Em 2003, defendi publicamente (e ficou escrito para memória futura) a necessidade de se implementar a videovigilância nos espaços públicos como forma de dissuadir a prática criminal. Volvidos vinte anos, o município de Ponta Delgada decidiu avançar com o projeto e tudo indica que brevemente será concretizado.
Depois de, em 2005, ter realizado o primeiro estudo regional à população em geral (entre os 12 anos e os 65 e mais), nos dezanove concelhos dos Açores, defendi, baseado nos indicadores prospetivos de crescimento da prevalência das dependências, e apresentei à tutela um projeto para a criação de um observatório regional das dependências. Passados 19 anos, a task-force criada para acompanhar o fenómeno das dependências na região propôs a criação do referido observatório, o qual a tutela já anuiu em criar.
Esta semana, através do programa televisivo “60 minutos”, ficámos a saber que cientistas norte-americanos estão a testar tratamentos inovadores de estimulação profunda do cérebro, através de um fio elétrico para ajudar a regular a função da dopamina, neurotransmissor que atua no sistema de recompensa e satisfação. Os resultados verificados nos voluntários intervencionados são promissores, indiciando que dentro de 20 anos a intervenção neurológica poderá vir a ser a principal forma de combate das dependências.
Na mesma semana do referido programa televisivo, tivemos acesso a mais um relatório da ONU o qual denuncia o crescimento significativo, em todo o mundo, do consumo de cocaína, haxixe, ecstasy entre outras substâncias.
O estudo regional de 2005, como o de 2010, únicos realizados até hoje à população em geral, e em todos os concelhos açorianos, não deixavam dúvidas de que era preciso atuar de forma séria, precisamente ao contrário do que foi sendo feito ao longo dos últimos anos.
Indicadores não faltaram, mas infelizmente as estratégias cingiram-se a pouco mais do que fazer de conta de que se estava a fazer alguma coisa até a situação se tornar insustentável e aquilo que no passado era demasiado vanguardista passou a ser adequado.
Apesar do tempo, talvez valha a pena reler as propostas de intervenção apresentadas em 2005 e em 2009 in Dependências e outras Violências para se concretizar o que precisa de ser feito em termos sociais enquanto a neurologia não for capaz de massificar a resposta individual.
Alberto Peixoto