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509º Aniversário da Vila de Água de Pau 1515-2024

<Segmento histórico>

Quando se abrem as portas do passado o futuro pode mudar.
“Os que iam chegando foram abrindo primeiro, atalhos, veredas e até ruas. Seguiram-se as determinações do reino e com os primeiros colonos vieram um padre e alguém que riscaria ou distribuiria as ruas para que se fosse erguendo os casebres, da futura vila.
Passado o Jubileu subiram a encosta, abrindo caminho paralelo a uns «barrancos» onde passava uma ribeira de forte caudal, fixaram-se uns «ferreiros» vindos na caravela, nesse caminho que vai até uma praça onde se juntavam duas ribeiras.
Subiram desde a praça, o padre e o representante do reino pela margem direita da ribeira e num plano mais elevado decidiram construir a indispensável igreja consagrada posteriormente ao culto de Nª Sª dos Anjos.
Dali do plano alto da igreja, o povo iria ouvir o seu sino e ver sempre a sua igreja de onde estivesse localizado. A rua que ia da igreja à Praça viria a chamar-se de rua da Trindade, por ter nela sido erigida uma ermida desta devoção, anexa à casa de um dos seus moradores.
Segundo as regras de construção da vila, seria da Praça que nasceriam as outras ruas que iriam compor, primeiro o Povoado desde o século XV, depois a Freguesia em 1505 e a elevação da vila de Água de Pau em 1515.
Todavia, em 1488 já Água de Pau tinha igreja erigida pois há um documento que dá conta da existência de um capelão que dizia lá missa.
Foi cedido à igreja um Paul, nome atribuído aos terrenos que normalmente ficam por trás da igreja que permitiam sustentar a mesma com os seus padres. Passou a chamar-se Ribeira do Paul. Esta, vinha desde uma grota onde se instalaria um homem que se rodeara de muitos cães. Daí ainda hoje se chamar “Grota dos Cães”. Aquela linha de água originava-se numa nascente que se despenhava num lance alto da rocha, ficando a conhecer-se até hoje como a nascente da Ribeira do Lance.
Outros colonos seguiram, desde a Praça, pela margem da outra ribeira, ladeada por campos. Daí a terem inicialmente chamado de Ribeira dos Campos, depois Ribeira de Santiago. Seguiram-na sempre até se depararem com o salto de um bode. Salto do Bode ainda hoje tem este nome um dos acessos à Serra de Água de Pau.
Derivaram para a esquerda, caminhando ao lado do curso da Ribeira dos Campos entraram pelo Caminho da Vila (nome adotado posteriormente) até onde se despenhava do alto a ribeira em grosso caudal dando azo a que alguns moleiros erguessem ali moinhos.
A terra cresceu e o povo também com os recursos que a mesma lhes proporcionava, desde terras férteis e ricos recursos hídricos. O povo, os primeiros povoadores usavam referências naturais para batizar áreas onde moravam ou passavam. Foi crescendo o povoado, compondo-se de umas dezenas de casebres, cobertos de colmo, negros uns, branqueados outros a cal, trepando todos por encostas que iam dando lugar a ruas, a um boqueirão, a um outeiro. A rua dos Coelhos e a rua das Limeiras dizem bem do que ali encontraram os primeiros que ali se fixaram e erigiram casa: – coelhos em debandada, e arvores de limas! Outros preferiram ficar mais próximos da sua igreja começando uma rua erguendo suas casas num Vale Verde que subia a poente da mesma. Como todas as terras no torrão natal daqueles que para ali vieram, tinham uma rua da Carreira abriram-na e dividiram-na inicialmente em quintinhas com suas casas na frente, dum lado e do outro da rua. A rua da Vila Nova dava seguimento para o Pisão, onde se tinham estabelecido alguns artífices com seus «pisões» conhecedores da arte de moer a planta do pastel para extrair uma tinta azul que era exportada para a Flandres. Antes da rua da Vila Nova subir um «pedregal» que ali existia junto a um barreiro, abriu-se uma Portela de acesso ao Porto do Vale de Cabaços (Caloura). Era uma canada íngreme que praticamente se serviam os pescadores que possuíam alguns barcos pequenos de pesca num varadouro construído a seguir à pedreira de Nª Sª dos Anjos, que começava na Portela e ia até ao porto.
