obscuro, tão obscuro, que não acreditamos ser possível. A ascensão de Obama ao poder foi motivo de orgulho e de fé no futuro.
Por outro lado, há um par de anos, quem assistisse ao debate Bolsonaro-Lula, faria disparar o alarme “Cuidado, a nossa democracia liberal está a arder”, devido sobretudo ao nível de decadência verbal e argumentativa que achávamos não ser possível de acontecer. Chamaram-se mutuamente de ladrão, de bandido, de descompensado, entre outros termos impróprios para um debate civilizado.
Esse tom decadente e mal-educado chegou ao debate Biden-Trump de há uns dias. Não foi mau, foi péssimo. E a questão agora não é onde estamos – porque já estamos vivendo a decadência -, mas onde acaba isso? A questão que se coloca é onde acaba a degeneração e começa a edificação?
É certo que não acabará em Paris!
Luís Soares Almeida*