Os industriais de conservas dos Açores manifestaram ontem a sua apreensão com a crise da pesca de atum na região, alertando o governo para a “morte lenta” do sector, que terá implicações na economia regional.
Num comunicado enviado ao nosso jornal, a Direcção da “Pão do Mar”, Associação de Conserveiros dos Açores, diz que “o recente comunicado da Associação de Produtores de Atum e Similares dos Açores (APASA) sobre a crise instalada no sector da pesca do atum é motivo de forte apreensão para indústria, uma vez que as debilidades no segmento da captura afectam directamente o fornecimento daquela que é a matéria-prima essencial para a indústria conserveira e que justifica a razão de ser da existência de cinco unidades industriais nos Açores exclusivamente destinadas à transformação do atum. A APASA afirma que estamos a assistir ao princípio do fim da pesca de atum nos Açores, o que consequentemente é também o princípio do fim da indústria da transformação do atum nos Açores, pois sem matéria-prima na região as unidades industriais passam a ser totalmente inviáveis”.
Centenas de empregos directos
e indirectos
O sector industrial conserveiro recorda que é responsável por centenas de postos de trabalho diretos nas ilhas de São Miguel, Terceira, São Jorge e Pico; Centenas de postos de trabalho indiretos nestas e em outras ilhas da Região, incluindo os associados à pesca; Marcas de identidade açoriana que levam as conservas açorianas ao mundo, estando presentes em mais de 40 países; Investimento fabril e tecnológico constante;
“Apesar do significativo aumento dos custos industriais, designadamente com azeite, energia, combustíveis, manutenção e transportes, a indústria conserveira aumentou o preço do Bonito regional (Skipjack) nos últimos dois anos em mais de 20%, esforço este que visou responder à crise da produção (captura), sector umbilicalmente ligado ao da transformação”, afirmam.
“Afigura-se, porém, que a indústria parece ser a única a dizer presente no apoio aos esforços e reivindicações da pesca, destinados a garantir a subsistência do sector”, acrescenta o comunicado dos industriais.
Críticas à Lotaçor
“A indústria é um pilar da economia regional, mas opera em condições absolutamente adversas. O fornecimento de proximidade de matéria-prima (atum) está em crise e luta pela sua sobrevivência; O custo da mão-de-obra é superior ao do continente; Os custos de gestão e manutenção industriais são superiores aos do continente, por virtude da incapacidade da economia regional em fornecer os serviços e materiais necessários; A Lotaçor, que constitui um elemento imprescindível à recolha e armazenamento de pescado, possui níveis de operacionalidade muito aquém do necessário e cobra as taxas mais elevadas da Península Ibérica (e mais do dobro das cobradas pela congénere madeirense)”, acusam os industriais.
A morte lenta do sector
“O Governo da Região é bem conhecedor dos factores de descompetitividade da indústria conserveira regional face à concorrência continental e europeia, sendo igualmente bem conhecedor do respectivo impacto financeiro, para cuja mitigação se encontram desenhadas e assumidas medidas que ou não são implementadas ou não são concretizadas”, sublinha a associação.
“Retomando a imagem oferecida pela APASA, estamos realmente a assistir a uma morte lenta que terá impactos relevantes na economia regional, ao nível do emprego, das exportações e da identidade da produção açoriana. Tal não acontece, porém, por falta de aviso”, concluem os industriais.