As recentes, intempestivas e inexplicáveis, declarações do Governo Regional sobre putativos obstáculos à ampliação da pista do aeroporto do Pico; vieram desencadear um fortíssimo “déjà vu”.
De facto, já em 1995, o Gabinete de Estudo do PSD produziu um documento que concluía que, “dadas as dificuldades técnicas, ambientais e financeiras, a ampliação da pista do Aeroporto do Pico não seria uma solução prática nem economicamente viável”.
Acrescentado outras pérolas como recomendando a consideração de alternativas e o uso de outras pistas de apoio em aeroportos próximos. A análise indicava que essas alternativas poderiam ser mais viáveis e menos dispendiosas do que a expansão dessa pista!
Mas o responsável pelo Gabinete de estudos do PSD reiterou, ainda forma mais explicita, aquelas teses dizendo que “não faz sentido a ampliação do Aeroporto do Pico”, pois “não é essencial ao Pico ter a sua própria pista”, dado que “no fundo o que o Pico pretende é ser uma alternativa ao Faial”,
Nessa altura, como hoje, estavam criadas as condições para que a “quimera” do aumento de pista do Pico fosse abandonada por supostos critérios técnicos e financeiros. Ontem como hoje.
Mentiras de perna muito curta que foram, inequivocamente, demonstradas pela inauguração, por Carlos César e o seu governo, da ampliação da pista para 1.745 metros de comprimento e 45 metros de largura, além de outras melhorias significativas como a construção de uma nova aerogare e a instalação de um sistema ILS e, posteriormente, o “grooving”. O Pico fazia o seu caminho.
O que possibilitou a realização de voos de e para o continente, e assim promover a abertura da “getway” do Pico, que se tem traduzindo, ao longo dos anos, num incremento de passageiros que deitou por terra os argumentos de quem queria que o Pico continuasse a ser a gaiola de ouro do futuro; tendo sido, mesmo, um dos factores decisivos para esta Ilha se tivesse tornado na terceira economia dos Açores.
Sabemos que isso doi a muita gente, mas é a vida.
Os obstáculos (que sem dúvida existem) são e sempre foram, como toda a gente sabe, apenas de caracter estritamente político, em consequência de agendas perfeitamente conhecidas para quem não ande de olhos inteiramente tapados e que foram, aliás, lapidarmente, expostas pelo político social-democrata, na citação acima mencionada.
A Assembleia Legislativa Região Autónoma dos Açores (ALRAA) aprovou, por unanimidade, a resolução nº 15/2022, por iniciativa dos deputados do PS pelo Pico e com base em estudo prévio, e que, de forma exaustiva, explicitou a indispensabilidade do aumento da pista afirmando que “o Aeroporto da Ilha do Pico é a maior infraestrutura aeroportuária totalmente detida e gerida pela Região e a única com estas características no chamado “Triangulo”, pelo que tirar o máximo proveito desta estrutura aeroportuária é, directa ou indirectamente, benéfico para todos os açorianos”.
Perguntamos, agora: andamos a brincar aos estudos e estudinhos ou o quê? Regressamos a 1995?
A primeira promessa do manifesto eleitoral do PSD/CDS/PPM para o Pico (como aliás o do PS), nas últimas eleições regionais, foi justamente o aumento de pista do Pico. Demonstrando, sem dúvidas, a importância capital e transversal que tal assunto tem para a Ilha e que não permite, agora, jogos de sombras que, apenas, descredibilizam, ainda mais, a política e os políticos.
Os tempos mudaram, e o escrutínio sobre tudo isto terá de ser total e objecto de um debate que envolva todos: governo, autarquias, partidos, associações empresarias e o indispensável grupo do aeroporto. Já várias entidades e partidos pediram, e muito bem, o texto integral do estudo. Só, assim, será possível avaliar o que fundamentou a tese peregrina de que aumentar a pista é pior do que estar quieto…
Recusamo-nos a aceitar, definitivamente, que o aumento da pista do Pico já foi. É mau demais, para todo o picaroto que se preze e que ponha os interesses da sua ilha acima de qualquer querela partidária.
Antonio Simas Santos