O turismo atingiu máximos históricos no ano passado e contribuiu para “cerca de metade do crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB)” do país.
A actividade turística gerou um contributo directo e indirceto de 33,8 mil milhões de euros para o PIB em 2023, o que corresponde a 12,7%, revela agora o INE.
Nos Açores não é conhecida, ainda, a conta satélite, mas os dados até agora disponíveis demonstram que a intensidade do contributo do turismo na economia regional deve ser ainda maior, devido aos nossos níveis de crescimento.
O sector do turismo nos Açores tem sido o nosso salva vidas, pese embora as múltiplas contrariedades, como a pandemia e a travagem da Ryanair no Inverno, para além de uma fraca promoção no último ano.
Mais de 150 milhões de euros
na hotelaria
O sector continua a expandir-se e, em 31 de Julho de 2023, estavam ativos 3.513 estabelecimentos na Região Autónoma dos Açores, mais 7,9% do que em 31 de Julho de 2022.
No ano de 2023, para a generalidade dos meios de alojamento (estabelecimentos de alojamento turístico, parques de campismo e pousadas da juventude), registaram-se 3,9 milhões de dormidas, valor superior em 15,9% ao registado no ano de 2022.
Entre janeiro de 2022 e dezembro de 2023, para a generalidade dos meios de alojamento, o registo mais elevado de dormidas, na RAA, ocorreu em Agosto de 2023 com cerca de 620,6 mil dormidas.
A distribuição das dormidas ao longo do ano foi marcada por uma forte sazonalidade, com valores mais elevados nos meses de Verão (Junho, Julho, Agosto e Setembro).
No ano de 2023, os proveitos totais na hotelaria foram de 158,6 milhões de euros e os de aposento 120,4 milhões de euros.
Relativamente a 2022, registaram-se acréscimos de 23,7% nos proveitos totais e de 25,2% nos de aposento.
PIB do turismo a subir
“O PIB do turismo aumentou 15,2% em termos nominais face a 2022 e 33,1% face ao período pré-pandemia (2019)”, aponta o Instituto Nacional de Estatística (INE) no relatório agora divulgado.
Segundo as contas do gabinete de estatística, o turismo contribuiu com 1,1 pontos percentuais para o crescimento real do PIB em 2023, que foi de 2,3%.
Em 2023, o Valor Acrescentado Bruto gerado pelo Turismo (VABGT) e o Consumo do Turismo no Território Económico (CTTE) registaram, respectivamente, aumentos nominais de 16% e 15,5%. Valores que, destaca o INE, “revelam um dinamismo superior ao da economia nacional“, dado que o VAB e o PIB nacionais cresceram 10,1% e 9,6%, respectivamente.
O gabinete de estatística detalha que “estes crescimentos consolidaram a recuperação do turismo no período pós-pandemia, após se terem observado aumentos muito intensos do VABGT e do CTTE em 2022 (69,6% e 78,1%, respetivamente)”.
“O VABGT representou 9,1% do VAB nacional em 2023 (8,6% em 2022) e o CTTE foi equivalente a 16,5% do PIB (15,6% em 2022), reforçando assim o seu peso relativo no total da economia e atingindo máximos históricos”, lê-se na estimativa da Conta Satélite do Turismo para 2023.
No panorama internacional, Portugal foi o segundo país que registou maior importância relativa da procura turística no PIB (15,6%), tendo sido apenas superado pela Islândia (17,4%).
O gabinete de estatística ressalva que “ainda só existem dados referentes a 2022 e engloba os países europeus para os quais há informação disponível (dados provisórios ou preliminares)”.
“Todos os países em análise aumentaram o peso do CTTE no PIB, traduzindo a recuperação do setor do turismo no período pós pandemia”, nota o INE.
Turismo determinante
na economia
Aplicando o Sistema Integrado de Matrizes Simétricas Input-Output2 aos principais resultados da CST, é possível determinar o impacto directo e indirecto da atividade turística na economia nacional.
Este sistema, respeitando um equilíbrio geral entre procura e oferta agregadas, representa as interconexões entre os ramos da actividade económica e permite apurar, mediante certas condições e hipóteses3, o efeito da propagação das variações da procura turística aos diversos ramos de actividade.
Estima-se que, em 2023, o consumo turístico tenha tido um contributo total (directo e indirecto) de 12,7% (33,8 mil milhões de euros) para o PIB e de 12,4% (28,7 mil milhões de euros) para o VAB da economia nacional.
Neste ano, o PIB do Turismo aumentou 15,2% em termos nominais face a 2022 e 33,1% face ao período pré-pandemia (2019).
Contudo, é importante notar que há um forte efeito preço neste período, pelo que, em volume, o PIB do Turismo deverá ter-se situado 13,5% acima dos valores de 2019.
Em termos reais, o PIB aumentou 2,3% em 2023, prolongando o ciclo de crescimento iniciado dois anos antes (5,7% em 2021 e 6,8% em 2022).
O turismo foi determinante para esta expansão, contribuindo com quase metade (1,1 p.p.) para o crescimento real do PIB em 2023 (2,3%).
Máximos históricos
Os principais agregados da CST, o CTTE e o VABGT, bem como os respetivos pesos no PIB e no VAB nacionais, refletiram a forte dinâmica do turismo nos períodos pré-pandemia, 2016 – 2019, e pós-pandemia 2022 – 2023.
