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Peixe do meu quintal – Terra Mãe

“Durante mais de uma década, aquele centenário moinho ouviu novas vozes doutras gerações. Segredos, ou simples conversas familiares, discussões ou simples desentendimentos, tudo entrava naquelas paredes de barro e lava.”

Este ano voltaram em grandes quantidades. A cada ano que passa, aumenta o retorno de muitos que passaram a vida pela Diáspora e agora regressam para uma merecida reforma nas suas raízes, nas suas insubstituíveis origens.
As grandes vagas emigratórias dos anos setenta, está a atingir a reforma e a retornar, comprando uma casa algures, ou renovando a velha moradia dos seus ancestrais e vivendo o resto dos seus dias na pacatez açoreana. Muitos nem pensam voltar definitivamente, mas sim assegurar algo para ir voltando aos poucos, já que os filhos e, sobretudo os netos, ficaram para trás, lá longe…

Aquela era uma casa medonha…!
Um velho moinho d´água que havia sido adaptado a moradia de férias ou fim-de-semana por cerca dos anos sessenta, comprado aos locais – família pobre de moleiros – por se situar junto ao mar. Fora comprado por famílias burguesas, endinheiradas só de fama. Com esses patacos, a família moleira conseguiu pagar as despesas para emigrar. Foi quase ela por ela…
Durante mais de uma década, aquele centenário moinho ouviu novas vozes doutras gerações. Segredos, ou simples conversas familiares, discussões ou simples desentendimentos, tudo entrava naquelas paredes de barro e lava.
Passaram anos, a família continuou a crescer, aumentando diferenças testamentárias à medida que os velhos morriam. E não se entenderam, senão para vender o velho moinho da praia. Esteve anos abandonado, janelas abertas de vidros partidos pelas nortadas. O velho moinho parecia agora uma casa-fantasma. No seu telhado de barro cozido, as ervas encontraram poiso agradável e já parecia que na cabeça do velho moinho crescia forte cabeleira verde.
Posto à venda e sendo o lugar muito apelativo, alguém de fora o comprou. Um casal com 50 anos de vivência na Diáspora.
O seu trisavô fora dono daquele moinho e o vendera por seis patacos, para embarcar com a família e parcos haveres. Levou um rebanho de filhos para o Canadá. O acaso fez o resto.
Imediatamente o novo proprietário começou obras de restauração, mantendo o edifício tal como sempre esteve.
O velho moinho está feliz de novo. Ganha nova vida com descendentes dos seus originais proprietários. Tem novo telhado, novas janelas e a sua cara está sendo escovada e lavada.
O velho moinho está mais orgulhoso que nunca. Agora acolhe gente da sua gente, depois de tantos anos de abandono. A sua imponência diante do mar é desafiante. Agora sabe que a sua resiliência lhe valerá mais trezentos anos de existência. Está de pé. As suas paredes foram reforçadas pelo interior. Toda a cobertura foi renovada. As novas telhas que o cobrem são airosas e enquadram-se no cenário circundante.
O mar, ali mesmo a seus pés, sorri-lhe admirado com aquela ressurreição admirável e bela.
O velho moinho acena-lhe, sussurrando que ainda estará ali por muito, muito tempo.

(Esta pequena estória foi inspirada em factos verídicos, mas dispersos, pelo que qualquer semelhança com algum caso em particular, será pura imaginação).

José Soares*

*[email protected]

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