A par das casas que iam aparecendo ao lado das ribeiras, entre as mesmas foram-se construindo mais moinhos de água, tal era a força do caudal. Os moinhos transformaram os moleiros nos primeiros comerciantes da terra. A sua moenda era moeda de troca com outros bens que iam aumentando o stock e variedade de produtos a negociar com o povo. Baía dos Moinhos foi o nome que viria a chamar-se depois o antigo porto de Manuel Afonso Pavão, pois era ali que iam parar as águas que tinham passado por todos os moinhos da vila.
Quando Água de Pau foi elevada a vila por alvará régio de D. Manuel I, concedido a 28 de julho de 1515 a maior propriedade que o município herdou foi o Pico do Concelho. Há volta dele e da sua saia se ergueram casas e nasceram ruas, como as ruas da boa Vista que depois mudaram-lhes para ruas do Pico de Baixo e de Cima. Na saia do Pico cresceram as ruas da Trindade, do Beco da Igreja, dos Ferreiros e a Praça Velha.
A atividade comercial dos moleiros manteve o município da Vila de Água de Pau com alguma prosperidade até ao último quartel do século XIX até a cidade de Ponta Delgada recorrer à compra dos principais moinhos, assim como das suas «penas d’água» [* medida de quantidade de água usada por cada moleiro] que permitiam a funcionalidade do moinho. O Marquês da Praia e Monforte que tinha responsabilidades governativas e depois de presidente da Câmara de Ponta Delgada, tomou esta medida porque apercebeu-se que a sua cidade não poderia crescer nem se desenvolver sem outra fonte de abastecimento d’água, porquanto a que lhes chegava das Sete Cidades não resolvia o problema.
Um inquérito industrial realizado em 1845 revela que a vila e concelho de Água de Pau tinha conhecido um período de industrialização pujante na segunda metade do século XVIII e na primeira metade do século XIX, pois, tinha 30 moinhos de água, onde ainda trabalhavam 40 operários, e tinha ainda 12 fábricas de pelames que ocupavam 30 operários, sendo que apenas 4 moinhos e 1 fábrica tinham construção datada dos anos vinte do século XIX, residindo eventualmente aqui a maior razão para que Água de Pau, apesar da sua pequenez geodemografia, se ter mantido como concelho até finais de 1853, portanto sem nunca ter sido integrada no concelho de Lagoa [Cf. Fátima Sequeira Dias, ob. cit., p. 93]. Naturalmente que se podem aventar várias razões porque tinha Água de Pau todos aqueles moinhos e fábricas de peles, razões que julgamos devem contemplar três aspetos: 1º – A grande riqueza das terras agrícolas situadas entre aquela vila e o termo da vila da Lagoa, que ainda hoje são consideradas das mais férteis da ilha e aptas ao cultivo de cereais; 2º – O pastoreio de gados nas extensas encostas da Serra de Água de Pau como fornecedora de peles; 3º – O caudal permanente e controlado por comportas do grande paul de Água de Pau, que se situava acima da igreja paroquial, e que era drenado a céu aberto por várias ruas da vila, onde, eventualmente era canalizado para os moinhos e fábricas de curtume das peles. Inédito, existem nesta vila quatro fontenários públicos a correr, há mais de cem anos, vinte e quatro horas por dia.
Parabéns Vila de Água de Pau pelo teu aniversário a 28 de julho. Sempre souberam os nossos antepassados que a nossa História merecia ser preservada, documentada, contada e recontada de geração em geração.

Roberto Medeiros

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