Entre 2016 e 2019, o CTTE cresceu 40,0% e o seu peso no PIB aumentou 2,7 p.p.; o VABGT cresceu 35,7% e oseu peso no VAB nacional aumentou 1,2 p.p.
Esta dinâmica foi interrompida em 2020 pela pandemia, altura em que se registaram acentuados decréscimos nestas variáveis, mas que apresentam uma rápida e acentuada recuperação.
Com efeito, o CTTE e o VABGT registaram já em 2022 valores superiores aos de anos anteriores, que foram novamente superados em 2023, correspondendo a máximos históricos.
O VAB total gerado pelo turismo acompanhou a trajectória do VABGT entre 2016 e 2023. Efectivamente, a pandemia determinou uma interrupção na trajectória de crescimento destes agregados, mas desde 2022 que se assiste a uma recuperação, a um ritmo mais intenso do que no período anterior à pandemia COVID-19, verificando-se máximos históricos nos últimos dois anos.
Assim, e apesar dos dois anos de crise no sector motivados pela pandemia, entre 2016 e 2023 o VAB total gerado pelo turismo aumentou o seu peso no VAB em 2,9 p.p..
O peso do turismo no PIB também tem vindo a aumentar, verificando-se, desde 2022, um contributo directo e indirecto para o PIB superior ao que se verificou em 2019, retomando-se a trajectória de crescimento que se registava no período pré-pandemia, e a um ritmo mais intenso.
À semelhança do verificado com o VAB, também o peso do turismo no PIB nacional subiu no período 2016-2023 (+3,0 p.p.), apesar dos resultados menos favoráveis em 2020 e 2021, o que enfatiza o significativo crescimento no período pós-pandemia.
No período entre 2020 e 2023, o contributo do turismo para a evolução real do PIB da economia foi significativo.
Em 2020, primeiro ano de pandemia, o turismo foi responsável por cerca de dois terços do decréscimo do PIB nacional (-5,5 p.p. em -8,3%).
Em 2022, já em contexto de recuperação, voltou a registar uma significativa importância relativa (4,2 p.p. em 6,8%), bem como em 2023, ano em que o turismo foi responsável por cerca de metade do crescimento real do PIB (1,1 p.p. em 2,3%).
Entre 2016 e 2023, o VABGT, registou um maior dinamismo do que a economia nacional.
Com excepção dos anos atípicos da pandemia e respectiva recuperação (2020 a 2022), foi em 2017 que se tinha verificado a maior distância (12,6 p.p.) entre o crescimento do VAB nacional (4,7%) e do VABGT (17,3%), seguido de 2023 com 5,9 p.p. (com o VAB nacional e o VABGT a registarem taxas de variação de 10,1% e 16,0%, respectivamente).
Hotelaria e AL dominam 96% dos alojamentos nos Açores
Em 31 de Julho de 2023 estavam activos 3.373 estabelecimentos de hotelaria e alojamento local, refletindo um aumento homólogo de 7,6%.
A hotelaria e alojamento local concentraram 96,0% do total de estabelecimentos e 95,2% da capacidade no contexto da generalidade dos meios de alojamento existentes na RAA.
No ano de 2023, para os dois principais estabelecimentos de alojamento turístico (hotelaria e alojamento local), com 94,2% do total de dormidas em 2023, registaram-se 3,6 milhões de dormidas, valor superior em 15,0% ao registado no ano de 2022.
O mercado nacional garantiu cerca de 1,3 milhões de dormidas, correspondendo a 34,7% do total de dormidas da hotelaria e do alojamento local, e cresceu residualmente em relação ao ano anterior, enquanto as dormidas dos mercados externos foram de 2,4 milhões (65,3% do total de dormidas da hotelaria e do alojamento local) e aumentaram 24,9% face a 2022.
O registo de hóspedes atingiu cerca de 1,1 milhões, apresentando uma taxa de variação anual positiva de14,7%.
A estada média para os dois principais estabelecimentos de alojamento turístico foi de 3,18 noites (+0,2% que em 2022).
Analisando os principais mercados externos para os dois principais estabelecimentos de alojamento turístico (hotelaria e alojamento local), em 2023, os Estados Unidos da América destacou-se como principal mercado emissor com 396,4 mil dormidas (16,6% do subtotal ii – dormidas de residentes no estrangeiro no conjunto da hotelaria e alojamento local), e um crescimento homólogo de 38,6%, seguindo-se a Alemanha com 395,7 mil dormidas (16,6% do subtotal ii) e uma variação homóloga positiva de 16,0% e a Espanha com 305,8 mil dormidas (12,8% do subtotal ii) e um acréscimo homólogo de 60,5%. Os três principais mercados, no seu conjunto, deram origem a 46,1% das dormidas dos residentes no estrangeiro no conjunto da hotelaria e alojamento local.
Os mercados que apresentaram maior variação homóloga positiva foram os da Espanha (60,5%), Canadá (50,2%) e Estados Unidos da América (38,6%).
Por outro lado, os maiores decréscimos homólogos verificaram-se nos mercados da Dinamarca (-19,7%), Hungria (-3,7%) e Israel (-2,5%).
Para os dois principais estabelecimentos de alojamento turístico, verificou-se que, em 2023, as dormidas apresentaram variações homólogas positivas em todas as ilhas: Santa Maria (21,2%), São Jorge (18,3%), Flores (17,5%), São Miguel (17,5%), Pico (16,6%), Graciosa (12,2%), Faial (8,9%), Corvo (5,7%) e Terceira (4,2%).